Por Lívia Fioretti

Um dos motivos pelos quais me apaixonei tão intensamente pelo cinema foi o poder que tem de nos transportar para o outro lado do mundo sem sair da cadeira (mesmo clichê, é verdade). Sempre tive um grande interesse pelo Oriente Médio e por seus costumes e ambientações – o me inclina a buscar filmes que retratam tal realidade, tão diferente da nossa. Foi esse fascínio que me levou a assistir Os árabes também dançam (Aravim rokdim) – um novo olhar sobre o conflito árabe-israelense, temperado com a doçura do cineasta Eran Riklis.

Adaptado de um romance escrito por Sayed Kashua, o filme é uma coprodução israelense, francesa e alemã e narra a vida de Eyad (Tawfeek Bahrom), um menino prodígio que nasceu na aldeia árabe Tira e consegue ingressar na mais prestigiada Universidade de Jerusalém. A narrativa é dividida de acordo com o crescimento do protagonista: o primeiro ato apresenta uma crônica familiar divertida, que retrata as mudanças históricas da década de 1980 sob um ponto de vista infantil no momento em que Eyad, ainda menino, resolve uma impossível charada da televisão e se torna referência na comunidade e o orgulho de seu pai (que fora preso por sua posição política quando era jovem). Por ser de uma família humilde, ao ser aceito pela Universidade, a família investe todas suas fichas no rapaz – sem imaginar o impacto que a cultura judaico-israelense teria em sua vida.


Cinemascope - Os árabes também dança (3)

No momento em que se muda para Jerusalém, o filme passa a focar no drama do ambiente acadêmico, com direito a todas as dúvidas e dificuldades características desse período na vida de qualquer jovem. Entretanto, a maior dificuldade do protagonista se dá graças à hostilidade entre árabes e judeus, resultando em ações de bullying diretamente conectadas ao contexto cultural do filme. No terceiro ato, Eyad descobre o primeiro amor – tão proibido quanto o romance de Romeu e Julieta – com a bela Naomi (Daniel Kitsis), uma de suas colegas de classe judias e o valor da amizade, ao conhecer Yonatan (Micahel Moshonov), cuja doença degenerativa tem um papel fundamental no tom sensível e dramático do último ato – afetando especialmente a relação de Eyad com Edna (Yaël Abecassis), que leva o desfecho da obra a uma escolha arriscada (que mesmo condizente ao discurso de igualdade de identidades proposto por Riklis, peca pela falta de credibilidade).

Cinemascope - Os árabes também dança (1)

Exibido na abertura do Jerusalém Film Festival, Os árabes também dançam exalta de forma clara e bem intencionada o drama de identidades e a coexistência que permeiam o conflito, sem deixar de lado o panorama político e social. Mesmo com a reviravolta do final, o filme possui uma narrativa comum – fator que no meu ponto de vista não chega a prejudicar a experiência proposta, considerando a suavidade dos conflitos e as sensações de desconforto e surpresa que proporciona. Dono de uma estética agradável e permeado por uma trilha sonora que vai desde bandas de rock locais à Joy Division, essa é uma obra interessante para todos aqueles que buscam uma sensível viagem ao outro lado do mundo.

Veja o trailer: