Por Joyce Pais

“A feiura em uma mulher é um pecado mortal”

Violette Leduc foi uma escritora francesa que viveu na primeira metade do século e produziu maior parte de sua obra entre as décadas de 1940 e 1960. Nela, destacam-se “A Asfixia” (1946), “A Faminta” (1948) e seu livro mais famoso, “A Bastarda”, publicado em 1964, por Albert Camus. Em 1955, foi forçada a remover partes do livro Destroços por conta das passagens que continham sexualidade explícita descrevendo uma relação lésbica. Os trechos censurados foram publicados separadamente em Thérèse and Isabelle, no ano de 1966.

Leduc circulou entre os mais prestigiados intelectuais da época – Jean-Paul Sartre, Jean Genet, Jean Cocteau, Maurice Sachs (com quem manteve um casamento de aparências) e Simone de Beauvoir, enquanto esta escrevia o icônico “O Segundo Sexo”. Pararelamente á ascensão da carreira de Violette, o filme optou por focar em sua intensa relação com a feminista Simone de Beauvoir. E não teria como ser diferente, já que esta, além de objeto de adoração e desejo, foi talvez a maior responsável pelo sucesso de Leduc.

O filme é um profundo estudo de personagem e um dos seus maiores méritos foi não se afastar do eixo escolhido como base para traçar a via crucis da protagonista, o que seria um risco muito provável. A dinâmica entre as atrizes Emmanuelle Devos e Sandrine Kiberlain, que vivem Leduc e Beauvoir, respectivamente, acentua mais um êxito da obra.

De personalidade pungente, Violette, em sua primeira aparição já anuncia que sua inconformidade não a deixaria ser coadjuvante da própria história. Os traumas de infância e a relação mal resolvida com a mãe viriam a ecoar nos conflitos da vida adulta, algo muito bem delineado no longa, seja nas referências visuais como o minúsculo apartamento em que vivia (detalhe citado por sua progenitora a todo momento), no frio e na neve quase sempre presentes ou nos ambientes abertos e vazios (ruas, campos, florestas), atestando a cada cena sua realidade crescentemente sufocante.

Sua dependência emocional pelos que a cercavam e sua urgência em ser correspondida é um contraponto explícito a personalidade blasé de Beauvoir, e à maneira segura com que conduzia sua vida. Sua devoção era é tamanha que ela mantinha uma foto da Beauvoir em sua escrivaninha juntamente com uma foto de sua mãe.

“Porque você não viaja sozinha?”

Quando conheceu Beauvoir, Violette era uma página em branco pronta para ser escrita. Beauvoir foi peça fundamental em seu processo de libertação e, principalmente, na construção e disseminação de um novo padrão de mulher.

A compaixão por Violette é inevitável. Ela é o que todos temos de frágil. Mais do que um drama de época, o filme é o retrato sincero de uma mulher que precisou vencer primeiro a si mesma para deixar sua marca na história da literatura.

 

Cinemascope - Violette posterViolette

Ano: 2013

Direção: Martin Provost 

Roteiro: Martin Provost, Marc Abdelnour, René de Ceccatty.

Gênero: Biografia, Drama.

Elenco principal: Emmanuelle Devos, Sandrine Kiberlain, Olivier Gourmet.

Nacionalidade: França, Bélgica.

 

 

 

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