Por Wallacy Silva

Paraísos Artificiais se propõe a nos colocar diante de uma enorme diversidade de sensações. E a primeira delas que se materializa na tela parece ser tão ou mais prazerosa do que aquelas manipuladas pelos alucinógenos: a sensação de liberdade. Nando (Luca Bianchi) coloca a cabeça pra fora do carro e pode sentir o vento em seu rosto. Ao tomar banho em casa depois de muito tempo, parece aliviado por sentir cada gota de água em sua pele. Acabou de deixar a cadeia e deu de cara com a sua família em crise, e com a possibilidade do irmão, Lipe (César Cardadeiro), cometer o mesmo erro que ele cometera. A partir daí começamos a nos deparar com os fantasmas do passado de Nando para compreender sua situação.

O filme, então, divide-se em duas fases temporais, que são apresentadas concomitantemente ao espectador. Na primeira, a DJ Érika (Nathalia Dill) e a melhor amiga Lara (Lívia de Bueno) estão em uma excursão pelo nordeste, em que Érika discoteca em uma série de raves. Na segunda, Érika mora em Amsterdã e conhece – e se envolve com – Nando, que não percebe que os dois já se conheceram antes. Agora as sensações são bem distintas, e as diferenças entre as fases bem acentuadas. Na primeira, em meio às festas, os jovens encontram o paraíso oferecido pelas drogas (principalmente as sintéticas), que para eles é fonte de autoconhecimento e de prazer. A fotografia é quente, bem colorida, e a imagem hora está acelerada, hora está em slow motion. A música eletrônica é incessante, e por vezes ouvimos apenas a batida, o baixo, bem de longe. O diretor abusa das cenas poéticas, representações das “viagens” causadas pelas drogas. Os jovens atingem o êxtase e procuram ampliá-lo através do sexo, que aparece exibido intensamente, despudorado. O filme atinge o clímax com a fortíssima sequência do encontro entre Nando, Érika e Lara, decisiva para o destino dos personagens. Tudo isso contrasta com a segunda fase, que traz uma fotografia fria como a cidade de Amsterdã. Aí, dois anos depois, os personagens estão na antítese de tudo aquilo, vivendo em um inferno no qual eles têm que encarar seus medos diariamente.

A fotografia, essencial na concepção do longa, é de Lula Carvalho, que assina a fotografia de filmes como A Festa da Menina Morta e Tropa de Elite 2. Por trás das atuações está a preparadora Fátima Toledo, que trabalhou os elencos de Tropa de Elite, Cidade de Deus, Dois Coelhos, dentre muitos outros. Além das atuações dos protagonistas, chamam a atenção as de César Cardadeiro e Divana Brandão, irmão e mãe de Nando, que aparecem pouco, no terceiro corte temporal do filme. Apesar da pequena participação, eles transmitem muito bem, de formas diferentes, a sensação de ver a própria família desmoronar: o adolescente através da rebeldia e a mãe carregando uma angústia profunda. O ponto negativo fica por conta das aparições do personagem Mark (Roney Villela), um velho com algo de hippie que, no meio dos jovens, acaba se tornando uma “voz da experiência”, derramando discursos sobre a relação dos usuários com as drogas.

Aqueles que acham que Paraísos Artificiais pode ser só mais um filme irresponsável com drogas e sexo se enganam. O roteiro bem amarrado traz na sua divisão temporal uma clara relação de causa e consequência. Os personagens são, no final do filme, o fruto das decisões inconsequentes e irresponsável que tomaram no passado. Da pior forma possível, através da castração – daqueles que eles amavam, e até da própria liberdade –, aprendendo a lidar com as perdas, passaram a fazer um real exercício de autoconhecimento.

Cinemascope - Paraísos Artificiais -PosterParaísos artificiais

Ano: 2012

Diretor: Marcos Prado

Roteiro: Cristiano Gualda, Pablo Padilla e Marcos Prado.

Elenco Principal: Nathalia Dill, Luca Bianchi, Lívia de Bueno, Bernardo Melo Barreto, César Cardadeiro, Divana Brandão, Cadu Fávero, Erom Cordeiro, Roney Villela, Emilio Orciollo Neto, Mathias Gottfried e Yan Cassali.

Gênero: Drama.

Nacionalidade: Brasil.

 

 

Veja o trailer:

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