Por Mario Neto

A minúcia do silêncio utilizada como retórica, compondo de maneira sóbria um panorama de desconstrução emocional e mágoa profunda. Em seu terceiro longa-metragem, o diretor Vinícius Reis não filma, mas se faz mostrar, não fala, mas se faz dizer, e sustentado pelo ousado estilo de “anticatarse” ou “nuances contidas na trama”, ele nos faz imergir em um complexo e delicado drama familiar, assim é Noite de Reis.

No filme somos apresentados à professora Dora (Bianca Byington) e sua filha Júlia (Raquel Bonfante), que após alguns anos da trágica perda de seu outro filho Lucas e o abandono de seu marido Jorge (Enrique Diaz), traumatizado e completamente arrasado pelo acontecimento, tenta prosseguir com sua vida. Ao mesmo tempo, a Folia de Reis ambienta a pequena cidade litorânea em que Dora vive, com seus músicos, palhaços e trovadores, incitando e provocando sentimentos nostálgicos. A moça passa os dias tentando se recuperar da ferida, com longos mergulhos na praia e caminhadas solitárias, mas a cura para superação de sua perda pode estar bem a sua frente, mas especificadamente na casa vizinha a sua, em que o restaurador de patrimônios históricos Marcos (Flávio Bauraqui) está trabalhando. Contudo, no momento em que Dora finalmente consegue encontrar refúgio na figura do restaurador, seu marido Jorge, sem maiores explicações, reaparece em sua vida, decidido a voltar e permanecer em sua casa. Assim, um turbilhão de sensações e rememorações se entrelaçam, em uma mistura de tristeza, alegria e confusão, tudo se desenvolvendo de maneira refreada e sensível.

Um cuidadoso trabalho de arquitetura do roteiro faz a narrativa caminhar suavemente, vigorando e legitimando a linguagem proposta. Os não – diálogos imprimem a característica sensorial do conceito aplicado no longa – metragem, fazendo-se assimilar o teor complexo, da exposição de modos diferentes que as pessoas encontram para dar vazão a dor. A professora Dora é uma fortaleza, que em todo tempo levanta mais um tijolo, na busca por se fortalecer mais e mais, Jorge é o vidro que se quebrou em diversos pedaços, se transformando em um mosaico ou quebra-cabeças de sua personalidade fragmentada, Julia a filha do casal, é o vento que continua a soprar, de maneira inocente e despreocupada levando sempre novos ares de juventude, alegria e esperança, e finalmente o falecido Lucas se materializa na figura do mar, que se mostra vasto, profundo e reconfortante, ao passo que todos os integrantes da abalada família, em algum momento do filme buscam essa aproximação nas límpidas e serenas águas de purificação do oceano.

Noites de Reis infelizmente não será um filme assistido por multidões, contudo, atingirá densamente aqueles que o virem, e com isso terá triunfado em sua premissa básica, propondo uma reflexão legítima, sem espetacularização e sem alardes, simples e tão somente as mais verdadeiras reverberações de um âmago dilacerado por uma tragédia.

Noites de Reis posterNoites de Reis

Ano: 2013

Diretor:  Vinícius Reis.

Roterista: Rita Toledo.

Elenco Principal: Bianca Byington, Enrique Díaz, Raquel Bonfante.

Gênero: Drama

Nacionalidade: Brasil

 

 

 

 

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