Vingadores: Guerra Infinita (2018) foi um filme que pegou todo mundo, inclusive eu, meio que de surpresa com a sua qualidade. A dúvida ao assistir aos trailers era: como um filme com tantos heróis e universos diferentes podem convergir em uma trama viável? Principalmente sendo antecedido por Vingadores: A Era de Ultron (2015) que deixou bastante a desejar. Mas a Marvel conseguiu. Guerra Infinita não foi só viável como muito bem feito. O que, ao menos para mim, foi um ponto fora da curva das produções do estúdio que tem um padrão de qualidade que pretende agradar Gregos, Troianos e DCnautas e acaba não se arriscando muito e fazendo mais do mesmo. Eu que me encaixo no último grupo, queria muito que tivéssemos um filme tão bom assim com Batman e seus amigos. Oremos.

Capitã Marvel (2019) então, veio no encalce desse sucesso, nas cena pós-créditos de Guerra Infinita em que Nick Fury (Samuel L. Jackson) usa uma espécie de bip para mandar um chamado a heroína antes que ele termine em pó. No filme solo da personagem, Carol Danvers (interpretada por Brie Larson) explora as suas origens na década de 1990. Como a trama acontece bem antes da maioria dos filmes do universo Vingadores, Capitã Marvel serve mais para justificar acontecimentos que já conhecemos do que propriamente apontar possíveis soluções para resolver o problema com os feitos de Thanos (Josh Brolin) em Guerra Infinita. Isso misturado com as origens dos poderes de Carol, suas questões pessoais e motivações.

As referências, mais um elemento característico do estúdio, se fazem presentes aqui de forma ainda mais incisiva com o objetivo de dar consistência à década retratada. A começar pela queda da protagonista na Terra em uma videolocadora, poster pela cidade anunciando o lançamento do álbum da banda de rock Smashing Pumpkins, Mellon Collie and the Infinite Sadness (1995) e até Nick chamando Carol de grunge por ter amarrado uma camisa xadrez de flanela na cintura.

A impressão que fiquei é que Capitã Marvel se dedica mais para costurar pontos do universo Marvel  e explicar algumas coisas do que dar uma consistência a personagem principal. Muito do que deveria ser a característica marcante da personagem, como seu temperamento forte, não nos é mostrado, mas sim, dito por ela ou por outros personagens. O que acaba sendo o principal problema do filme, visto que seu título remete à personagem e não um Vingadores 0.1. Mesmo assim, é muito mais funcional do que Homem Formiga e Vespa (2018), por exemplo, em que a história podia ser resumida em 15 minutos de filme.

Comparando à outra heroína que ganhou filme solo recentemente, no lado DC da força Mulher Maravilha (2017), Capitã Marvel tenta traçar um viés feminista muito mais explicativo do que expositivo, como foi no caso do filme da DC. Em Mulher Maravilha a protagonista apenas faz o que precisa ser feito. Poucas vezes vemos um personagem questionando o que ela pode ou não pode fazer. Esse empoderamento feminino surge de forma implícita quando, por exemplo, em plena Primeira Guerra Mundial, vemos surgir em um campo de batalha repleto de homens armados uma mulher encarando uma jorrada de tiros. Por sua vez, em Capitã Marvel, são inseridas diversas cenas em que a personagem é julgada por vozes masculinas dizendo que ela não é capaz de fazer algo, que aquele não é seu lugar. Cenas essas que são repetidas algumas vezes. É quase como se o filme pegasse o espectador pela mão e dissesse “olha, estamos mostrando a história de uma mulher empoderada, entendeu?”.

O que não chega a ser necessariamente um problema. É apenas uma característica do filme e que acho mais interessante e cinematograficamente eficiente quando o discurso, qualquer que for, apareça nas entrelinhas. Mas, eu como homem, negro e hétero, não tenho propriedade para indicar de que forma o discurso feminista deve ser proferido. É uma pauta que não cabe ao grupo ao qual eu pertenço. Não quero cair no famoso “homem hétero explicando o feminismo”. Longe disso. Me perdoem se acabei fazendo esse desserviço, não era minha intenção.

Voltando ao filme propriamente, acredito que Capitã Marvel se encaixe num perfil de personagem, ao menos da forma que foi abordada aqui em seu filme solo, que funciona muito melhor, ou é melhor aproveitado, quando está na companhia de outros do que em um filme solo. Coisa que aconteceu também no filme do Doutor Estranho (2016). O personagem é muito mais funcional quando encontra com os demais Vingadores em Guerra Infinita do que propriamente em seu filme solo, que começou com uma problemática interessante para o mago e acabou terminando como mais um filme de herói.

No final das contas, o que eu e a metade do planeta que sobreviveu queremos saber é que fim vai ter o universo Marvel logo mais em abril com a estreia de Vingadores: O Ultimato (2019). Capitã Marvel  já mostrou aqui quais são seus poderes, quais são os elementos de seu universo e sua ligação com a gênese dos Vingadores. O que fica de dúvida é esse espaço entre os acontecimentos de seu  filme solo e o que Thanos fez com o universo. Além de que, ficam algumas interrogações no fim de Capitã Marvel que podem ir ou em direção apenas no universo da heroína quanto afetar os acontecimentos de o Ultimato. Bom, mas a partir daqui, é tudo especulação.

Capitã Marvel

Ano: 2019
Direção: Anna Boden, Ryan Fleck
Roteiro: Anna Boden, Ryan Fleck, Geneva Robertson-Dworet
Elenco principal: Brie Larson, Samuel L. Jackson, Ben Mendelsohn, Jude Law, Annette Bening
Gênero: ​Ação, Aventura, Ficção Científica
Nacionalidade: Estados Unidos

Avaliação Geral: