Por Felipe Teixeira

Nostálgico e divertido, BR 716 é aplaudido no Festival do Rio

A juventude boêmia carioca na década de 1960 é o destaque do espirituoso novo longa-metragem do consagrado diretor brasileiro Domingos Oliveira (Separações, Todas as Mulheres do Mundo). Ambientado no agitado período pré-golpe militar e inspirado em uma parte da vida do próprio Domingos, BR 716 gira em torno de uma turma de jovens de Copacabana que passa quase todo o filme embriagada em um apartamento, localizada na Rua Barata Ribeiro, número 716. Felipe (Caio Blat), o dono do local e líder do grupo, é um filhinho de papai e um frustrado escritor, que passou por um término de relacionamento recente e busca na bebida e na farra uma maneira de fugir de suas responsabilidades.

Quase todo em preto e branco, BR 716 evoca com eficiência uma atmosfera nostálgica por meio de uma trilha sonora repleta de músicas daquela época, tocadas com exaustão durante as inúmeras e divertidas festas do filme. O design de produção e o figurino dos personagens também funcionam como uma volta ao passado, mas é a direção de Domingos o que chama mais atenção e dita o tom: misturando-se aos festeiros, o diretor faz uso de lentes grande angulares (como se uma pessoa alcoolizada estivesse olhando através da câmera) e de handycam (câmera na mão) para inserir ainda mais o espectador no universo boêmio e inconsequente do longa-metragem. Há ainda o uso de depoimentos de personagens falando sobre um determinado assunto e até mesmo uma quebra da quarta parede, com os personagens olhando ou conversando com a câmera, o que por vezes confere a BR 716 um tom documental, como se tudo o que acontecesse ali estivesse sendo registrado.

E para conduzir o olhar do público no meio de tanta gente bêbada e exaltada, o carismático personagem de Blat funciona como um retrato de parte da juventude festiva daquela época: criado por pais que lhe deram tudo, sem emprego ou motivações e isolado na charmosa zona sul carioca (ele não faz ideia de onde fica Santa Cruz), Felipe torra sua grana em bebida em festas sem culpa e parece não querer saber o que fazer da vida. O roteiro lhe proporciona boas tiradas cômicas, criando um personagem com mudanças de opinião constantes, e ouvi-lo ressaltar em diversos trechos do filme que “minha vida é uma merda”  torna-se ainda mais engraçado ao notarmos de quão longe disso sua vida realmente está. Rodeado por amigos dos mais excêntricos (e sempre bêbados) ele deixa ainda mais clara sua confusão e desapreço pelas coisas quando começa a se interessar por uma mulher logo após se declarar apaixonado pela bela Gilda (Sophie Charlotte, ótima).

Contando com um elenco de peso do cinema nacional e alguns rostos desconhecidos, BR 716 – que venceu os prêmios de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz Coadjuvante (Glauce Guima) e Melhor Trilha Sonora no Festival de Gramado deste 2016 – é uma ode às festividades e uma das melhores produções nacionais deste ano. Assim como ótimo e recente Jovens, Loucos e Mais Rebeldes, também exibido no Festival do Rio, é um filme sobre os saudosos prazeres e desafios da juventude, mesmo que uma sem grandes obrigações.

brBR 716

Ano: 2016

Direção: Domingos Oliveira

Elenco: Caio Blat, Sophie Charlotte, Glauce Guima

Gênero: Drama

Nacionalidade: Brasil

Assista ao trailer: