Por Luciana Ramos

O filme começa apresentando a jovem Shirley (Dandara de Morais), que gosta de rock e sonha em ser tatuadora, mas se vê obrigada a passar seus dias em um vilarejo remoto em Alagoas para cuidar da avó doente.

A trama, em um primeiro momento, assume o ponto de vista dessa personagem como condutor da história, apresentando o universo ao seu redor através dos seus olhos. Por vezes, desliga-se um pouco de Shirley para pontuar algum personagem secundário do vilarejo, apresentando assim um panorama da sociedade organizada em torno da coleta e venda de cocos.

Porém, o longa sofre uma abrupta ruptura com o aparecimento de um rapaz de fora da cidade, representado pelo próprio diretor, Gabriel Mascaro, que tem como objetivo captar os sons do lugar. Neste momento, toda a trama construída anteriormente é abandonada e o foco passa a ser o do estranhamento do forasteiro frente aos costumes locais.

Logo, tal arco é abandonado mais uma vez e surge um novo tom, um novo protagonista, um novo conflito: Jeison (Geová Manoel dos Santos), interesse romântico de Shirley, vê-se obcecado pelo surgimento de um defunto na beira da praia. Frente à celeridade das autoridades em irem retirar o corpo, ele passa a enxergar-se como responsável pela sua conservação. Diante disso, passa os dias limpando-o, chegando até a organizar um velório.

A resolução de tal conflito e dos seus desdobramentos (as tensões geradas com seu pai e Shirley) encerram um filme que não consegue se firmar.

A bela fotografia de um cenário remoto e pouco explorado de nada adianta mediante a relutância do diretor em assumir uma linha narrativa. A maneira pouco significativa com que os eventos são expostos e logo suplantados por outros completamente diferentes tornam o filme como um todo sem significado.

Há uma clara dificuldade de definição que permeia até o tom do longa, que passa pela comédia, suspense e arrisca-se na metalinguagem. Caminhando entre o comercial e o artístico, o retrato íntimo de um casal e o contraste entre a figura do homem simples do vilarejo e do captador de som, persona característica da cidade, Ventos de Agosto impossibilita a criação de uma conexão entre público e o conteúdo mostrado na tela, já que a razão da sua criação permanece um mistério até os créditos finais.

Cinemascope -ventos de agosto poster

Ventos de Agosto

Ano: 2014

Diretor: Gabriel Mascaro

Roteiro: Rachel Ellis, Gabriel Mascaro

Elenco Principal: Dandara de Morais, Geová Manoel Dos Santos.

Gênero: drama

Nacionalidade: Brasil

 

 

 

Veja o trailer:

Galeria de fotos: