Por Sttela Vasco

Clássico aclamado e conhecido mundo afora, era de se esperar que O Pequeno Príncipe, de Antoine Saint-Exupéry, eventualmente ganhasse uma adaptação atual para o cinema – a obra foi adaptada por Stanley Donen (Charada) em live action em 1974 – e foi uma grata surpresa quando Mark Osborne (Kung Fu Panda) decidiu que era hora de colocar um antigo projeto em ação e trazer a história de volta às telonas. Com uma nova roupagem e nenhuma pretensão de ser fidedigno ao livro homônimo, O Pequeno Príncipe (The Little Prince) é uma animação emocionante e encantadora que promete emocionar os mais diferentes públicos.

Quando uma garotinha se muda com a mãe, uma controladora obsessiva que tem o futuro da filha minuciosamente antecipado e planejado em um grande quadro, ela não espera nada além de uma vida calculada e regrada. No entanto, após um acidente, a menina conhece seu excêntrico vizinho: um velho aviador que insiste ter uma história sobre uma aventura vivida em seu passado para contar. Curiosa, a garota passa a conhecer a história de um pequeno príncipe que vivia em um asteróide com sua rosa e, um dia, encontrou um aviador perdido no deserto em plena Terra.

O Pequeno Príncipe de Osborne, como o próprio diretor afirmou, transporta o livro para o cinema, mas o utiliza como essência para se contar uma história maior. E o feito não poderia ser melhor. A história da garotinha que vive em função de um plano de vida minuciosamente traçado por sua mãe reflete em muito no modo de viver atual – a obsessão por regras, o jeito metódico de se organizar a vida, a preocupação exagerada com metas – e também questiona se os ideais visados pelos pais são realmente o melhor para os filhos.

O longa questiona se de fato ter compensa a falta de ser. A garotinha tem o melhor que sua mãe pode oferecer e está pronta para ingressar na escola mais importante da cidade, mas não é criança, ao menos não no sentido mais puro da palavra. É essa a questão central da obra: preocupados em alcançar tais metas ou obtermos sucesso como adultos, acabamos por esquecer o desprendimento e a leveza da infância e também o essencial da vida.

Acaba-se percebendo, ao longo do desenrolar da animação, como vamos aos poucos perdendo a individualidade e acabamos nos tornando iguais em um sentido extremamente negativo. Ela também alerta para a cronometização de tudo, em como nos prendemos a prazos e relógios e muitas vezes abandonamos a criatividade em troca da ordem – algo explorado por meio do Homem de Negócios e sua mania em transformar tudo em alguma coisa que considere “essencial”. Tal personagem, aliás, assim como o Homem Vaidoso ou o Rei são a forma de Exupéry de satirizar e criticar os seres humanos e foram transportados com inteligência para o universo do desenho.

Ao encontrar o aviador, a menina descobre a si mesma e tem a chance de ser livre. Quanto mais ela abraça o mundo colorido e divertido dele, mais feliz se torna. Sendo conquistada pouco a pouco pela história do jovem príncipe, a garota percebe que viver segundo um cronograma não é sinônimo de acerto e que se deixar rir e ter imaginação não significa ser menos adulto, mas, talvez, ser um adulto melhor.

Intercalando técnicas, o filme usa o CGI para tratar da “realidade” vivida pelo aviador e pela garota e o stop-motion para quando nos conta a história criada por Exupéry. É aí, aliás, que se encontra o grande potencial e o maior trunfo do longa. Ao abrir mão de algo totalmente computadorizado e adotar uma técnica mais orgânica como o stop-motion, o filme ganha a magia que a história do Pequeno Príncipe em si possui. Alguns de seus melhores momentos – tanto quando se fala em roteiro, quanto visualmente – ocorrem quando as figuras, que parecem feitas em papel, surgem na tela.

Delicado e emocionante, o filme mantêm vivas as mensagens tão conhecidas do livro e encanta tanto adultos quanto crianças. O roteiro, leve, segue bem se perdendo apenas pouco depois da metade, quando abraça seu lado mais lúdico e também mais independente da obra francesa, mas volta a recuperar o ritmo perto do fim, fechando sua história de uma maneira que dificilmente não comoverá o espectador.

Sutil, o longa consegue entreter os pequenos e fazer com que os mais velhos questionem um pouco mais sobre a vida e o amadurecimento. No entanto, não vá ávido por algo ágil ou que se desenrole com facilidade. Assim como o livro que lhe deu origem, O Pequeno Príncipe é um filme que se deve muito mais sentir do que apenas ver.

 

Cinemascope - o pequeno príncipe posterO Pequeno Príncipe (The Little Prince)

Ano: 2015

Diretor: Mark Osborne

Roteiro: Bob Persichetti

Elenco Principal: Rachel McAdams, Jeff Bridges, James Franco

Gênero: Animação, Aventura, Fantasia

Nacionalidade: França

 

 

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