Por Wallacy Silva

O trailer de 2 Coelhos me enganou. O espetáculo de efeitos especiais, dinamismo e ação tinham me preparado para ver muitos efeitos especiais, muito dinamismo, e muita ação. Há quem diga que o melhor mesmo é ir ao cinema sem expectativas, mas como não esperar muito de um filme que prometia fazer algo completamente diferente do que vemos na produção nacional? E fez. Subestimei o filme, pois minhas expectativas foram superadas. Por trás dos efeitos especiais está uma boa história, e o melhor de tudo, bem contada.

Edgar (Fernando Alves Pinto) é um jovem que se revolta por estar achatado entre a criminalidade e os políticos (não menos criminosos) e resolve executar um plano mirabolante para colocar as duas esferas uma contra a outra e, dessa forma, matar dois coelhos com uma “caixa d’água” só. Pela sinopse temos a impressão de estar diante de outro Kick-Ass (Matthew Vaughn) ou Super (James Gunn) só que sem as fantasias de super-herói. Muito pelo contrário, estamos diante de algo que está muito além disso. A história é contada de maneira atemporal e vamos descobrindo, cena a cena, elementos novos, ligações novas entre os personagens e surpresas (que só surpreendem a nós, pois poucas vezes o protagonista perde o controle da situação, apesar de acharmos o contrário). O estilo me lembra muito o do diretor inglês Guy Ritchie, não só por esse jogo que vemos em Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes, ou em Snatch – Porcos e Diamantes, mas também pelos planos fechados, os jogos com a profundidade de campo e com o foco e as sutis mudanças de cores na fotografia, quem me lembram Revolver. Sem contar nos efeitos especiais, como os efeitos de câmera lenta (que pra Ritchie já é super câmera lenta) que podemos ver no mais recente trabalho do diretor inglês, Sherlock Holmes 2.

Referência é o que não falta em 2 Coelhos. O diretor brinca com os estilos cinematográficos. Um trecho sobre a história do bandido Maicom (Marat Descartes) é contada através de um pequeno sketch com imagem e música que nos lembram um filme de comédia antigo. Em outro trecho, amigos e conhecidos falam sobre Edgar no melhor estilo documentário. E brincando com a linguagem do próprio cinema nacional o diretor introduz uma cena que se passa em uma favela com um popular funk. No filme encontramos várias referências a games também, desde o sangue que espirra na câmera até a “digitalização” do personagem principal que vai para dentro de um jogo estilo GTA. O diretor faz questão de deixar claro que estamos dentro de um universo fictício, utilizando nomes de locais e de pessoas completamente inexistentes, mas não é por isso que ele deixa de tocar na ferida de algumas mazelas da nossa sociedade. O nome do deputado corrupto (Roberto Marchese) é Jader (será que te lembra alguém?). E na propaganda política da tv, exatamente antes de Jader, um palhaço, que imitava o Zacarias, pedia votos, e o narrador nos fala que ele, infelizmente, tinha sido eleito (será que te lembra outro alguém?).

Outro grande acerto do roteiro é não mudar nada drasticamente ou completamente sem motivo, mas nos preparar para as mudanças de rumo da história, e deixar diversas pistas pelo caminho. No início do filme Edgar se apresenta e nos fala sobre o que ele faz (nada de muito produtivo) e sobre as coisas que ele gostaria de fazer. Aparentemente nada o impede de fazer essas coisas, mas no fim do filme você entende a verdadeira intenção dessa fala inicial. Quando Edgar vai descrever Julia (Alessandra Negrini) as imagens mudam radicalmente para cores mais claras, a câmera faz movimentos suaves e no momento já pensamos “aí tem”. Mais adiante no filme ficamos sabendo que Edgar já cometeu um crime e não foi preso por causa da justiça brasileira que é corrupta e não funciona, e colocamos nosso herói em xeque: onde ficou a tal da justiça, afinal?

As atuações são muito sólidas e a câmera, sempre próxima dos personagens, pega os mínimos detalhes como olhares e lábios tremendo. Alessandra Negrini está ótima interpretando as crises de Júlia, que sofre de síndrome do pânico, se não me engano. A personagem chega até a lutar (literalmente) contra suas angústias, num pequeno flash de Sucker Punch – Mundo Surreal (Zack Snyder). Embora a existência do narrador possa atrapalhar na fluidez da história, ele acabou sendo uma boa saída diante da quantidade de informações para evitar que o filme ficasse muito grande. Sobre a história não falarei muito, não quero soltar nenhum spoiler grave. Mas independente de quem tenha sofrido prejuízos (criminosos, políticos ou meros transeuntes) o plano de Edgar foi feito na medida e saiu como planejado em benefício do maior prejudicado.

 

Cinemascope---2-Coelhos-Poster2 Coelhos

Ano: 2011

Diretor: Afonso Poyart.

Roteiro: Afonso Poyart.

Elenco Principal:  Alessandra Negrini, Fernando Alves Pinto, Caco Ciocler.

Gênero: Policial.

Nacionalidade: Brasil.

 

 

 

 

Veja nossa entrevista com o diretor do filme:

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Veja o trailer:

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Galeria de Fotos: