Chegando o dia das Crianças fiquei pensando no que mais assistia quando contava com o presente do dia 12 de Outubro. Os filmes que mais marcaram disparado foram: Esqueceram de Mim (1990), Batman (1989) e Batman – O Retorno. Tanto que até hoje junto itens desses filmes como trilhas sonoras e revistas da época do lançamento. Além, é claro, de sempre reve-los quase que anualmente. Como já escrevi um texto sobre Esqueceram de Mim para o Natal e temos textos sobre os Batmans, resolvi explorar outros títulos que sempre aparecem quando o assunto é “filmes Sessão da Tarde”.

Lembro que era um tormento esperar Vale a Pena Ver de Novo terminar para o filme começar. Eu não era muito de brincar na rua – uma por que minha mãe ficava meio tensa de me deixar ir e outra porque eu achava mais legal ver filmes. Tinha meus amigos e já perdi a tampa do dedão do pé várias vezes jogando bola no asfalto, mas não era meu forte. Inventar histórias em que o boneco do Cavaleiro dos Zodíaco estava em uma aventura junto com o Ranger Preto para derrotar o Michael Jordan do Space Jam, com meu vizinho Heider – que é meu amigo até hoje – era uma brincadeira bem mais legal.

Geralmente, quando vou escrever sobre filmes que não vejo há um tempo, eu os reassisto  para retornar as lembranças. Dessa vez, eu preferi não fazê-lo. A ideia aqui é relatar os sentimentos que ficaram após anos sem assistir a Sessão da Tarde.

O primeiro é Meu Primeiro Amor (1991). É aquele filme que, quando lembrado, já começa a tocar a trilha do filme na cabeça ou vice e versa. No caso, a música em questão é My Girl, da banda The Temptations . Nesse filme temos a história de uma garota, Vada Sultenfuss (Anna Chlumsky) filha de um agente funerário e apaixonada pelo seu professor, que passa o dia com seu amigo Thomas J. Sennett (Macaulay Culkin), um garoto alérgico a tudo.

As lembranças que tenho são de uma sensação de estar descobrindo o mundo, o primeiros sinais da puberdade e a perda da inocência. Obviamente, na época eu não tinha noção disso, muito menos sabia o que essas palavras significavam. Acho que a identificação vinha por ter as mesmas dúvidas da protagonista —mesmo eu sendo um garoto e, consequentemente, passando por mudanças diferentes em um tempo diferente.

Um que talvez tenha mais relação com o universo dos meninos seja A Cura (1995). Aqui temos dois amigos, Erik (Brad Renfro) e Dexter (Joseph Mazzello), que vivem sempre juntos. O agravante é que Dexter tem o vírus HIV e, por conta disso, tem certas limitações. Na tentativa de ajudar seu amigo, Erik passa por uma busca intensa para encontrar a cura, ao ponto de iniciarem uma viagem para algum canto dos Estados Unidos rumo ao encontro de um pesquisador que garantia te-la encontrado.

Pensando hoje, os sentimentos que esse filme desperta são de uma forte amizade e o encontro de um ideal para a vida. Como em Meu Primeiro Amor, as crianças também vivem o momento de curiosidade, mas, além disso, temos literalmente uma busca idealista pela sobrevivência. Ele me marca pela perda da ingenuidade de uma forma bem pesada (você já deve imaginar por que). Esse filme sempre passava no Dia Mundial De Combate a AIDS (1º de Dezembro) e sempre terminava com um pequeno Cleiton Lopes aos prantos na frente da TV (e minha mãe tentando me fazer parar de chorar).

Outro que  eu gostava muito de ver era Radio Flyer (1992). Nele, dois irmãos, Mike (Elijah Wood) e Bobby (Joseph Mazzello), tentam sobreviver a um padastro violento que sempre arrumava desculpas para poder castigar o mais novo. Joseph Mazzello, que também está em A CuraParque dos Dinossauros (1993), faz parte do elenco. Lembro que ficava bem tenso quando o padrasto chegava em casa e víamos apenas algumas partes do seu rosto. Fazia parte do mistério do filme.

Inspirado numa lenda local, os meninos planejam construir um avião para poderem fugir da violência. Gostava porque todo bairro tinha alguma espécie de lenda. Na rua da casa do meu avô, em que passei boa parte da minha infância, tem um lugar chamado Capão. Lá foi onde o médium Chico Xavier teve suas primeiras visões. Lembro que tinha toda uma mística em torno desse lugar e a minha cabeça infantil tornava tudo aquilo ainda maior. Na verdade, na época eu não sabia dessa informação, mas ainda assim tinha essa aura entorno do lugar.

Além disso, os personagens do filme tinham um cachorro parceiro e adoravam fazer “experiências” misturando um monte de coisas num balde de água. Coisas que eu adorava quando pequeno. Inclusive, tem uma cena com uma panela de pressão explodindo que já pensava “vão apanhar”.

Outro que me marcou muito foi Mundo Perfeito (1993). Nesse filme, um fugitivo da cadeia, Robert Haynes (Kevin Costner), usa um garoto como refém para conseguir escapar da polícia. Mas, no caminho, o fugitivo acaba se tornando amigo do pequeno. A família do garoto é Testemunha de Jeová e não permitia que ele participasse de eventos como a festa do Halloween que tem uma tradição tão forte nos Estados Unidos. Robert, então, passa a realizar os desejos do garoto comprando fantasias de Gasparzinho ou amarrando no teto do carro para simular uma montanha russa. O filme traz uma amizade um tanto quanto peculiar e aborda o sentimento de liberdade. Ele inspira um mundo sem amarras e questiona os limites entre certo e errado, o bem e o mal.

Esse foi o único da lista que revi recentemente. Nisso, fiquei pensando como um filme desse me atraiu quando moleque. Talvez seja a vontade de experimentar o mundo sem amarras e a visão ingênua de que o mundo era, ou poderia ser, um lugar perfeito. Talvez, pois, nem tudo na obra é tão feliz assim.

Por último, deixei o filme que me traumatizou de verdade: Anjo Malvado (1993). Que filme assustador para o pequeno Cleiton Lopes! Nesse tinha dois atores que estavam presentes nos filmes que eu curtia: Elijah Wood, que estava em Radio Flayer, Anjo da Guarda (1994), Day-O, um amigo de infância (1992), interpretando um garoto bonzinho e Macaulay Culkin, que estava Esqueceram de Mim, Meu Primeiro Amor e Riquinho (1994), de repente se torna uma criança má. “Como assim?!” se assustou o Cleiton criança. Morria de medo desse filme. Como pode o Kevin, que se safou dos bandidos duas vezes e salvou sua casa de ser assaltada, de repente está tentando matar pessoas?

A cena que mais me marcou foi a que a irmã mais nova dele, cai no gelo fino e fica presa. E Macaulay não fez nada para ajudar. Eu tenho uma irma mais nova e fiquei muito desesperado de ver meu herói fazer isso. Sério, foi bem traumático. Até hoje fico meio tenso quando penso nele.

Olhando todo esses filmes e principalmente seus finais, fiquei pensando que eu era uma criança bem esquisita. Tinha gostos peculiares que, provavelmente, a maioria não entendia. Mas acredito que essas obras serviram para me mostrar valores como família e amizade que carrego até os dias de hoje.

Ao mesmo tempo, por meio dessas histórias me foi apresentada a ideia de que o mundo real talvez não fosse tão maravilhoso, colorido e cheio de cachorros como o de TV Colosso, que eu assistia diariamente.

Mesmo que de forma inconsciente, na junção disso tudo, nascia ali um fã de Radiohead (risos). Brincadeira. Talvez, se não fossem esses filmes, minha visão de mundo não seria a mesma que tenho hoje. Obviamente, fatores do “mundo real” também contribuíram, mas visitar esses filmes tantas vezes me fez experimentar coisas que eu nunca viveria ou estava longe de viver.

Eu e meu afilhado, Gabriel, quando fomos assistir Homem de Ferro 3 no cinema.

Hoje tenho um afilhado de 10 anos que é tão fã de filmes quanto eu era na época. É interessante conversar com ele e perceber que esses valores, mesmo que seus filmes tenham carros que se transformam em robôs e ameaças do espaço, também estão se formando nele. Para além de toda a pirotecnia, o cinema tem feito sua parte e emprestado emoções para os pequenos para que possa levar (bons) valores para a vida em momentos tão tenebrosos como o que estamos vivendo.

 

Menções honrosas.

André – uma Foca em Minha Casa (1994)

 

O Jardim Secreto (1993)

A Malandrinha (1991)

As Aparências Enganam (1994)