Por Breno Bringel

A televisão é o meio de comunicação de maior alcance para as pessoas no mundo. Apesar disso, é também o meio de comunicação mais subestimado. Em tempos em que pessoas se sentem intelectualizadas apenas ao dizer que “não assistem TV”, filmes como Boa Noite e Boa Sorte nos mostram que esse meio de comunicação, quando usado com inteligência por pessoas inteligentes, pode nos surpreender.

Segundo longa dirigido por George Clooney, precedido apenas pelo mediano Confissões de Uma Mente Perigosa (Confessions of a Dangerous Mind), este filme conta a história verídica dos embates políticos entre o senador Joseph McCarthy e o jornalista Edward R. Murrow, durante o período chamado de “caça às bruxas comunistas”, na década de 1950, quando Murrow, por meio de seu programa jornalístico, desafiou o poderio do famoso senador.

Assim, ao adotar o preto e branco em sua fotografia e mesclar imagens de arquivo com cenas ficcionais, o longa assume um tom documental importante ao imprimir veracidade à narrativa, principalmente quando opta por sempre mostrar as figuras políticas históricas envolvidas, como por exemplo o senador McCarthy, por imagens reais.

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O longa também acerta ao abordar os bastidores do jornalismo da época, sobretudo o medo e insegurança daqueles que o faziam, pois sabiam que, caso se posicionassem contra a então política vigente, poderiam perder não apenas seus empregos como também sua liberdade, ao serem taxados de comunistas. Desse modo, o seu preto e branco serve também para exaltar o sufocante perigo em que os personagens estão constantemente envolvidos.

O ótimo elenco do longa, composto por vários nomes conhecidos, que vão desde Robert Downey Jr., Patricia Clarkson, o próprio George Clooney e Frank Langella, tem em David Strathairn o seu ponto alto. Strathairn, indicado ao Oscar e ganhador do prêmio de Melhor Ator no Festival de Veneza daquele ano, brilha com a sua magnífica personificação de Murrow, explorando as mais variadas nuances do personagem, como o seu jeito rápido de falar e a entonação de sua voz, sempre transmitindo também o cansaço do personagem pelos seus olhares.

Apresentando ainda um belo design de produção, com a recriação dos estúdios de TV da CBS na época, o longa, ao enfocar essa história bastante atual nos dias de hoje, nos mostra que, assim como afirma Murrow no começo da projeção, “a nossa história é resultado do que fazemos”. Desse modo, é certo que a TV já teve melhores dias, sendo dominada hoje por corporações que usam seu grande acesso para disseminar informações tendenciosas e manipular as massas. Porém, a história nos mostra que, sempre em tempos de crise, haverá homens com coragem para desafiar o que está posto e romper com as convenções.

Veja o trailer: