Por Felipe Teixeira

Se você por algum motivo ainda não assistiu ao espetacular Gravidade (2013), longa-metragem vencedor de sete Oscar, dirigido pelo mexicano Alfonso Cuarón, corra para a loja mais próxima e compre ou alugue o Blu-Ray 3D. Caso já tenha assistido, não perca o belo curta-metragem derivado do filme, Aningaaq.

A produção, roteirizada e dirigida por Jonas Cuarón (filho de Alfonso), foi filmada na Groenlândia sob o custo de cerca de 100 mil dólares e mostra um evento paralelo ao do longa original. Quando a astronauta Ryan Stone (Sandra Bullock) sofre um acidente espacial e acaba sozinha no espaço, sua única chance de sobrevivência é conseguir se comunicar com a Terra. A aterrorizada doutora consegue captar um sinal inusitado, mas quem escuta seu pedido de socorro não é um funcionário da NASA ou um outro astronauta, e sim um esquimó de nome Aningaaq que nem fala sua língua.

A proposta de Jonas Cuarón de construir um completo contraste entre as situações vividas pela astronauta e pelo humilde habitante na Terra é inteligente e bem executada. O claustrofóbico e escuro espaço de Gravidade dá lugar à branquíssima neve e ao local de larga amplitude onde se encontra o esquimó. Da mesma forma, o desespero de Ryan, que se transforma em uma dolorosa aceitação após ela perceber que a ajuda não viria, contrasta com a tranquilidade e paciência de seu interlocutor. A diferença é ainda mais exorbitante quando percebemos que nesta parte do filme, quando a solitária personagem de Bullock chora ao expor seu medo da morte em um dos momentos mais tocantes de Gravidade, Aningaaq está com sua família reunida e nem presta atenção ao seu discurso. O curta tem ainda alguns momentos de alívio cômico gerados pelo desentendimento entre os dois personagens, como quando o homem acredita que o nome de Ryan seja mayday e até mesmo quando ele fica irritado ao não receber uma resposta dela pelo rádio (no momento em que ela desliga o oxigênio da nave e quase se suicida).

A Warner chegou a inscrever Aningaaq para concorrer ao Oscar de Melhor Curta Metragem (o que seria a primeira vez na história que duas produções paralelas disputariam prêmios), mas a produção não foi indicada. Independente disso, o curta é mais um acerto da talentosa família Cuarón, que em seus respectivos filmes souberam contar duas histórias distintas, porém relacionadas, com sensibilidade.

Veja o curta: