Por Paulo Pereira

Durante a Segunda Guerra Mundial tropas nazistas ocuparam o território parisiense. Em meio ao processo de desocupação da infantaria alemã, o jornal de resistência Libération publicou, no dia 22 de agosto de 1944, a seguinte manchete: Paris brisant ses chaînes. Tal máxima simboliza o que foi esse acontecimento histórico. Dias depois, uma ordem do Führer foi enviada a seus oficiais: abandonem Paris e exploda toda a cidade. É a partir dessa premissa que se desenvolve o longa-metragem Diplomacia, dirigido por Volker Schlöndorff.

O filme ambienta-se, majoritariamente, em um único local: o quarto do general nazista Dietrich von Choltitz horas antes da explosão dos pontos principais da Cidade Luz. Após uma das incontáveis quedas de energia, aparece clandestinamente na alcova o cônsul sueco Raoul Nordling. Sua missão é impedir que o militar alcance sua missão. Sabemos que a cidade não foi explodida. Entretanto, o interessante é notarmos a retórica de Nordling, que tenta convencer Cholitiz a ceder Paris aos aliados, que estavam chegando.

Na conversa, que durou toda a manhã do dia 25 de agosto, percebemos um embate entre a consciência individual de Choltiz e o seu dever enquanto um castrense que está sendo obrigado a executar tal ordem superior. Além do caráter ético, há um elemento que compõe todo o diálogo conflitivo entre as personagens: a preocupação pelos “lugares de memória”. Pierre Nora, um dos mais notáveis historiadores franceses da segunda metade do século XX, entende que as memórias são revitalizadas no momento em que uma sociedade cria lugares de lembranças, estabelecendo uma consciência comemorativa. Assim, o esforço do cônsul em persuadir o general a manter Paris “em pé” associava-se ao dever de preservar os espaços memorialísticos da capital francesa.

Tecnicamente, o filme é brilhante, com destaque para a fotografia e para o seu mise-en-scène. Artisticamente, as interpretações de Niels Arestrup e André Dussollier são magníficas. Apesar de sua mensagem final relacionar-se aos elementos humanitários, o longa-metragem dá a entender que a persuasão de um velho diplomata foi superior ao poder bélico de um general idoso. Nordling assemelha-se ao embaixador Cineas, apresentado por Plutarco em Vidas Paralelas. Cineas, discípulo de Demóstenes, auxiliou o Rei Pirro em sua conquista territorial. Seu método não partia da força beligerante, mas sim do campo da eloquência. Nordling, assim como Cineas, é um símbolo do juízo em detrimento da pujança marcial. Essa obra cinematográfica, além de ser uma verdadeira aula de relações internacionais, é um pequeno clássico que vale a pena ser visto e revisto.

 

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Diplomacia (Diplomatie)

Ano: 2014

Diretor: Volker Schlöndorff

Roteiro: Cyril Gely (adaptação da peça), Volker Schlöndorff
Elenco Principal: André Dussollier, Niels Arestrup , Burghart Klaußner, Robert Stadlober

Gênero: Drama

Nacionalidade: Alemanha/França

 

 

 

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