Visionário: que ou aquele que tem ideias quiméricas, idealistas, grandiosas, ou acredita em ideais.

O papel de um diretor é contar histórias através de imagens e som, pretendendo dar vazão à sua visão de mundo e com ela alcançar seu público e fazê-lo refletir, atingindo-o de alguma forma, para o bem ou para o mal. Visionários da Quebrada é o tipo de produção capaz de te tirar da zona de conforto e causar um certo calorzinho no coração, produzir empatia.

Este documentário, filmado em estilo entrevista, foi elaborado ao longo de meses de pesquisa por um grupo de jovens e nos apresenta doze pessoas moradoras de zonas periféricas da cidade de São Paulo, que dividiram as descobertas que fizeram implantando seus projetos socioculturais. Elas são responsáveis por incentivar, de maneira diversa, a arte e por imbuir o sentimento de comunidade. Esses visionários são pessoas que resistem diariamente a um sistema opressivo, criando novas formas de produzir vida, enxergando que ela está além do capital, está também e principalmente no âmbito cultural e social, estão interessados em fazer com que as pessoas possam enxergar o dia a dia de uma nova maneira, e que mais do que sobreviver, é importante o viver

O próprio tempo de ócio é muito curto para quem mora na periferia da cidade, os polos de trabalho são sempre distantes e o deslocamento toma um tempo precioso do dia. Tirar o tempo de ócio – interesse deste “capitalismo selvagem” em que estamos inseridos – é tirar o lazer criativo e a possibilidade de justamente transitar por esses espaços culturais, de amadurecer ideias e de realmente produzir cultura. Sem esse elemento, que a primeira vista parece tão banal, é criado o ciclo de alienação: casa-trabalho-casa-comida-roupa-filhos.

O documentário busca dar voz a esses indivíduos e mostrar sua produção através do resgate de redes de colaboração e do sentimento de se viver em comunidade, ato desprezado por nós atualmente. Esses projetos selecionados nos mostram que é possível resgatar essa sensação de pertencimento à uma coisa coletiva, o que é e como se dá a transformação social em áreas de periferia.

É prazeroso ver uma produção independente, realizada graças a um financiamento coletivo, poder chegar às telonas, para contar histórias de protagonistas que no cotidiano são vistos como coadjuvantes, falando sobre representatividade, coletivismo e equidade segundo temáticas raciais, econômicas e de gênero. O gosto de quero mais ao final do filme, é uma forma de carência de maior aprofundamento na vida das pessoas beneficiadas com os projetos, a mim, faltou ouvir essas vozes, apesar disso, é bom ver que cada um, à sua maneira está deixando sua marca no mundo e principalmente na comunidade em que vive.

Conheça os projetos e os visionários:

Amanda Negra Sim: Cantora, MC, compositora e fundadora da Casa Herdeiras de Aqualtune. Desenvolve atividades socioculturais com diversos grupos e coletivos na região do Capão Redondo, trabalhando com a difusão da cultura afro brasileira.

Dimas Reis conecta ideias, pessoas, projetos e negócios. Morador da Brasilândia, ativista e guardião, atua nas áreas da cultura, saúde e meio ambiente. Hoje busca criar conexões que fortaleçam as culturas e povos tradicionais, em principal na garantia de direitos.

Gal Martins é dançarina, Co-fundadora e Diretora da Companhia de dança CIA Sansacroma e do projeto zona Agbara. Usa a dança para transformar realidades. Junto com um grupo de mulheres, utilizam narrativas corporais como a principal ferramenta de transgressão e afirmação da estética negra.

Fabio LOL é produtor cultural e arte educador. Articulador de cultura na região da Brasilândia, luta para que a Praça 07 Jovens no Jd Elisa Maria, onde seu coletivo atua com o Samba do Bowl, saraus e exibições de filmes, seja um espaço de vivências e convivência. Trás a reflexão sobre a importância da ocupação dos espaços públicos.

Rose Modesto é educadora e coordenadora no Centro de Profissionalização de Adolescentes em São Matheus, zona leste. Foi conselheira tutelar, sendo uma grande defensora dos direitos da criança e do adolescente.

Guilherme Petro é jornalista e gastrônomo, com um olhar crítico para toda cadeia de produção alimentar, participou da criação do Prato Firmeza – Guia gastronômico das Quebradas de SP junto com o grupo Énois.

Alex Santos é estilista e criador do P.I.M – Periferia Inventando Moda, que forma modelos, fotógrafos e maquiadores para atuar na área.

Tony Marlon tem mais de seis projetos educativos – como o Historiorama – focados nas áreas de Juventude, Educação e no Desenvolvimento de Comunidades.

Rodrigo Costa é artista e porta-voz do Coletivo Arouchianos. Nascido em Araraquara, veio para São Paulo e sua trajetória passa pela Brasilândia. Milita ativamente com questões LGBTQI.

Favela da Paz é composta por mais de um porta-voz. A casa fica na região do jardim Nakamura e os moradores nos fazem refletir sobre questões como Alimentação Saudável e vegetarianismo nas periferias.

Visionários da Quebrada

Ano: 2018
Direção: Ana Carolina Martins
Roteiro: Sofia González
Elenco principal: Amanda Negra Sim, Rodrigo Costa, Dimas Reis, Gal Martins, Fabio LOL, Rose Modesto, Guilherme Petro, Alex Santos, Tony Marlon, Coletivo Favela da Paz
Gênero: ​Documentário
Nacionalidade: Brasil

Avaliação Geral: Avaliação Geral