Por Frederico Cabala

Um caso entre tantos. J. não deve ter seu nome divulgado. É perseguido e ameaçado constantemente pela milícia que tomou conta da comunidade na qual ele preside associação de moradores, na Penha, cidade do Rio de Janeiro. O grupo criminoso impõe que J. deixe imediatamente o cargo para evitar “acidentes”. Amigos o aconselham a fazer o mesmo e fugir. J. escolhe assinar a própria via crucis. Continua no local, busca apoio nas instituições públicas e procura a imprensa. Há outro fim possível para J. que não o terror?

Eduardo Escorel conduz de modo preciso, cirúrgico, o desencadear de acontecimentos. É incisivo ao apresentar de maneira rígida a narrativa em planos congelados, só com fotografias, áudios e verbos no indicativo sobre fundo negro da tela. Assim, a bruta realidade fala por si e Escorel registra feito relatório a surdez do Estado e a imprudência da mídia em resposta aos inúmeros passos dados por J. em busca de justa proteção. No filme, os passos são marcados pela percussão de uma música de Jards Macalé, ritmo que indica também o tambor de um coração que a gente torce pra não parar.

O curta completo pode se visto no Porta Curtas.