A menstruação já foi assunto proibido em quase todo o mundo, mas, enquanto nos países mais desenvolvidos ela já é discutida com naturalidade, nos menos desenvolvidos ainda não.

O filme Padman (2018), e o documentário Absorvendo o Tabu (2018), giram em torno da história de um homem que quebrou a barreira do preconceito e falou sobre menstruação numa pequena vila no estado de Tamil Nadu, ao sul da Índia. Ele não só falou, como inventou um conjunto de máquinas para produzir absorventes de baixo custo, que ele também desenvolveu.

O homem em questão é Arunachalam Muruganantham. Crescido em Coimbatore, sem terminar a escola, morava com sua mãe, irmãs e mulher quando teve o primeiro contato com a menstruação ao ver sua mulher esconder um pano, mas ela só disse que não era assunto pra ele.

Depois de muitas tentativas e erros, ele tentou fazer seu absorvente dar certo. Além de não funcionar, ele ainda começou a irritar a vila inteira, que não entendia essa sua obsessão pelos “assuntos femininos”, causando o abandono de sua mulher e família.

Ele descobriu que seu erro era a matéria prima. Absorventes são feitos de celulose, e não algodão. E também descobriu que para fazê-lo, ele precisaria de uma máquina enorme, e cara. Muruganantham se concentrou em entender como a máquina funcionava, construiu alguns protótipos e fez alguns testes dos absorventes. Conseguiu um resultado satisfatório, custando um quarto a menos do que as opções do mercado.

Hoje, sua visão para a empresa é criar mais de um milhão de empregos para mulheres da zona rural da Índia, proporcionando autossuficiência e independência à elas.

Padman conta essa história, floreada com todas as características de um bom filme, uma história de ascensão depois da vergonha. Escrito e dirigido por R.Balki, traz Akshay Kumar no papel principal, e Radhika Apte e Sonam Kapoor como coadjuvantes.

A direção é boa, nos momentos de maior intensidade emocional é possível ver a diferença que a câmera na mão faz, trazendo maior impacto à cena. A abertura do filme é suntuosa, com muitos takes em pane e cenários lindos, dignos dos masala movies indianos. A coloração também se diferencia em momentos que o personagem está alegre, com cores mais quentes e saturadas, para quando as coisas não vão bem para ele, deixando as cenas mais lavadas.

A montagem me deixou confusa, já que em algumas cenas os cortes são muitos bruscos, principalmente no momento que teria o intervalo nas exibições no cinema. A cena corta num enquadramento. Quando volta, é a mesma cena, porém um pouco mais deslocada.

Akshay Kumar está muito bem nesse papel, deixando de lado o ar canastrão que muitos atores indianos tem de atuar. Porém, quem parece ter pegado essa canastrice foi Radhika Apte, que não convence como par romântico de Akshay, contraste muito sentido quando comparamos com a atuação de Sonam, em um personagem trazido para dar essa tensão romântica, e que tem muito mais química com o ator principal.

O documentário Absorvendo o Tabu, teve início em um projeto numa escola americana, que arrecadou dinheiro para a implantação de uma das máquinas na vila de Hampur, a apenas 60km de distância de Nova Deli. Ele conta a história dessa implantação e como as mulheres da vila passaram a usar os absorventes, e também a ganhar seu próprio dinheiro, ganhando assim o reconhecimento dos maridos e das famílias. Veio a ganhar o Oscars de Melhor Documentário em Curta Metragem no ano de 2019 e está disponível na Netflix. Como uma boa feminista que sou, não vejo defeitos. Aliás, a única coisa que eu apontaria é ele só ter 26 minutos de duração.

Em um país onde somente 10% da população feminina usa absorventes; onde as meninas deixam as escolas pois não tem como frequentar as aulas durante o período menstrual; onde esse período é cercado de mitos, como ter os olhos arrancados se usar um absorvente, ter que dormir fora de casa para não deixar o ambiente impuro… Falar abertamente sobre menstruação partiu de um homem.

 

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