Por Thaís Lourenço

[Esse texto contém spoilers]

Apresentado no Cinema Reserva Cultural em virtude do aniversário da Queda da Bastilha dia 14 de julho, Amor, Paris e Cinema, em francês Arnaud fait son 2ème film, é literalmente como ressaltado no título original: o segundo filme do diretor e versa sobre a sua própria vida. Ele (que também é o ator principal do filme) mostra o momento difícil em que se encontra: o de tentar formar uma família aos 40 e tantos anos, escrever um segundo filme de sucesso e ter dinheiro para quitar dívidas.

O filme é dividido em capítulos que, com a intenção de ajudar a dividir as ideias, muito pelo contrário só tornam o filme mais incongruente e sem linearidade, as cenas são jogadas e cabe ao espectador (e só a ele) lutar para achar um vínculo na narrativa.

Para começar a falar sobre o filme, elucido aqui o Bechdel Test: um método criado em 1985, uma forma simples de sabermos se em determinado filme existem participações relevantes de personagens mulheres. Ele ajuda a traçar um panorama do cinema mundial sem fazer contas estatísticas e gráficos, com apenas 3 perguntas: 1- O filme tem duas ou mais mulheres nele? Essas mulheres têm nomes?; 2- Essas mulheres conversam entre si?; 3- Essa conversa é sobre qualquer coisa que não sejam homens ou interesse romântico? Se a resposta for sim para todas essas perguntas, o filme passa no teste. Nem precisamos pensar muito para descobrir que a maioria esmagadora das produções cinematográficas não são aprovadas, e é aqui que entra o novo filme de Arnaud Viard.

O problema começa quando Arnaud apresenta as mulheres da sua vida e como cada uma delas exerceu influência (para o bem e para o mal) na sua jornada. A primeira delas, sua mulher Chloé (Irène Jacob) aparece apenas para ser a “frustrada não-mãe de seus filhos” em um primeiro momento e a “realizada mãe de seus filhos” em um segundo. Irène, maravilhosa atriz que é, passa pelo chamado aging out, ou seja, atrizes reduzidas aos papéis de matronas por causa do envelhecimento.

Irène Jacob como Chloé

Encontros casuais ridículos e absurdos estampam a sua “passagem” de ciclo: do divórcio ao próximo relacionamento “sério”.

Frédérique Bel, como a personagem (sem nome) com quem tem um encontro casual

O “frescor” chega com a jovem Gabrielle (Louise Coldefy), sua aluna de teatro de apenas 21 anos. Eles acabam tendo um caso, mas ambiciosa, jovem e bonita que era, obviamente o troca pela primeira oportunidade mais rentável e de mais chance de sucesso – interesseira, né? Pelo olhar machista do diretor-ator, sim. É absolutamente desnecessária a existência desse romance, a impressão que temos é que o relacionamento existe só para que ele pudesse ter um par romântico com uma garota bonita.

Louise Coldefy como Gabrielle

Seus relacionamentos não românticos estão concentrados no núcleo familiar, que compreende sua mãe e suas três irmãs. Todas, repito, todas as mulheres desse filme são acessórios de Arnaud, servem tão somente como contraponto de seu estilo de vida e suas escolhas: suas mãe internada no hospital, com uma doença terminal, despertando sua sensibilidade e seu confronto com a fugacidade da vida; e suas irmãs disputando migalhas, com rivalidades descabidas, são apresentadas como mulheres histéricas, como contraponto à sua estabilidade emocional e desapego material.

Relegadas todas à esse papel, marginalizadas da história, as mulheres existem em função dele e de sua inteligência, capacidade e densidade psicológica. Ou seja, como na maioria dos filmes realizados por homens, trata-se de mais um que exalta os “grandes” feitos masculinos e que, na verdade, não acrescentam nada em ganho cultural ou de conhecimento do espectador.

Amor, Paris e Cinema é uma comédia pretensiosa, que reitera uma série de clichês defasados, e vai de contramão à muitas das excelentes produções francesas contemporâneas. O filme tenta, e tenta, e tenta, mas não chega à lugar nenhum a não ser um final água com açúcar e um sentimento de tempo perdido. Arnaud faz de seu filme uma ode a si mesmo e espera que aplaudamos sua realização ao final – não deu.

Estreia prometida para 24/08/2017.

Amor, Paris e Cinema (Arnaud fait son 2ème film)
Direção: Arnaud Viard
Roteiro: Arnaud Viard
Elenco principal: Arnaud Viard, Irène Jacob, Louise Coldefy, Nadine Alari, Frédérique Bel
Gênero: Comédia, Drama
Nacionalidade: França

 

 

 

Veja o Trailer:

https://www.youtube.com/watch?v=pE9L-22heh4