A questão da forma versus conteúdo no cinema é algo tão inerente quanto a discussão que permeia as artes plásticas. O debate circunda a harmonia clássica entre o traço e a narrativa ou a dissociação entre ambas em obras vanguardistas.

Em cinema, não nos parece estranho que um filme se valha de movimentos de câmera exóticos, fotografia naturalista ou alegórica. Aceitamos interpretações de linhas brechtiana ou influenciadas por Stanislavsky, desde que o enredo tenha lógica mínima de causa e efeito. O texto deve guiar o espectador por solo seguro. Nesse caminho ele sentirá as relações orgânicas entre a psicologia dos personagens, o desenvolvimento da história e um desfecho coeso.

Cinema e Percepção Sensorial

No entanto, o cinema também se presta a jogar com a percepção sensorial desse espectador . Para isso, usa filmes que apelam à forma como sobrepujança em relação ao que se está posto no plano narratológico. Os casos mais claros remetem-nos ao surrealismo, nos anos 1920, e a obras do calibre de Um Cão Andaluz (1929) e A Concha e o Clérigo (1928). Estes e outros filmes aboliram a hierarquia narrativa para jogarem exclusivamente com a força das imagens. Estas foram obtidas a partir de recursos simples, como sobreposição e manipulação da velocidade de projeção.

Cena de A Concha e o Clérigo, filme de Germaine Dulac.

Contudo, tais produções não abrem mão inteiramente do conteúdo em prol da experiência da forma. Ao contrário, o estranhamento intencional instiga e potencializa a reação do observador frente a algo que exige dele uma postura altamente ativa. Em outras palavras, rechaça sua passividade diante do puro entretenimento.

Ao longo das décadas seguintes, essa tensão entre o que se narra e a forma como se narra abriu um caminho criativo para diversos cineastas. Suas mentes inventivas lançaram mão de recursos para levar ao grande público produtos de complexidade e mérito incontestáveis. Basta olharmos para as poéticas de Orson Welles, Roger Corman, Alfred Hitchcock, David Cronenberg ou David Lynch.

Forma, conteúdo são abordados  no curso de Introdução à Linguagem Cinematográfica, ministrado pelo professor Donny Correia. Mais informações no link abaixo.

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