Mare Nostrum foi um termo inventado pelos antigos romanos para designar o Mediterrâneo. A expressão em latim significa literalmente “nosso mar” e faz muito sentido ao analisarmos um mapa do antigo império. Os romanos conquistaram todos os países da Europa e África que tinham saída para o Mediterrâneo. Como as terras que circundavam o mar pertenciam a eles, era apenas lógico chamar o mar de “seu”. Esse termo ressurgiu em outros momentos históricos da Itália, sempre com o objetivo de suscitar uma união nacional.

No Brasil, a expressão tornou-se mais popular pela chegada dos colonos italianos e, agora, é o título do novo filme de Ricardo Elias. No longa acompanhamos Roberto (Silvio Guindame) e Mitsuo (Ricardo Oshiro), dois jovens que voltam ao Brasil em 2011 depois de uma longa temporada morando fora. Roberto estava há anos na Espanha, mas voltou por conta da crise. Já Mitsuo morava em Fukushima, mas perdeu tudo no tsunami que atingiu a cidade japonesa. A vida dos dois se cruza por conta de um terreno negociado por seus pais no passado. Como ambos estão num momento de recomeço, a frente de um mar de possibilidades, eles enxergam o pedaço de terra como uma chance de reestruturação financeira.

Mas as semelhanças não param por aí. Enquanto Roberto quer se provar para sua filha Bia (Lívia Santos), Mitsuo deseja um novo começo para sua esposa. Os dois também tem problemas de relacionamento com os pais e outros familiares. Para completar, ambos são egoístas e, ao longo da trama, precisam aprender a abrir mão de alguns sonhos para realizarem outros.

Essa construção espelhada serve para ambientar o público e despertar sua empatia, sobretudo com Roberto. Num primeiro olhar o rapaz não parece um protagonista dos mais amigáveis, principalmente por seu descaso com a criação da filha. Porém, ao longo da trama, o espectador acompanha como o relacionamento entre os dois floresce. Outra questão que compõe a psique do jovem é seu relacionamento com o pai falecido. O mulherengo João Viana (Ailton Graça) era um verdadeiro mito para os amigos, mas Roberto o execra. Em partes essa rejeição se dá pelas semelhanças que o filho tem com o pai, mas não consegue reconhecer: ambos são sonhadores e não possuem tanto apego pela família.

Ainda que os personagens em muito lembrem pessoas do dia a dia, o longa possui alguns problemas ocasionados pelo roteiro. A trama simples e as histórias que se cruzam são certamente interessantes. Entretanto, a produção fica arrastada durante o segundo ato e demora para resgatar seu aspecto lúdico. A ponta sobre a magia do terreno, levantada na primeira cena, só volta à tona quando o filme já está se encaminhando para o final. Isso prejudica não só o ritmo de Mare Nostrum como também a derradeira virada da narrativa, que se apresenta de maneira apressada.

Ainda sim, a direção consegue entregar um longa coeso, que flerta com a abordagem de temas interessantes, mesmo que não mergulhe de cabeça em nenhum. Realidade x fantasia, defeitos x qualidades, egoísmo x altruísmo. Todos esses dilemas são vividos em tela pelas figuras dramáticas, mas não causam um impacto real no público. Ao começar promissor, o filme enfrenta uma calmaria no meio que impossibilita o crescimento do clímax. Se mar calmo nunca fez bom marinheiro, ele de certo também não produz bons filmes.

Mare Nostrum

 

Ano: 2018
Direção: Ricardo Elias
Roteiro: Ricardo Elias, Eneas Carlos e Claudio Yosida
Elenco principal: Silvio Guindane, Ricardo Oshiro, Carlos Meceni, Lívia Santos, Ailton Graça
Gênero: ​Drama
Nacionalidade: Brasil

Avaliação Geral: