Por Guilherme Franco

Considerado um dos mais importantes curtas-metragens do cinema e marco na Nouvelle Vague, o curta-metragem La Jetée ou A Pista inovou em sua época ao trazer uma fotomontagem em branco e preto sobre uma quase distópica experimentação pós-guerra nuclear. “História de um homem marcado por cenas de infância. ”

O início da história se concentra em contextualizar o espectador no espaço-tempo histórico, até que somos inseridos na história de um indivíduo (Davos Hanich) que está prestes a realizar uma experiência de viagem no tempo. Quem nos acompanha durante toda a trama é um narrador externo (Jean Négroni) que vai guiando nossos olhares e questionamentos ansiosos ao decorrer de nostalgias e impulsos do protagonista.

“O Homem não morre, não delira, ele sofre.”

Quase experimental, a obra do diretor Chris Marker coloca em dualidade o trabalho com as imagens fotografadas. Vamos seguindo com a história, alguns momentos quase que um proto stop-motion que nos dá a impressão de movimento, com fotografias que parecem casadas ao roteiro criado. Se separarmos as fotografias do som e da narração poderiam ser criadas outras possibilidades de narrativas, e a real poderia nunca ter existido para o espectador, o que traz o aspecto documental para este curta-metragem.

“…alguns se acreditavam vencedores, outros prisioneiros. ”

A parte das experiências com viagem no tempo são, talvez, uma referência que Stanley Kubrick fez alusão ao seu trabalho em Laranja Mecânica. Dessa vez, a “lavagem mental” foi um uma grande jornada à infância e ao inconsciente do protagonista. Ficamos nos questionando se tudo se tratou de um sonho ou de delírios durante um estado alterado de consciência do que no fim poderia até ser uma história de uma trama romântica: “a volta do futuro para ficar com a amada”, essa oportunidade única de refazer atos em sua vida.

No encerramento somos direcionados para a mulher (Hélène Chatelain) e ficamos com uma reflexão que abrange e se ramifica por muitos temas, como a transcendência da paixão humana, o processo cíclico do desejo humano e a utopia por um futuro mais tecnológico e seguro. Chris Marker questiona os conceitos de ficção e documental, e a possibilidade de criação de novas narrativas com a manipulação de imagens e ideologias.