Por Guilherme Franco

Em meio a acontecimentos como o “Bela, Recatada e do Lar”, mas também a insurgência do feminismo a cada dia, filmes como Casamento de Verdade aparecem para quebrar algumas barreiras e estereotipações que algumas vezes sentimos que nunca irão mudar. O longa de Mary Agnes Donoghue passa no Teste de Bechdel, e como em Cinco Graças, da diretora Deniz Gamze Ergüven, a protagonista transgride todo um sistema sólido e rígido, tradicionalmente de opressão com o sexo feminino.

Jenny (Katherine Heigl, conhecida por Grey’s Anatomy) é uma jovem com seus vinte e poucos anos de idade que vive com uma amiga em um apartamento. Sua família sempre se  pergunta quando ela irá aparecer com um marido ou pelo menos um namorado. Em todo encontro familiar seu irmão chega com um novo pretendente e o apresenta para Jenny. Tudo muda quando nossa protagonista cria coragem e revela que Kitty (Alexis Bledel, conhecida por Gilmore Girls) na verdade é sua namorada há cinco anos e que elas querem se casar e ter filhos.

“Por que eles vivem em um mundinho e gostam das coisas como são”. Quase um retrato da família tradicional brasileira, os parentes de Jenny, e também os vizinhos, soltam muitas pérolas que somente quem sofre as hipocrisias refinadas do dia-a-dia sabe. O preconceito das pessoas ao redor é recheado de machismo, uma série de imposições à mulher e fofocas dos vizinhos, os pais tentando esconder a homossexualidade da filha adulta, tudo se torna uma fábula moderna, que estamos cansados de ver à todo momento, mas que nunca se esgotam.

Perguntas como “Quem terá feito o pedido?” apenas mostram a necessidade do reconhecimento de uma sexualidade que precisa da figura masculina e da feminina mesmo em casais do mesmo sexo. Quem é o homem e quem é a mulher da relação? Comportamento este que até pessoas LGBT continuam reafirmando. Os pais aceitam ela sair com um homem casado, mas não com uma mulher. Em certa parte do filme, um personagem utiliza-se do termo “sapatão”, e é interessante refletirmos sobre a construção social da mulher macho e do homem afeminado. “Você vai se casar, mas não sei quem é quem?”, diz a mãe de Jenny. No pensamento generalizador do senso comum temos a definição da identidade do(a) homossexual assim, e não ao contrário. No nosso inconsciente, fomos formados para viver nesse sistema contrário logicamente, em que o homem homossexual assume o papel do feminino e a mulher homossexual o do masculino. Por alguma necessidade de reprodução e cultural, fomos criados para reafirmar nossa sexualidade sempre nessa dualidade ambígua.

Casamento de Verdade traz uma proposta transgressora por colocar como protagonistas um casal lésbico em um filme de caráter comercial. A trilha sonora letrada (com a presença de artistas como Mary Lambert e várias músicas de Kristina Train e Brian Byrne) acabam deixando o filme mais acessível ao público por conta da dinamicidade resultante. Ao contrário do indicado ao Oscar, Carol, neste longa é buscado satisfazer e relatar a realidade ao espectador e não induzi-lo a divagar artisticamente. A música contém tons de comédia em altos pontos de drama, deixando, assim, o longa no limiar entre o blockbuster e o cult. A fotografia comum reforça o que parece ser a proposta do filme: uma militância entre as grandes comédias e dramas comerciais românticos heterossexuais. O tempo fílmico segue uma linearidade, mas nunca sabemos o salto de tempo com que a história se passou, sem uma justificativa concreta, o que pode acabar desorientando quem assiste.

Casamento de Verdade traz o já esperado happy ending, em sua essência é um drama forte, que mesmo colocando equivocadamente musiquinhas engraçadas nas partes mais tensas, pode tirar do espectador algumas lágrimas há muito tempo enraizadas e escondidas dentro de seu coração maltratado.

Casamento de VerdadeCasamento de Verdade (Jenny’s Weeding)

Ano: 2016

Direção: Mary Agnes Donoghue

Roteiro: Mary Agnes Donoghue

Elenco principal: Katherine Heigl, Linda Emond e Tom Wilkinson.

Gênero: Comédia dramática

Nacionalidade: Estados Unidos

 

 

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