Por Lìvia Fioretti

Se você tem Facebook, Twitter e/ou vive na Terra deve ter visto que houve uma revolução quanto a cerimônia do Oscar esse ano. Isso aconteceu por que apenas atores brancos foram indicados nas mais importantes categorias, pela segunda vez consecutiva. Como resposta, nasceu a hashtag #OscarSoWhite que trouxe à tona a discussão sobre a diversidade da indústria cinematográfica Hollywoodiana.

Antes de continuar, é importante explicar uma coisinha: nesse contexto, “brancos” não se refere a pessoas de raça caucasiana como um todo, mas sim “caucasianos de origem anglo saxônica” (americanos/canadenses/ingleses e por aí vai) – ou seja, segundo essa linha de pensamento todos os brasileiros são automaticamente rotulados como latinos, independente de raça.

Após diversos nomes de peso sugerirem um boicote ao evento pelo movimento #OscarSoWhite (Spike Lee, Will e Jada Pinkett-Smith, por exemplo) e da pressão sobre os ombros do anfitrião Chris Rock – que fez o discurso de abertura da cerimônia sobre racismo (se você não o conferiu na íntegra, vale a pena dar uma pesquisada, é INCRÍVEL), o board da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pelo Oscar, anunciou que pretende dobrar o número de indicações para grupos minoritários até 2020. Agora querido serelepe, você sabe o que isso significa na prática?

Vamos conferir alguns números: apenas 7% dos participantes da Academia são considerados “não brancos”, ou seja, mesmo se DOBRARMOS esse número – como propõe a instituição –  86% ainda serão representados por brancos. Das 2.947 estatuetas já entregues na premiação, apenas 121 foram levadas por grupos minoritários – desses, 10% por negros, 3% por latinos e 1.5% por asiáticos. E não pense que isso rola só no Oscar! O Screen Actors Gild, Critics Choice Award, o BAFTA e o Golden Globe não tem índices melhores já que todos indicam sempre os mesmos filmes e os mesmos profissionais. O Emmy é o pior de todos: nos últimos 16 anos entregou apenas 5 estatuetas para atores de grupos minoritários: um para America Ferrera, um para Viola Davis e três para Tony Shalhoub. Quer um pinguinho de esperança? Como o Independent Spirit Awards exclui os filmes produzidos pelos principais estúdios americanos, 26% das estatuetas foram entregues para atores de grupos étnicos minoritários (índice duas vezes maior que o Oscar e que o Screen Actors Gild).

Por mais que muitos internautas acreditam que tudo é só “mimimi”, “politicamente correto”, que “não houveram grandes atuações por negros ou latinos esse ano” ou qualquer coisa do tipo, não dá para negar que a taxa de desigualdade é ridiculamente alta e que a falta de diversidade não é apenas um problema isolado do Oscar, mas uma característica estrutural da indústria.

Você quer saber o que é ainda mais preocupante que a baixa taxa de indicações? Entre os escritores, produtores e executivos, apenas 2% são minorias. Isso quer dizer que os chefões da industria, os que criam as histórias, que as realizam e as distribuem são 98% brancos! Como podemos pensar em um cinema mais democrático assim? Para que haja uma efetiva mudança na industria cinematográfica, esse é o índice que precisa ser repensado! O mundo é tão rico de experiências e ponto de vista que não faz sentido uma indústria que movimenta bilhões anualmente ser controlada quase exclusivamente por integrantes de uma bolha cultural, econômica e social.

Obviamente, essa situação não será revertida do dia para noite, mas é fundamental que exaltemos as diferenças étnicas – e tudo o que representam – em uma forma de expressão tão representativa quanto o cinema. Devemos comemorar as vitórias de Alejandro González Iñárritu e Emmanuel Lubezki, a indicação de Ale Abreu e a constante evolução do reconhecimento de filmes estrangeiros como pequenos passos para a democratização da indústria – afinal, ela tem um papel essencial na formação da opinião de seus espectadores, da cultura mundial  e por isso, todos merecem se ver representados por ela.

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