Por Joyce Pais

Tenho uma tendência assumida de acreditar que qualquer filme que envolva Amanda Seyfried já começa errado na escalação de elenco, 12 horas veio para comprovar essa tese. Na estréia de Heitor Dhalia em um filme norte americano, ter uma estrela com um nome de peso no papel principal, em termos mercadológicos, poderia ser um ponto explorado positivamente caso Seyfried conseguisse, no auge dos seus 26 anos de idade e 13 de carreira, demonstrar amadurecimento e não só mais uma atuação inverossímel (vista também em Chloe – O Preço da Traição) que não se distancia muito do que apresentou nos filmes de comédia romântica adolescente que a levaram ao estrelato.

Depois de ganhar destaque com seus primeiros e bem realizados filmes, Nina (2004), O Cheiro do Ralo (2006) e À Deriva (2009), Dhalia alcançou certa visibilidade no exterior por meio de festivais como Sundance e a mostra paralela de Cannes, Um Certo Olhar, não demorou para que produtores o chamassem para reuniões e convites para projetos em Hollywood. Depois de muitas viagens e aulas de inglês, Dhalia dirigiu pela primeira vez um roteiro que não era seu e no qual não teve liberdade alguma para modificar e/ou opinar. Segundo o próprio, em Hollywood, “o filme é do produtor”, e ele foi apenas “um matador de aluguel” nessa lucrativa cadeia de produção. E no caso de 12 horas o produtor era Tom Rosenberg, um magnata texano, nas palavras de Dhalia, “um profissional que não era do ramo e bancou o filme por puro capricho”. A instabilidade no set e os boicotes criativos afetaram nitidamente o resultado final do longa, ainda que este estivesse fadado ao fracasso nas mãos de qualquer diretor, por conter falhas em sua estrutura narrativa básica.

Colocado como um triller psicológico, 12 horas conta a saga de Jill Conway. Uma garota assombrada pelo sequestro que sofrera acredita que o recente desaparecimento de sua irmã tenha relação com o homem que a capturou, alegando a repetição do que havia ocorrido com ela. O fato é que ninguém acredita em Jill, a polícia, os amigos, o namorado da irmã, ninguém mesmo; todos acham que a garota ficou perturbada devido ao trauma que sofreu e, por isso, fantasia acerca de um possível maníaco, que além dela e de sua irmã Molly (Emily Wickersham), já teria raptado outras garotas. Assim, lutando contra todas as adversidades ela tenta juntar pistas que possam comprovar a existência do tal sequestrador.

Partindo do princípio que para se fazer um triller psicológico precisa-se, no mínimo, de um fundamento que justifique alguns porquês, como: existia alguma motivação por trás das escolhas do sequestrador? Por que a obsessão por Jill? Só porque ela conseguiu escapar e frustrar seus planos? O filme joga algumas informações, que a princípio aparentam agregar algo no decorrer da trama, mas que logo percebemos que foram inseridas apenas para forçar uma carga dramática no enredo, exemplos como o alcolismo de Molly e a pseudo tentativa de Peter Hood (Wes Bentley; Beleza Americana), um investigador novato na equipe policial, de ajudar Jill; aqui, abre-se uma breve subtrama, para, mais tarde mudar o seu curso sem mais nem menos.

Duas coisas que preciso destacar. Primeiro, que tipo de equipe de investigação policial passa um filme inteiro passiva, com a mesma cara de idiotas, chocadinhos com tudo o que acontecem a sua volta e que erram em cada passo que dão, sendo enganados por uma garota que mal consegue articular frases que tenham sentido?. Segundo, quem disse que a Katherine Moennig precisa ter o mesmo cabelo bagunçado, postura e expressão de “eu sou séria e não me afeto/importo com o que acontece a minha volta” em todos os seus trabalhos, sejam eles um seriado com temática GLS (The L Word), uma série médica (Three Rivers) ou 12 horas.

Se apoiando em clichês o tempo todo, o filme se preocupa mais em valer-se de truques baratos, como um gato saindo da escuridão e provocando um susto em Jill, do que em construir um suspense real, sendo assim, nada mais natural que o desfecho do filme seguisse a mesma linha de previsibilidade.

Heitor Dhalia atualmente se dedica ao seu novo projeto sobre Serra Pelada, que contará a saga do garimpo no Pará dos anos 1980, ao lado de sua mulher, Vera Egito, que assina o roteiro junto com ele e com Wagner Moura que além de protagonista será co-produtor.

Após a conclusão de 12 horas, Heitor Dhalia recebeu convites para outros filmes nos Estados Unidos, disse que pode voltar a trabalhar lá, não mais a “qualquer custo”. O cinema brasileiro merece e precisa do seu talento, welcome back!

 

cinemascope-12horas12 horas (Gone)

Ano: 2012

Diretor: Heitor Dhalia.

Roteiro: Allison Burnett.

Elenco Principal: Amanda Seyfried, Jennifer Carpenter, Wes Bentley, Sebastian Stan.

Gênero: Suspense

Nacionalidade: EUA.

 

 

 

Veja o trailer:

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