Domitila Gonzalez

É engraçado reparar como as animações produzidas pela Pixar foram mudando ao longo desses 30 anos. Os primeiros curtas nem tinham cara de Pixar; mais pareciam a seção de “monte sua casa” do The Sims, sabe? Aquelas coisas sem sombras, gráficos flats e sem profundidade nenhuma. Para sorte de alguns e desespero de outros, a Disney chegou junto e então a coisa explodiu. Em todo santo filme que estreia, lá estamos nós, loucos de vontade de ver – o protagonista? O peixe perdido? O personagem secundário que sempre é sensacional? Não! – o curta-metragem do começo.

E como a vida é feita de muitas histórias, vamos para o #5+1 Pixar Short que foi delicioso de ver e dificílimo de escolher!

Knick Knack

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Acredita que fizeram essa belezura em 1989, muito antes de Toy Story? Começo com ele porque é literalmente o primeiro curta da Pixar que eu tenho memória de gostar de verdade. Fala sério, eu amo aquele boneco de neve emburrado! É bacana notar como eles conseguem instaurar uma atmosfera crível em menos de 6 minutos em todos os curta-metragens. E quando vemos, ao final do filme, já estamos balançando a cabeça com os bonecos e cantarolando a musiquinha “tututu-tuturu-tu-tu-tu”. As engenhocas para escapar do globo de neve são incríveis e o final é apoteótico.

O Jogo de Geri

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Porque afinal, pra que precisamos de dois Geris se um só já dá conta do recado, não é mesmo? Estamos diante do melhor jogo de xadrez da História Mundial dos Jogos de Xadrez. Geri fez tanto sucesso que voltou em Toy Story 2 como o restaurador de brinquedos. É, minha gente, ele é o cara que costura o braço do Woody! Os movimentos são cativantes e o senhorzinho tem uma dupla personalidade que é lascada de tão boa! E então percebemos – por que não? – como a Pixar levantou sutilmente a questão da solidão. Pode até nem ter sido a proposta inicial, mas como toda obra de arte é uma obra que é passível de muitas interpretações, fica essa como mais uma percepção sobre um simples jogo de xadrez.

Porque afinal, nada como ganhar de si próprio e levar uma dentadura novinha em folha como prêmio.

Coisas de Pássaros

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Quando aquele bando de bolotas gordas e cheias de penas resolvem parar no fio para a blablação do ano, a gente já sabe que vem confusão. E já que falamos do melhor jogo de xadrez da História Mundial dos Jogos de Xadrez, apresento-lhes o pássaro azul mais carismático da história dos pássaros azuis. A moçoila é toda desengonçada, pernuda que só ela, toda pesadona! O interessante nesse caso é que nenhum personagem emite sons de uma palavra reconhecível. Mas mesmo assim a gente consegue entender que, por exemplo, quando a senhora passarinha quer se aconchegar no fio, ela manda uns “Que é isso, minha gente? Não tem problema nenhum! Para de brigar, povo, tá tudo beeem!”. Bela jogada: isso torna o curta universal. Lindimais, né?

Leia o post da coluna Oompa-Loompa sobre Passarinhos Engraçadinhos AQUI.

A Banda de Um Homem Só

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Um cara tentando descolar uma esmola de uma menina fofa, com uma parafernália multi-instrumentos pendurada nas costas. Só não pode ser mais legal do que DOIS caras tentando ganhar a atenção da menina com uma parafernália multi-instrumentos pendurada nas costas. A Pixar tem umas sacadas muito boas. Percebam como eles trabalham com dualidades: o fortão com o bumbo, o esguio com os violinos. Mike e Sulley, Woody e Buzz, passarinhos bolota e passarinha grande. E nessas construções surgem as pérolas, como a menina baixotinha e fofa que dá um nocaute musical nos marmanjos e acaba arrebatando um saco de moedas de ouro só pra ela. Bingo, não tem como não emplacar: humor e carisma na medida certa.

Quase Abduzido

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Olha, confesso que foi uma escolha difícil, mas não teve como não colocar esse aqui. Às vezes eu fico pensando: como será que surgem as ideias para os curtas? Porque uma prova de habilitação para ETs, cuja principal competência a ser testada é a capacidade de controle de botões de abdução, é algo totalmente inesperado. Mais uma vez trabalhando com dualidades, o jogo se faz rápido e de fácil entendimento. E aí, o fato de o cara não acordar, enquanto bate trocentas vezes em todas as paredes da casa dele, não importa. Porque o que a gente quer é que o examinador bolota aprove a carteira de habilitação do ET carisma.

Meu curta além dos clichês é…

 O Guarda-chuva azul

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Regina Spektor + Pixar + Guarda-chuvas coloridos = amor. Amor profundo e verdadeiro. Esse curta é genial de tão fofo! E só a Pixar podia desenvolver um roteiro tão incrível que faz com que passemos os olhos pela cidade nos primeiros segundos da animação e não identifiquemos vida alguma, além dos sapatos apressados andando pela rua. Em tempos em que contratar um cacique pra fazer a dança da chuva tá quase virando rotina, ver a cidade literalmente se alegrando por causa da água é uma coisamailinda! Isso sem falar do FOFO do Azul que cativa todo o mundo, das calhas aos cones de sinalização. E mesmo ficando todo estropiado, a gente torce por ele e faz um “oooohhh” quando ele consegue o que queria. Só amor, Pixar, só amor! É além dos clichês porque, diferentemente dos outros, é um deslocamento sutil da realidade. Coloca rapidamente o espectador numa contemplação onírica e ao mesmo tempo possível, deixando tudo mais interessante.

Leia o post da coluna Oompa-Loompa sobre O Guarda-Chuva azul AQUI.