Por Soraya Yumi

Um relacionamento em crise. Poucos minutos de pura tensão construídos sem utilizar se quer um diálogo como artifício; sem gritos, sem destruição de objetos, apenas o silêncio entre as personagens; tanto silêncio que cada som emitido dos objetos postos na mesa do café da manhã ressoam em contrapartida a respiração desesperada da mulher grávida (interpretada por Melissa Vettore). O curta-metragem consegue traduzir a agressividade de um relacionamento em crise com cenas sutis, ritmadas com a respiração desesperada da mulher, assim, cria-se uma sensação de terror psicológico que a mulher sente por estar perto de seu marido (interpretado por Rodrigo Penteado). O diretor, Flávio Frederico, transforma um evento cotidiano de um casal em uma cena pesada de puro desconforto, traz a oposta sensação que um casal deveria sentir um pelo outro. A escolha do figurino e dos objetos postos na mesa do café da manhã causam a impressão de que o fato ocorreu por volta da década de 50 ou 60, ainda mais quando observamos que o cigarro fumado pelo marido é o famoso tabaco negro francês Gauloises – que foi companheiro leal de Pablo Picasso, Jean-Paul Sartre e Albert Camus. O fato de termos a sensação de que o filme foi ambientado na década de 50 ou 60 nos faz pensar na felicidade utópica de família perfeita, mulher perfeita, homem perfeito, emprego perfeito e consequentemente leva-nos a pensar que está sendo retratada uma crítica social.

Pormenores (2000), filmado em preto e branco,  foi eleito um dos melhores do ano no Grande Prêmio Cinema Brasil e também foi um dos três finalistas do Prêmio ABC de Cinematografia, sendo vencedor em Varginha e Vitória. O diretor, Flávio Frederico, é formado em Arquitetura e Cinema pela Universidade de São Paulo (USP), já produziu outros curtas como Vencido e Todo Dia, co-produzido pela Superfilmes; seus trabalhos obtiveram sucesso na Espanha,  Itália,  Dinamarca,  Alemanha e EUA.

Veja o curta: