Procure na sua memória aquele filme que você adorava quando criança, provavelmente você olhará com nostalgia, mas ao revê-lo chegará à conclusão de que não é tão bom quanto a sua memória afetiva recorda. A este efeito dá-se o nome de “Regra dos 15 anos”, que prega que antes dos quinze anos não temos muitos critérios de avaliação, assim fica fácil entender como certas atrocidades produzidas pela indústria do cinema, televisão e música fazem sucesso. Por isso, recomenda-se não revisitar obras com as quais você teve contato antes desta idade. Claro que essa regra não tem muita valia para mim, pois, assim estaria descartando obras que marcaram época e tiveram impacto em minha vida. Dois desses filmes que sobreviveram bem à regra dos quinze anos são: Brinquedo Assassino (1988) e o “clássico” A Noiva de Chucky (1988), filme que vi no cinema aos 13 anos de idade – apesar de, na época, a censura deste ser 14 anos, e por sua vez, no verso do DVD a classificação ser desaconselhável para menores de 18 anos.

Neste filme, o boneco Chucky é reconstruído e ressuscitado por Tiffany – uma “peguete” de Charles Lee Ray antes de este ser morto e transferir sua alma ao boneco – acreditando que este é o seu verdadeiro amor. Para a decepção da moça, Chucky não a pede em casamento e, como punição, Tiffany o tranca em um cercadinho para crianças até que ele mude de ideia. Chucky se vinga transferindo a alma dela para uma boneca. Agora ambos devem retornar para corpos humanos, pois, quanto mais tempo passarem como bonecos, mais aprisionados estarão neles. Para fazer a transferência precisarão de um amuleto, enterrado com o corpo de Charles Lee Ray num cemitério há quilômetros de distância, alguém que os leve até lá e sejam sacrificados no ritual.

A ideia para este filme surgiu quando o produtor David Kirschner estava em uma vídeo-locadora – Netflix de antigamente, com a diferença de que funcionava em um espaço físico e o catálogo era inteiramente de fitas VHS – e se deparou com a fita de A Noiva de Frankenstein (1935), filme em que Mary Shelley continua sua obra mais notória e leva o cientista Victor Frankenstein a cumprir o trato que fizera com sua criação: dar-lhe uma noiva – este filme toma certas liberdades, apenas no livro a criatura pede para que Victor faça uma companheira, e para existir a sequência, o monstro sobrevive ao incêndio no moinho. O clássico filme da Universal foi um lampejo para que Kirschner pensasse em dar continuidade à franquia Brinquedo Assassino e criar uma noiva para Chucky, mesmo que em momento algum nos filmes anteriores ele tenha pedido por isso. Kirschner levou esta ideia ao criador do Chucky e roteirista de todos os filmes da franquia, Don Mancini, que gostou da ideia e se prestou a escrever o roteiro.

Se pararmos para pensar, A Noiva de Chucky segue uma estrutura de comédia romântica: é aquela velha história do casal que de namorados que se encontra depois de anos separados (ele estava morto), quando se encontram ela está num relacionamento com um cara que nem sequer gosta (Damien), apenas o usa para provocar ciúmes no outro pretendente. No início o casal se odeia, mas são obrigados a passar um longo tempo juntos, unidos por algum objetivo em comum (chegar num cemitério em outra cidade para desenterrar um túmulo e pegar um amuleto), e no decorrer do filme descobrem que têm os mesmos interesses, percebendo que se amam. Soma-se a isso o batido “mal entendido” (uma série de assassinatos acontece, Jesse suspeita de Jade e vice versa, e nenhum dos dois sabe que os bonecos que eles carregam para lá e para cá estão vivos e são eles que cometeram os assassinatos). Enquanto os personagens do filme não sabem o que realmente se passa, o espectador sabe de tudo.

Da esquerda para a direita e de cima para baixo: 1) Katherine Heigl; 2) O encontro do destino. Bem, Chucky e Tiffany não se reencontraram pelo destino, mas foi o destino que colocou um policial corrupto no caminho de Tiffany e lhe entregou evidências de um crime; 3) O casal impedido de ficar junto por alguma picuinha de família, Jesse e Jade; 4) A montagem de planos ao som de uma música alto astral enquanto a protagonista feminina se maquia ou experimenta vestidos; 5) O amigo gay que dá bons conselhos; 6) A briga no meio do filme. Jesse e Jade se desentendem, pois cada um suspeita de que o outro seja um assassino; 7) Comédias românticas sempre se passam em locações agradáveis, ou pontos turísticos. Jesse e Jade se casam numa igrejinha próxima de uma atração turística, as Cataratas do Niágara; 8) Cena de sexo com algo cômico. A cena de sexo entre Chucky e Tiffany por si só já é cômica.

Para dirigir este filme que se inspirou em um clássico da Universal, o estúdio apostou no diretor Ronny Yu, que em sua terra natal, Hong Kong, dirigira Ye ban ge sheng (1995), que por sua vez é uma história de amor inspirada em O Fantasma da Ópera (1943), outro clássico da Universal. Yu se mudou para os EUA para lançar sua carreira, seu primeiro filme em Hollywood foi Guerreiros da Virtude (1997), filme que divide opiniões e que poucos conhecem hoje em dia. Ronny Yu se deu bem ao ressuscitar personagens de terror dos anos 80, como Chucky neste filme, Freddy Krueger e Jason Voorhees no filme Freddy Vs. Jason (2003), a carreira de Yu não emplacou depois deste.

Da esquerda para a direita: 1) Cartaz chinês de Ye ban ge sheng, o título pode ser traduzido como “O Amante Fantasma”; 2) Cartaz do primeiro filme americano que Ronny Yu dirigiu, Guerreiros da Virtude; 3) Ronny Yu em material de divulgação para A Noiva de Chucky; 4) Cartaz de Freddy Vs. Jason.

Desde o surgimento do personagem em 1988 ao lançamento deste em 1998, Chucky passou por algumas modificações em sua personalidade, algo que também reflete no público. No primeiro filme da franquia, Chucky quase não se manifestava, e quando o fazia era assustador, estranho; no segundo filme (1990), ele toma algumas atitudes com as quais o público não sabia como reagir, como rasurar a prova do Andy para deixa-lo de detenção, uma atitude de um trolador, além dessa cena o filme tenta trazer uma pitada de humor quando Chucky faz um comentário sobre estar preso neste corpo de boneco, e Kyle reage olhando discretamente para as suas genitálias, é o tipo de humor que eu não entendi quando criança; já no terceiro filme (1991), Chucky sempre pontua suas mortes com uma frase de efeito, além disso, o filme é um pouco mais leve do que os anteriores, uma das vítimas até morre do coração; A Noiva de Chucky traz mais desse humor negro que vimos no filme anterior, em doses maiores, mas sem deixa-lo mais leve, ele acaba sendo uma paródia de si mesmo, o que funciona muito bem num filme com nenhum pé na realidade, porque este humor acaba desenvolvendo o relacionamento entre os personagens. Porém, o mesmo não pode ser dito sobre o seu sucessor, o quanto menos se falar de O Filho de Chucky (2004), melhor. Nem todos os filmes de terror conseguem dosar bem o humor e o terror, um contraexemplo disso é a franquia Pânico, cujo terceiro filme (2000), tentou se apoiar nisso, mas falhou miseravelmente.

Além da personalidade, Chucky passou por transformações físicas, ele sempre foi reconstruído no início de cada filme das sequências – eu ainda me pergunto por que a empresa gastaria tanta mão de obra e dinheiro para reconstruir um boneco ligado a uma série de crimes, seria como se Johnny Gruelle pudesse pegar a boneca Raggedy Ann do caso de Donna e Angie, no caso Annabelle, restaurá-la e colocá-la de volta à venda – em A Noiva de Chucky o boneco é reconstruído por uma fã obcecada, usando pernas, braços, olhos de outras bonecas, costurando, grampeando, criando um visual realmente sinistro – diferente da Annabelle do filme de James Wan, que é apenas feia e repugnante, me pergunto por que não utilizaram o design original da boneca Raggedy Ann, uma vez que esta já está em domínio público – e uma reconstrução amadora.

Antes e Depois. À Esquerda: Chucky no primeiro filme da franquia Brinquedo Assassino; À Direita: Chucky no quarto filme.

A título de curiosidade, o medo associado a bonecos é chamado “automatonofobia”, o cérebro está sempre procurando reconhecer as figuras que vê, no caso de um boneco, ele reconhece os olhos, o nariz, a boca, como traços humanos, mas por mais perfeito que seja, sempre haverá aquele 1% que foge do padrão humano que sempre será reconhecido pelo cérebro humano, seja ele pertencente a um adulto ou a uma criança – minha afilhada de 1 ano de idade tem medo de um boneco do Papai Noel que tenho aqui em casa, não porque ele é feio, mas porque ela reconhece que aquilo está tentando se passar por um humano – isso explica por que as animações por captura de movimento do Robert Zemeckis não convencem, e por que a robô Sofia causa tanto calafrio.

Toda essa contextualização foi para dizer o quanto o boneco do Chucky é convincente, ele não tenta ser uma imitação de uma pessoa, ele se assume como um brinquedo assassino, e se comporta como tal. Seus movimentos estão melhores, mais fluidos, suas expressões dizem mais do que suas palavras, neste sentido o boneco realmente ganha sua alma através dos seus controladores, de sete a nove, sendo três destes apenas para os movimentos do rosto.

Da esquerda para a direita: 1) Controladores do boneco Chucky; 2) Controladores do boneco Chucky, se guiam por monitores; 3) Controlador do boneco usa um dispositivo na cabeça, que reproduz as expressões à cabeça do boneco; 4) Quatro títeres fazem o boneco Chucky se arrastar por uma superfície.

A Noiva de Chucky não seria nada sem a noiva de Chucky. Assistindo ao filme hoje fico surpreso em como Tiffany aparece na história como se fosse uma personagem já estabelecida, sem mostrar flashbacks, sem parar o filme e explicar quem é aquela mulher, o que sabemos sobre ela nos é revelado durante o filme. A atriz Jennifer Tilly nasceu em 1958, portanto ela teria 30 anos em 1988, ano em que Charles Lee Ray foi morto e transferiu sua alma ao boneco, Brad Dourif, que interpreta o Chucky, é apenas 8 anos mais velho do que a atriz, portanto a idade confere, apesar de aparentar ser mais jovem do que é, Tiffany não era nenhuma mocinha inocente menor de idade quando se envolveu com Chucky; De inocente ela não tem nada, já que ela se relacionava com tipos como um notório assassino que pratica vodu – sem querer desrespeitar praticantes de vodu – e sabemos que num relacionamento é ela quem dá as cartas, em meses de relacionamento com Damien é ela quem decide quando é a hora de ir pra cama com ele (não até ele matar alguém), e quando ela decide não é um sexo casual, tem direito a algemas e um ménage a trois, (um dos caras é um boneco); mas também sabemos que por trás dessa figura sexy e assassina de sangue frio existe uma mulher que deseja se casar e constituir família, e não com qualquer homem, com o verdadeiro amor de sua vida, mesmo que ele esteja morto, ela não mede esforços para subornar um policial para recuperar seus restos mortais, recosturá-lo, e aprender vodu por conta própria para poder ressuscitá-lo. O fato de ela sempre falar em sua mãe, nos diz que ela se espelha nela, e o fato de seu quarto ser decorado com bonecas (crédito para a direção de arte) me diz que sua mãe era superprotetora e a tratava com mimos. Ah, e cabe lembrar que a moça tem bom gosto para filmes, pois zapeando pelos canais, encontra A Noiva de Frankenstein e deixa neste canal. Tiffany, em sua versão boneca foi desenhada pelo produtor David Kirschner e com alguns retoques por Kevin Yagher, da equipe de efeitos especiais. É interessante ver como a boneca que Tiffany havia comprado, uma noiva comum, passa por uma maquiagem intensa e se transforma numa versão da Tiffany de carne e osso, com atenção aos detalhes, desde o cabelo oxigenado, tatuagem no seio, à pinta perto do lábio superior, nem parece ser a mesma boneca.

Da esquerda para a direita: 1) Tiffany humana sensualizando enquanto reconstrói o seu amado; 2) Tiffany humana fazendo um strip-tease para seu namorado e seu amante; 3) Tiffany dando uma boneca para o seu namorado ressuscitado; 4) Tiffany boneca toda produzida.

Em determinado momento de exposição, Chucky diz “se isto fosse um filme, precisaria de três ou quatro sequências pra fazer justiça”, isso mostra que ao mesmo tempo em que certas liberdades são tomadas (personagens são introduzidos, outros elementos como o amuleto de Dambala, e o humor negro), o filme respeita o passado, nada precisa ser mudado, e mais do que isso, ele não requer que você tenha visto às edições anteriores. Confesso que quando jovem, a cronologia Brinquedo Assassino me causava certa confusão: o primeiro foi lançado em 1988, o segundo em 1990, e o terceiro em 1991 e trazia o Andy já adolescente, no exército, como é que ele cresceu tanto assim num prazo de um ano? E o intervalo entre o lançamento do terceiro filme e A Noiva de Chucky equivale ao tempo em que os restos de Chucky ficaram no armário da polícia entre? Depois de refletir por muito tempo, perder noites de sono, cheguei à conclusão de que Tiffany é quem dá a resposta, ela diz “levei dez anos para te encontrar”, que é exatamente o tempo entre o primeiro e o quarto filme da franquia, a história da parte 3 na verdade se passa em 1998, mesmo tendo sido lançada em 1991 (por motivos mercadológicos), e A Noiva de Chucky se passa em um breve período de tempo após os eventos do filme anterior.

Referências às edições anteriores da mesma franquia não são suficientes para um filme bem sucedido comercialmente, este filme de terror com tons de humor não estaria completo sem fazer referências a cultura pop, e já faz isso logo de cara, na primeira cena vemos a máscara do Michael Myers (franquia Halloween), Jason Voorhees (franquia Sexta-Feira 13), a serra elétrica do Leatherface (franquia O Massacre Da Serra Elétrica), e a luva do Freddy Krueger (franquia A Hora do Pesadelo), todos no armário da polícia de casos não solucionados; Na sequência dos créditos iniciais, vemos os recortes de jornais sobre Charles Lee Ray, num desses jornais vê-se a data de impressão, 9 de novembro de 1988, um dia após o lançamento do primeiro filme da franquia; O ritual que Tiffany realiza para dar vida a Chucky segue as instruções do livro “Voodoo for Dummies”, “Vodu para leigos” na tradução correta – a legenda que aparece no DVD traduz como “Vudu para Bonecos”, dummies significa “bonecos”, no entanto a capa do livro é conhecida, faz parte da série “… para leigos” – eu queria chamar a atenção para um detalhe: este livro não existe, é um objeto unicamente criado para este filme, mesmo se existisse, pense no perigo que é ensinar conjurar espíritos, pense na quantidade de processos que a editora deste livro teria, pense no… ops, acabei de me lembrar de uma coisa, realmente existem livros assim, o Mercado Livre de vez em quando me sugere alguns, eu não culpo a empresa, são os algoritmos com base nas minhas pesquisas que fazem essa sugestão, meu recado é: FIQUEM LONGE DE LIVROS DESSA NATUREZA; Na cena do ménage a trois, Chucky gira sua cabeça em 180º, uma referência óbvia ao O Exorcista (1973), por sua vez, o dublador do boneco, Brad Dourif, está em O Exorcista III (1990) entregando uma performance excepcional. Neste filme, Dourif faz uma pequena referência a Brinquedo Assassino, em determinado momento, pouco antes de desmaiar, ele diz para o Tenente Kinderman “It’s child’s play, Lieutenant” (“É brincadeira de criança, Tentente”, a referência só faz sentido em inglês), e logo em seguida vemos um menino de olhos azuis e cabelo ruivo, semelhante ao boneco Chucky; A polícia encontra o corpo do namorado de Tiffany, Damien Baylock, seu nome (artístico) é a junção de dois personagens de A Profecia (1976), Damien, o garoto filho do capiroto, e a Sra. Baylock, a babá. A matéria no telejornal mostra duas fotos de Damien, uma no estilo gótico, outra aparentando ser um bom moço, as duas fotos remetem ao Marilyn Manson como o roqueiro, e sem a maquiagem e a atitude heavy metal, isso porque o personagem foi escrito tendo Manson como o intérprete; Quando Chucky e Tiffany decidem matar o Chefe Kincaid, Chucky pega um martelo de esfera, ou martelo de maquinista, Tiffany rejeita a ideia dizendo que é “previsível”, isso porque a primeira vítima que Chucky faz no primeiro Brinquedo Assassino, ele usa um martelo; Tiffany elabora uma armadilha para perfurar o rosto do Chefe Kincaid com vários pregos, Chucky comenta “Por que isso me parece tão familiar?”, os pregos no rosto fazem referência ao personagem Pinhead, da franquia Hellraiser; Já perto do final do filme, quando Tiffany está queimada, ela se arrasta até Chucky e diz, “eu te amo”, e ele responde “eu sei”, mesmo diálogo entre a Princesa Leia e Han Solo em Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca (1980), porém não tão impactante; Até mesmo o material promocional tem referência da cultura pop, o pôster faz uma paródia de Pânico 2 (1997).

Da esquerda para a direita e de cima para baixo: 1) Armário de evidências mostrando a máscara do Jason Voorhees, da franquia Sexta-Feira 13, ao lado da serra elétrica do Leatherface de O Massacre da Serra Elétrica; 2) Armário de evidências mostrando a máscara do Michael Myers da franquia Halloween, ao lado da luva do Freddy Krueger, da franquia A Hora do Pesadelo; 3) Matéria do jornal falando sobre a morte de Charles Lee Ray; 4) Zoom do recorte de jornal evidenciando a data de publicação, 9 de novembro de 1988; 5) Livro Voodoo for Dummies, embora a coleção seja verdadeira, este exemplar existe apenas neste filme; 6) Chucky vira a cabeça 180º como Regan em O Exorcista; 7) Brad Dourif em O Exorcista III dizendo “It’s child’s play, Lieutenant”; 8) Menininho ruivo em O Exorcista III que se assemelha com o boneco Chucky; 9) Boletim policial mostrando o namorado de Tiffany, Damien Baylock, com e sem maquiagem; 10) Marilyn Manson, o alter ego de Brian Bugh Warner; 11) Chucky pegando um martelo com intenção de matar o Chefe Kincaid; 12) Cena subjetiva de Chucky em Brinquedo Assassino, pegando um martelo para matar Maggie; 13) Chefe Kincaid morre com pregos no rosto; 14) Pinhead, o personagem criado por Clive Barker em Hellraiser; 15) Tiffany: Eu te amo. Chucky: Eu sei.; 16) Princesa Leia: Eu te amo. Han Solo: Eu sei.; 17) Pôster de A Noiva de Chucky; 18) Pôster de Pânico 2. A semelhança não é mera coincidência.

A música em A Noiva de Chucky é um espetáculo a parte, mas é preciso contextualizar: nos anos 1990, alguns filmes apostavam numa música tema cantada por algum artista em evidência na época, já os filmes voltados para o público adolescente apostavam numa trilha sonora diversificada, composta por várias bandas musicais do momento, particularmente eu acho que isso deixa o filme datado, mas a seleção de músicas deste filme está muito boa, logo na abertura temos Living Dead Girl do Rob Zombie, cujo clipe se inspira em O Gabinete do Dr. Caligari (1920) e é dirigido por ele próprio, nota-se que Zombie tem afinidade com o mundo do cinema, não é pra menos, ele se tornou um bom diretor de filmes de terror, ressuscitando a franquia Halloween; quando Tiffany está com o coração partido por causa de Chucky, a música que embala a cena tem uma letra familiar, trata-se de uma versão heavy metal de Crazy do Julio Iglesias, cantada pela Kidneythieves; Call Me do grupo Blondie, uma música bem popular nos anos 80, fazendo jus ao momento anos 80 do filme; Human Desease do Slayer toca bem discretamente numa cena antes do assassinato do Needle Nose; Blood Stained do Judas Priest numa cena de perseguição; tem até o Bruce Dickinson com Trumpets of Jericho; e outras músicas cuja banda eu não conhecia, mas muito boas, So Wrong, Bleed for Days, See You In Hell, mas o melhor momento é quando Chucky zapeia pelo rádio, ouve umas músicas de punk rock adolescente e comenta “A música foi para o inferno desde que eu morri”, procura mais um pouco e encontra Thuderkiss ‘65’ do White Zombie, e começa a curtir o som.

Apesar de tanta coisa boa neste filme, ele comete um erro grave: Depois que a alma de Tiffany foi transferida para a boneca, ela pesquisa naquele livro mencionado anteriormente, “Vodu para Leigos”, Chucky fala como se ele o conhecesse bem, ele diz para ela procurar no “capítulo 6, página 217”, mas quando vemos mais de perto, a página 217 corresponde ao capítulo 11. Nunca vou perdoar a produção deste filme por isto.* E por falar nisso, 217 é um número bem específico… não é um número aleatório, é o número do quarto assombrado no livro O Iluminado, do Stephen King.

A página 217 corresponde ao capítulo 11, e não ao capítulo 6 como Chucky diz.

Sem dúvida Chucky entrou para o panteão dos vilões do cinema, ele e sua noiva formam um dos casais mais icônicos da sétima arte, uma pena que esta franquia vem enfraquecendo desde então. A franquia continuou com o fraquíssimo O Filho de Chucky (2004), o bom A Maldição de Chucky (2013) e o decepcionante O Culto de Chucky (2017). Existem muitos projetos futuros atrelados a este personagem, haviam boatos sobre transformar a franquia em uma série de TV – não acredito que isto irá funcionar –, um reboot ou remake – acho que não precise – e uma parte 8 dirigida por Don Mancini – que dificilmente poderia consertar os erros cometidos na parte 7 –, a única produção confirmada entre essas três mencionadas é Child’s Play, um reboot/remake sem nenhuma participação dos envolvidos nos filmes anteriores. Minha esperança está depositada em Charles, um filme independente. Que vença o melhor filme do Chucky.

 

* Estava sendo irônico. Trata-se de um erro pequeno, que eu só percebi porque sou obcecado por este filme e já assisti quase um milhão de vezes.