Por Joyce Pais

“Nós temos um papa”. É difícil imaginar que as palavras mais aguardadas pelos fiéis quando um novo Sumo Pontífice é eleito se tornariam um pesadelo para…..o próprio papa eleito. Na trama dirigida por Nanni Moretti, um dos mais conceituados cineastas do novo cinema italiano, a crise do papa que não conseguiu aparecer em público e abençoar seus fiéis é contada de maneira inteligente e bem humorada.

Com estreia no circuito competitivo do Festival de Cannes e, aqui no Brasil, na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Habemus Papam conta de maneira tragicômica a história de um cardeal que inesperadamente é eleito novo papa e não consegue assumir o posto, pois acredita não ser apto a aceitar as novas responsabilidades. Me arrisco a dizer que a vida real pode ter inspirado o roteiro, já que são de conhecimento público as declarações referentes ao último conclave que elegeu o atual papa Bento XVI.

Adentramos a atmosfera sigilosa do Vaticano pela câmera do cineasta. Assumidamente avesso ao catolicismo e ao atual governo italiano, Nanni nos mostra os bastidores da eleição de um novo representante, processo desconhecido pela maioria das pessoas e, assim, expõe os medos dos cardeais que no íntimo imploram “eu não, senhor, eu não”.

As filmagens, que misturam gravações em estúdio, externas na Praça São Pedro e imagens reais do enterro de João Paulo II compõem o cenário onde se articulam planos para viabilizar uma ideia bastante inesperadada do porta voz do Vaticano: convocar o melhor psicanalista do país (Nanni Moretti) pra ajudar Melville a enfrentar seu pânico e, ao menos ser capaz de acenar para as milhares de pessoas que o aguardam ansiosamente.

O ator franco-italiano Michel Picolli é quem dá vida a Melville, aos 86 anos de idade leva na bagagem  filmes como O Desprezo (Godart), A Bela da Tarde (Buñuel) e o prêmio de melhor ator em Cannes por Salto nel vouto (Marco Bellochio). Destaco a cena quando o cardeal compara sua função na Igreja à vida de um ator, fazendo um paralelo com as leituras em grupo, as viagens de uma cidade pra outra; com as sessões de psicanálise e a recordação de fatos passados, Melville vai ao encontro de um conhecimento interior que o ajude a superar o bloqueio e o medo que se impôs quando deveria oficializar sua nova condição. Sim, Nanni coloca ciência e religião lado a lado e de maneira muito sensível.

Ao contrário do que fez em A Missa Acabou (1985) interpretando o padre Don Giulio cujos concidadãos recusam ajuda, dessa vez o diretor humanizou as figuras religiosas, que geralmente são alvos de seus ataques, mostrando a rotina dos cardeais; eles fumam, jogam baralho, se exercitam em bicicletas ergométricas, são competitivos, estão mais próximos de nós mortais do que envoltos em uma inacessível aura espiritual ou coisa do gênero.

Habemus Papam fala de expectativa, de tradição, ritos, de fé e da falta dela, dos modelos e referências que estamos acostumados (principalmente os cristãos) a ter como exemplo imutável. Fala de uma Igreja, que segundo Melville, “não entende os problemas atuais do mundo”.

 

Cinemascope---Habemus-Papam-Poster]Habemus Papam

Ano: 2011

Diretor: Nanni Moretti.

Roteiro: Francesco Piccolo, Nanni Moretti e Federica Pontremoli. 

Elenco Principal: Michel Piccoli, Nanni Moretti, Margherita Buy.

Gênero: Drama.

Nacionalidade: Itália/França

 

 

 

Veja o trailer:

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