Por Jenilson Rodrigues.

Os filmes de suspense, de terror e principalmente as comédias sempre carregaram a responsabilidade de ter que agradar, de assustar ou fazer rir. Dificilmente é considerado bom um filme de terror que não cause medo ou uma comédia que não seja engraçada. É exatamente nesse ponto que alguns cineastas resolveram inovar. Afinal de contas, por que não criar seu próprio longa-metragem de terror e sabotá-lo você mesmo com piadas infames, tiradas sarcásticas, conexões absurdas, diálogos inimagináveis e criaturas bizarras?

Indo muito além das fracas paródias de clássicos do terror surgidas principalmente a partir dos anos 2000, esses filmes, sejam os chamados de trash ou apontados como cult, divertem, e muito, sem cumprir obrigatoriamente nenhum requisito. Seguindo o clima do #outubroarrepiante do Cinemascope, nosso #5+1 dessa semana prestigia algumas dessas obras cinematográficas protagonizadas por assassinos que de tão estranhos se tornaram adorados por muitos e contribuíram para que essas produções acabassem sendo consideradas – na opinião de muitos – boas de tão ruins. Não há mau humor que resista a estas pérolas do cinema.

Bolha Assassina (1988)

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Quem não se lembra da geleia gosmenta que caiu do céu como um meteoro e saiu engolindo pessoas na pequena cidade de Arboville? O engraçado aqui é ver como é possível dar vida a um objeto estranho que se torna um assassino sem mesmo ter uma face definida. A produção tem todos os elementos de um filme de terror dos anos 80: um casal, um cara bonzinho, um bad boy e alguns policiais, tudo sempre começa a partir daí. Aparecem até alguns cientistas dando uma explicação absurda para a origem da meleca, mas não tem jeito, o filme do diretor Chuck Russel acaba divertindo justamente por ser impossível levá-lo a sério. Especialista em criaturas esquisitas, Russel também já dirigiu um dos filmes da saga Hora do Pesadelo e a comédia O Máskara (1994). Bolha Assassina é um remake do não menos divertido filme homônimo de 1958.

Palhaços Assassinos do Espaço Sideral (1988)

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Também chamado apenas de Palhaços Assassinos, o longa-metragem do diretor Stephen Chiodo é mais um filme que se utiliza do espaço para tentar explicar a origem de coisas tão estranhas. Assim como em Bolha Assassina, uma luz corta o céu como um cometa numa pacata noite na cidade de Crescent Cove, surpreendendo um casal de jovens que namoravam dentro do carro num mirante. É claro que ao avistar a luz eles decidem que é mais interessante ir checar pessoalmente o ovni que caiu a alguns quilômetros dali do que continuarem se divertindo. Na verdade o objeto estranho era um circo bizarro vindo do espaço sideral e lotado de palhaços prontos para colocar o terror na cidade. Uma amostra das bizarrices do filme é o diálogo entre alguns personagens:
– Vamos, saiam da caminhonete, ele está vindo nos pegar!
– Não podemos, a caminhonete é alugada.
Palhaços Assassinos se tornou um dos grandes sucessos da divertida sessão Cine Trash, transmitida no Brasil pela Rede Bandeirantes de Televisão nos anos 90. É um trash movie que mistura palhaços bizarros, explosões dignas de seriados japoneses dos anos 80 e trilha sonora semelhante as dos piores jogos de videogames 16 bits.

Piranhas 2 – Assassinas Voadoras (1981)

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Para muitos esse é considerado o primeiro naufrágio de James Cameron. O diretor de Titanic já tentou renegar sua participação na continuação do clássico Piranha (1978), mas, juntamente com Ovidio G. Assonitis ele foi um dos responsáveis pela realização de um os piores filmes já feitos. Inclusive algumas fitas traziam esse lembrete acima do título, o que já é suficiente para despertar a curiosidade de quem se interessar por algo tão grotesco. Numa praia do Caribe fica localizado o Clube Elysium, onde acontece a tradicional “Festa do Peixe Frito”, numa época em que um cardume nada até a margem para desovar e esses peixes ficam vulneráveis a captura até mesmo pelas mãos dos próprios turistas que participam do evento e que fritam os peixes logo após a “caça”. Porém, dessa vez os turistas são surpreendidos pelas estranhíssimas criaturas voadoras que só atacam no pescoço, fazendo uma vítima após outra. A participação das piranhas é muito rápida, de repente se ouve um ruído de morcego misturado com rato e lá estão elas. Foram criados mais 2 filmes baseados na saga: Piranha 3D (2010) e Piranha 3DD (2012), mas vai ser bem difícil superar a “ruindade” e ao mesmo tempo a originalidade desse clássico do lado B do cinema.

Fome Animal (1992)

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Outra produção de outro grande diretor nessa lista, Fome Animal é um dos primeiros filmes de Peter Jackson. Porém, se engana quem acha que o longa é um fracasso em sua carreira, pelo contrário, Jackson conseguiu fazer um clássico do trash que agrada tanto amantes do gênero quanto pessoas que não têm o costume de assistir esse tipo de filme. Funcionários de um zoológico da Nova Zelândia vão até a Ilha da Caverna ao sul de Sumatra, em 1957, a captura de uma estranha espécie de macaco rato de Sumatra. O monstrengo é trazido para o zoológico e acidentalmente morde uma senhora (Elizbeth Mood), transmitindo uma doença que transforma pessoas em zumbis. Essa senhora é mãe de Lionel (Timothy Balme), que agora além de ter que conviver com a mãe superprotetora ainda terá que lidar com sua fome, pois ela sai comendo vários animais e mordendo pessoas, espalhando a bizarra doença.
Hilário é ver a forma com que os zumbis foram retratados no filme, alguns deles são até domesticáveis, se sentam a mesa para o jantar, sentem atração uns pelos outros, fazem sexo e procriam. Tudo muito esquisito e muito engraçado. Numa das cenas mais surreais Lionel leva o bebê zumbi para passear, uma sequência engraçadíssima e de pura arte. É impossível ficar indiferente a Fome Animal, que, se não é o melhor filme de Peter Jackson – como muitos o consideram – pelo menos figura entre os melhores. Só não é recomendado assisti-lo durante as refeições.

Biscoito Assassino (2005)

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É isso mesmo, a primeira gargalhada vem logo após ler o título, e pode acreditar, é um filme muito bom. Isso porque criar uma história tão mirabolante e conseguir fazer tudo funcionar não é pra qualquer um. O autor da proeza é o diretor Charles Band, conhecido pela produção e direção de vários filmes do lado B do terror. Uma curiosidade é que ele é pai de Alex Band, aquele mesmo da banda The Calling. Após um assalto seguido de duplo homicídio, Millard Findlemeyer (Gary Busey) tenta escapar, mas deixa para trás uma testemunha, a lindíssima Sarah Leigh (Robin Sidney) que diante da morte do pai e do irmão consegue denunciar o assassino que é condenado à morte. Depois de executado e cremado o criminoso tem suas cinzas enviadas a sua mãe que as mistura a uma massa de gengibre que vai parar nas mãos de Sarah que agora toma conta de uma padaria, e, como não poderia deixar de ser, ela prepara a massa e o assassino reencarna no formato de um biscoito pronto para fazer sua vingança. As atuações são péssimas e dignas de atores da Malhação. A criatividade dos produtores do filme não tem limites e eles conseguem dar vida a um biscoito de 20 centímetros que atira, usa facas, dirige e constrói armadilhas.

Filme além dos clichês

O Ataque dos Tomates Assassinos (1978)

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Isso sim é um clássico! Chame de terror, comédia, crítica, trash, cult ou seja lá o que for, O Ataque dos Tomates Assassinos consegue ser tudo isso ao mesmo tempo e supera qualquer rótulo, surpreendendo todas as expectativas. O diretor John de Bello ainda produziu mais dois filmes com a mesma temática, O Retorno dos Tomates Assassinos (1988) e Corra que os Tomates Assassinos Vem Aí (1991), mas ainda assim o clássico de 1978 é que se tornou algo inesquecível e um modelo para outros filmes do gênero. Através de uma experiência do governo dos EUA alguns tomates são modificados geneticamente e começam a atacar pessoas espalhando o pânico e o terror pelo país. Quando a situação fica incontrolável eis que surge uma estranha equipe encarregada de investigar a causa de tal fenômeno para tentar conter a fúria dos legumes (ou seriam frutas?). Se utilizando de clichês de filmes de ação, comédia e terror, o longa diverte do início ao fim, principalmente se o espectador não for um cinéfilo super exigente. Um diferencial de O Ataque dos Tomates Assassinos é que além da irreverência algumas piadas vêm recheadas de críticas ao estilo de vida americano, à publicidade, à política, à burocracia e tudo isso sem perder a leveza e o bom humor. É ironia na dose certa para quem gosta de se divertir e acha a piada duas vezes mais engraçada quando percebe a referência.