Por Rafael Werk

Diferente de Larry Clark e a adolescência problemática de seus personagens, Fernando Eimbcke tem um zelo quase paterno com os jovens em seus filmes. Os adolescentes mostrados por Eimbcke não crescem rápido demais. Pelo contrário, avançam para o desconhecido quando estão em segurança. Em suas obras, os barulhos estrondosos das mutações são abafados e dão lugar a um silêncio acolhedor.

O diretor do famoso Temporada de Patos mergulha mais uma vez nesse universo jovem em Club Sándwich. Este último, o ensaio sobre o crescimento de um garoto que dá os primeiros passos rumo à independência e sexualidade. O filme é um convite para a vida do rapaz tímido e de poucas palavras que, aos poucos, se desprende da inocência.

No filme, Héctor (Lucio Giménez Cacho) viaja para para uma colônia de férias com sua mãe Paloma (María Renée). Ao conhecer Jazmín (Danae Reynaud), as horas em companhia da mãe se tornam menos interessantes para o menino. Com sensibilidade possível somente às mulheres, a garota é a porta para novas vivências. E Héctor, claro, se permite guiar. A partir disso, os papéis se cruzam: Paloma se torna a criança que sofre ao dividir o filho, Jazmín é quem agora acolhe o rapaz e Héctor deixa para trás o menino que sempre foi.

Sem prender-se a lugares comuns, o filme tem um olhar bem particular sobre Héctor. Sobre o garoto especificamente, e não sobre o panorama da adolescência. O jovem está tão bem encaixado na sua descoberta que podemos ser levados a presumir, erroneamente, que essa fase é padrão para todos. Ao apresentar-se em planos longuíssimos e quase mudos, Héctor se revela e se esconde. Revela-se ao mostrar seu mundo naquele momento, mas esconde-se por não nos contar todos seus conflitos internos. Não conseguimos descobrir justamente por saber ser ação irrealizável. Seria missão falha ir além do que é evidenciado. Eimbcke sabe que esse é terreno irregular e mostra respeito ao protagonista e ao espectador. É neste respeito que mora a beleza de Club Sándwich.

Atuar nesses silêncios não é tarefa fácil. É andar na contramão dum cinema verborrágico e demonstrar com rosto e corpo o que a boca não pode falar. As performances de Chaplin, Tati e Keaton são incomparáveis no cinema. Sem o uso de som conseguiam transmitir tamanho significado com seus personagens. Engana-se quem pensa que aquilo é simples. Mesmo com estilo totalmente diferente neste filme, o silêncio impera em grandes trechos. L. Giménez, M. Renée e D. Reynaud se dão muito bem com a pequena quantidade de palavras e conseguem passar o que precisam de maneira muito delicada e divertida.

Ao fim desse pequeno momento em sua vida, Héctor se mostra mais maduro. Encerra essa fase com um beijo na mãe, que ainda sofre em aceitar o novo. Ele se despede do que foram as brincadeiras, os carinhos e olhares entre mãe e criança.

Cinemascope – Club sandwich poster

Club Sándwich

Ano: 2013

Direção: Fernando Eimbcke

Roteiro: Fernando Eimbcke

Elenco principal: Lucio Giménez, Maria Renée, Danae Reynaud

Gênero: Drama, Comédia

Nacionalidade: México

 

 

 

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