Quando saíram os primeiros rumores de que teríamos um filme solo do vilão do Homem Aranha, Venom, nós, fãs do cabeça de teia, ficamos empolgadíssimos com a ideia. A primeira vez que o personagem deu as caras na telona foi em Homem Aranha 3 (2007) e foi uma decepção só. Esperávamos um monstro gigante, que aparentava ter a capacidade de quebrar o aracnídeo ao meio, como nos quadrinhos e, no meu caso, na animação dos anos 1990. Mas foi longe disso. Ele parecia mais uma criatura magrela, como se o Smeagol tivesse sido pego pelo simbionte.

As coisas foram evoluindo e, finalmente, tivemos a confirmação do filme e ainda com Tom Hardy no papel principal. Parecia que o Deus dos Nerds tinha ouvido nossas preces. O cara que “só faz filme bom” topou o papel, certamente vem coisa boa por aí. Ainda mais que ele tinha ganhado destaque com Mad Max: Estrada da Fúria (2015), mais empolgação ainda. Conhecendo um pouco a história do personagem, (um espécime que veio do espaço que precisa de um hospedeiro para sobreviver na terra, dá força e poderes a quem o hospeda, o transformando em um ser gigante), o que eu esperava, e talvez tenha exagerado, era algo no nível de Alien: o Oitavo Passageiro (1979). Com sustos, muita tensão e um mal que está prestes a explodir, literalmente, do peito de alguém. Não foi o que rolou.

Se nas histórias originais (ou ao menos na animação que eu assistia), a simbiose primeiro tem o Homem Aranha como hospedeiro e só depois possui o corpo de Eddie Brock (que é o papel de Tom Hardy no filme), aqui ele vai direto para o corpo do repórter. A implicação, no primeiro caso, é que Brock é um rival de Peter Parker, que tem a profissão próxima, e, com essa transferência, acaba adquirindo não só poderes parecidos com o do Homem Aranha, com também sabendo de sua identidade secreta. Nós vemos cheiro do aracnídeo no filme, mas não temos sinal dele. A simbiose, depois de passar por alguns hospedeiros experimentais, vê em Eddie o hospedeiro ideal.

O primeiro problema presente no filme, (visto que esse trajeto da simbiose de Peter Parker para Eddie Brock não chega a ser um, pensando que estamos diante de uma adaptação) é a personalidade do protagonista. O longa parece não se decidir sobre o sujeito. Apesar do que ele diz, não vemos nada que o tornaria propriamente um vilão. A sua linha evolutiva, inclusive, pode encaixa-lo (ironicamente) na “jornada do herói”, sem nenhum problema. Acredito que isso seja o fato que faz todo o resto desandar.

O espectador que vê os trailers, e sabe ao menos um pouco do herói, como eu disse anteriormente, espera uma história mais sombria, a construção de uma figura quase no extremo oposto ao “amigo da vizinhança”. Todos os demais personagens e situações que mostrariam um personagem mal ou com fortes tendências a ser, optam por ter uma moral típica de herói, como, por exemplo, somente usar suas habilidades contra pessoas más. Além disso, quando ele opta por uma ação, digamos, menos heroica, nós somos poupados de ver os estragos. Fica tudo apenas no campo subjetivo. Claramente a busca por alcançar uma classificação indicativa mais baixa e conseguir abraçar o público infantil. Com esse objetivo, perde-se toda a potencialidade que um filme solo de um vilão poderia alcançar.

Antes de assistir ao filme, algumas manchetes o apontaram como o pior desde outros como Mulher Gato (2004), acho que não é para tanto. Acredito que seja é apenas o desperdício de uma potência, de um material que poderia extrapolar os limites do comum, mas optou por se acomodar nos moldes mercadológicos. O que eu posso dizer, mas que eu nunca imaginava dizer (ou digitar) é que, se estivesse nas mãos da Marvel, teríamos uma chance maior de um filme melhor. Os direitos do Homem Aranha pertencem à Sony, que os adquiriu antes da explosão Vingadores. Com isso, o herói meio que somente faz “participações especiais” no universo do grupo de heróis e o seu próprio vive na Sony (não perca as cenas pós créditos).

Poderíamos ter resultados melhores principalmente com relação ao humor. Os filmes Marvel podem ter diversos defeitos, mas o humor é um dos pontos que melhor funciona em suas produções. Aquele alívio cômico que todo Blockbuster pede, eles têm o domínio de inserir nos momentos certos. Humor esse que não funciona muito bem em Venom. Quando a piadinha surge, parece forçado e apenas como obrigação. Como um check em uma lista na fórmula “como fazer um filme baseado em quadrinhos que agrade o público”.

Fiquei procurando possibilidades de como esse filme se encaixaria nos próximos do universo Homem Aranha. Não senti o Tom Hardy muito à vontade no papel, e me questionei se ele estaria disposto a voltar em outros filmes. As cenas pós créditos (tem duas) me deram uma certa esperança de uma continuação interessante (se bem que antes de ver Venom também tinha muitas esperanças, né?). Fora isso, espero que quando essa vibe “filmes de herói” começar a declinar, Venom possa surgir em uma adaptação digna, com toda a potência que está em seu personagem, assim como o Wolverine pôde finalmente mostrar a que veio em Logan. Meu coração de nerd torce por isso. Amém.

Venom

 

Ano: 2018
Direção: Ruben Fleischer
Roteiro: Scott Rosenberg, Jeff Pinkner, Kelly Marcel, Will Beall
Elenco principal: Tom Hardy, Michelle Williams, Riz Ahmed, Ron Cephas Jones
Gênero: ​Ação, Horror, Ficção Científica
Nacionalidade: EUA

Avaliação Geral: Avaliação Geral