Por Ana Carolina Diederichsen

Glóoria é uma mulher com idade entre 55 e 60 anos, divorciada e com dois filhos já crescidos. Consumidos pelas responsabilidades da vida adulta, acabam não dispondo de muito tempo, ou disposição, para cultivar o contato com a mãe. Ela se esforça para fazer parte de suas vidas, mas acaba se sentindo deslocada. Glória tenta, então, encontrar um novo lugar para se encaixar. O filme nos convida a embarcar com ela nessa procura, que se dá discretamente, nos pequenos momentos.

Acompanhamos Gloria em seu carro, cantando suas músicas preferidas, nos contatos com os vizinhos, no cabelereiro, enfim, suas atividades cotidianas. Apesar de preencher seu tempo sendo muito ativa, ela ainda passa por momentos de solidão.  Essa cinquentona, muito bem para a idade, frequenta bailes dançantes para a terceira idade, onde conhece muitas pessoas. Em uma das noitadas, ela se depara com Rodolfo (Sergio Hernández) que, encantando com sua alegria, chama sua atenção de maneira especial.

A partir daí, dá-se início um relacionamento movido a companheirismo, que vai aos poucos se tornando sério. O relacionamento maduro que ela inicialmente desejava vai aos poucos ruindo, em função do passado de Rodolfo, que teima em se fazer presente.

Não são muitos os filmes que abordam com tanta realidade e delicadeza, um relacionamento na maturidade. No longa dirigido por Sebastián Lelio, temos inclusive cenas de sexo entre esse casal mais velho, ambos provenientes de relacionamentos duradouros. As cenas são curtas e importantíssimas, pois mostram o processo de adaptação a um novo relacionamento depois de tantos anos vivendo com um único parceiro.

O mérito do filme chileno é não transformar as situações em dramalhões, como normalmente tem acontecido no cinema. Por evitar isso, acaba sendo muito linear e apresenta um ritmo que pode desagradar alguns ou conduzir o espectador ao tédio. Em contrapartida, se faz muito próximo do real. Gloria é filme sem muita ação que fala com muita naturalidade da vida cotidiana e de como as coisas pequenas tomam conta e moldam nossas vidas.

A personagem que dá nome ao filme, deu também à Paulina García o Urso de Ouro do Festival de Berlim de 2013. A atuação naturalista é realmente competente e sensível, e nos conduz pelo filme, que apresenta um pequeno recorte de tempo na vida da protagonista.

A história do Chile e sua atual situação política aparecem como personagem secundário, permeando discretamente em alguns diálogos. Esse não é um filme político, mas é um reflexo do amadurecimento cultural pós era Pinochet.

Para os brasileiros, o filme traz ainda algumas surpresas, como a presença de diversas de nossas músicas. Uma delas, “Águas de Março”, ganha destaque quando é belamente entoada em uma roda de amigos em um dos muitos encontros do filme.

Glória se afirma como um filme delicado, mas não muito inovador, centrado em um personagem forte. Fala sobre a capacidade de se reinventar e se reencontrar diante das transformações que compõem o processo da vida.

Cinemascope-Gloria (1)Gloria

Ano: 2013

Diretor: Sebastián Lelio

Roteiro: Sebastián Lelio, Gonzalo Maza

Elenco Principal: Paulina García, Sergio Hernández, Diego Fontecilla.

Gênero: Drama

Nacionalidade: Chile/Espanha

 

 

 

 

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