Nossa irmã mais nova

Por Guilherme Franco

Por que precisamos e evitamos a calmaria? Por que não entendemos uns aos outros? Por que constituímos laços sociais?

Kore-Eda Hirokazu (diretor) e Akimi Yoshida (mangaká) construíram uma fábula sobre pequenos detalhes. Baseado no mangá Umimachi Diary, o filme Nossa irmã mais nova, que ganhou vários prêmios e está na mostra competitiva em Cannes desse ano, retrata um cotidiano de três irmãs que quando vão ao funeral de seu pai acabam encontrando uma meia-irmã. Morando apenas com o pai, Suzu foi convidada por Sachi, Yoshino e Chika para ir morar com elas.

Sem uma introdução extensa, o longa vai retratando o que o nome original do filme se designa (Umimachi Diary): um diário, com um roteiro de histórias não muito conectadas, mas com uma cobertura de realidade que até certo ponto é tão simples e pura. Como Boyhood (2014), onde a vida primária está retratada, existem poucos diretores que se arriscam em transformar em um produto fílmico o trivial, o filme de Kore-Eda vem com menos drama do que o de Richard Linklater, mas com reflexões à altura.

A atriz que mais me chamou a atenção foi Koho, que interpreta a irmã “descoladinha” Chika, com sua simpatia cômica, uma personagem que queria muito que fosse uma amiga na vida real. Foi a que mais retratou a alegria oriental muitas vezes colocada em mangás e animes. Suzu, ao entrar no quase clã das três irmãs, tem sua infância compartilhada, como se fossem três mães e amigas, elas se tornam verdadeiras companheiras.

Outro ponto de destaque foi a forma suave com a qual o tema da morte foi trabalhado. O pai das garotas morreu e, mesmo assim, as cores do filme, a visão imagética dele em nossa cabeça, ainda continuou naquele cinza clarinho e bege, no branco e azul bebê. Em momento algum temos um forte acontecimento super dramático ou algo que realmente impacta o filme, a narrativa continua lá, naquela constante, a maior mudança na história é com a chegada da irmã, que vem para trazer toda uma humanidade para a trama. E também para mostrar um novo modelo de família, diferente da imposta por setores do governo e do estado na maioria dos lugares no mundo.

Recomendo esse filme para todo mundo que quer um pouquinho de calma em meio a filmes de ação e turbulentos, que quer algo para refletir sobre suas relações familiares e sua vida atual.

Nossa Irmã mais Nova (Umimachi Diary)