Por Wallacy Silva

É difícil para o espectador se identificar de alguma forma com Robert Miller (Richard Gere). Apresentado como um homem de negócios, nas primeiras cenas ele já aparece cedendo entrevista para uma rede de televisão e estampando a capa da revista Forbes. No aniversário do empresário parece que vamos encontrar o ponto em comum com o protagonista: a família. Ele faz um discurso falando sobre a importância da mulher e dos filhos na sua vida, mas em seguida fala que precisa ir pro escritório, e na verdade vai se encontrar com sua amante, a artista plástica Julie Côte (Laetitia Casta). Se já não havia identificação, nesse momento passamos a duvidar da palavra do personagem, com razão. O longa mostra a jornada de Miller se desdobrando para encobrir seus podres, que não são poucos.

Robert se vê pressionado por diversos fatores: os credores, a possibilidade de venda da própria empresa, a esposa (Sarandon) que tenta reconsquistá-lo, a amante que quer que ele largue a família por ela, a filha (Marling), também funcionária, que sugere que há algo de estranho na contabilidade da empresa… e além de tudo um acontecimento acaba dificultando ainda mais a vida do empresário, e ele não hesita em colocar a liberdade e integridade de outras pessoas em xeque para preservar a própria imagem. Diante desse turbilhão o protagonista enfrenta situações e vive sensações das mais diversas, e aí entra Gere demonstrando toda a sua capacidade como ator. A história é muito bem construída e quem acaba deixando uma ponta solta é Robert Miller, que se esquece de um elemento fundamental para que ele possa acabar o filme “por cima”.

Não posso deixar de citar a trilha sonora. As músicas originais são de Cliff Martinez (ex-baterista do Red Hot Chilli Peppers, responsável pela trilha de filmes como Traffic e Drive). Ainda conta com Billie Holiday e até com uns versinhos em português de “Para Machucar Meu Coração”, música de Tom Jobim, interpretada por João Gilberto e Stan Getz. Mas destaco a música dos créditos finais, “I See Who You Are”, da Björk, ótima escolha para o pós “desmascaramento” do protagonista. É de se admirar quando valorizam a relação entre canção e filme na hora da escolha da trilha (até hoje não me conformo com a música dos créditos de Enterrado Vivo, só quem viu sabe da tragédia).

A Negociação é uma ótima surpresa, principalmente pelo bom roteiro do estreante Nicholas Jarecki e pela atuação impecável de Richard Gere. Se é pouco provável que o espectador crie alguma empatia pelo anti-herói, ele pode criar pelo próprio roteiro, este enquanto instrumento de análise da insaciável ambição dos gigantes de Wall Street. O empresário chegou ao topo por ser corrupto ou se corrompeu quando chegou ao topo? O fato é que, para gente como Miller não existe topo: sempre há espaço para mais dinheiro. E a cena final não poderia ser mais acertada: vivemos em um mundo no qual a maioria dos corruptos e corruptores é saudada como se fosse digna de aplausos.

Cinemascope---A-Negociação-PosterA Negociação (Arbitrage)

Ano: 2012

Diretor: Nicholas Jarecki.

Roteiro: Nicholas Jarecki.

Elenco Principal: Richard Gere, Tim Roth, Susan Sarandon, Brit Marling.

Gênero: Drama.

Nacionalidade: EUA/Polônia.

 

 

Veja o trailer:

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