Por Felipe Teixeira

O diretor do filme mais assistido do ano passado em Portugal e que levou milhões de pessoas aos cinemas da Europa em 2013 não foi um Zack Snyder ou um Peter Jackson. E tampouco o filme tão bem sucedido foi um blockbuster milionário hollywoodiano. Foi o jovem francês e estreante Ruben Alves, responsável pelo roteiro e direção do filme A Gaiola Dourada, sucesso de crítica e público europeu que só agora chega ao Brasil. Filho de portugueses que imigraram para França, Ruben dedicou seu trabalho aos próprios pais e a todos aqueles que um dia deixaram sua terra natal.

Após a pré-estreia de seu primeiro longa-metragem, realizada no Cinemaison, no Rio de Janeiro, o Cinemascope conversou com o simpático diretor sobre seu relacionamento com os atores, o cinema de Hollywood, e, como não poderia faltar, sobre futebol.

Cinemascope: O elenco do filme tem atores muito experientes como Joaquim de Almeida e Rita Blanco. Como foi trabalhar com artistas tão famosos logo em seu primeiro trabalho como diretor? Eles também te ensinaram alguma coisa?

Ruben Alves: Foi a primeira vez que dirigi um longa-metragem, mas já tinha alguma prática de pequenas produções anteriores, quando fazia uns curtas e filmes nas férias com alguns amigos. O produtor do filme, inclusive, é um amigo de infância. A principal diferença, claro, é o orçamento que você tem para realizar seu trabalho, mas tentei não pensar muito nisso. Antes do início das filmagens, me encontrei com os atores e acertei alguns detalhes, e eles falaram que sabiam o que eu queria, sentiram confiança em mim, e isso foi muito bom. Não senti nem frio na barriga na hora de gravar a primeira cena, eles disseram que parecia que eu já havia feito uns cinco filmes!

CS: Segundo o inquérito internacional Transatlantic Trends, em 2013, os portugueses se declararam os europeus mais afetados pela crise econômica. Como você se sente sabendo que A Gaiola Dourada foi o filme mais assistido do ano nesse país em tempos tão difíceis e com ingressos cada vez mais caros?

Ruben Alves: Isto foi incrível! Incrível. Fiquei muito orgulhoso e foi o que mais me surpreendeu, na verdade. Agradecia a todos que foram assistir ao filme porque sabia da situação financeira de muitas pessoas, então foi realmente muito gratificante. Mas também acho que o tom da produção foi importante. Há uma alma portuguesa neste longa-metragem que gerou uma forte identificação com os espectadores. Considero A Gaiola Dourada como um remédio contra a crise: é leve, divertido e autêntico, e os portugueses estavam precisando ver algo assim, porque é melhor você comprar um ingresso para um filme que te faça bem do que comprar um antidepressivo.

CS: É possível reparar algumas semelhanças entre A Gaiola Dourada e alguns filmes e comédias brasileiras. O que você conhece de produções feitas aqui no Brasil? Já assistiu a alguma novela?

Ruben Alves: Acho que todo brasileiro tem um pouquinho de Portugal e todo português tem um pouquinho do Brasil. Infelizmente, não tenho tido muito contato com os filmes brasileiros, até porque na França, onde passo grande parte do tempo, não chegam muitos filmes do Brasil. Mas assisti a Cidade de Deus, Tropa de Elite e fiquei encantado com a Fernanda Montenegro em Central do Brasil. Antigamente, só havia novelas brasileiras em exibição nas TVs lusitanas, mas hoje Portugal já tem suas próprias produções. Uma das novelas que fez muito sucesso por lá foi Avenida Brasil. Todo mundo comentava o tempo todo e até minha irmã ficou viciada!

CS: Antes da exibição do filme, no evento da pré-estreia, um dos membros de sua equipe disse que o longa-metragem não custou dezenas de milhões de dólares nem tinha efeitos visuais deslumbrantes. Qual a sua visão sobre o cinema de Hollywood nos dias de hoje?

Ruben Alves: Acredito que um dos principais problemas dos filmes norte-americanos e de seus diretores nos dias de hoje é que eles abrem mão de seus interesses em prol dos interesses do estúdio. Como A Gaiola Dourada é focado em uma família portuguesa que vive na França, eu queria que os atores fossem realmente de Portugal. Alguns membros da produção ficaram surpresos, pois haviam pensado em atores franceses mais conhecidos, mas persisti e eles aceitaram. Não há nada mais importante em um filme do que sua história, seu roteiro, nada. Muitos produtores não insistem para trabalhar no roteiro e acho que isso é errado. Levei muito tempo no roteiro de A Gaiola Dourada, mesmo com um forte elenco no filme. Porque não adiantam somente grandes atores ou efeitos especiais magníficos, você precisa ter uma boa história sendo contada. É importante não deixar de lado suas ideias e lutar pelos seus instintos e pelo o que você considera melhor para o filme.

CS: Mudando completamente de assunto, não poderia deixar de perguntar sobre a Copa do Mundo! Você como um filho de portugueses que mora na França e ama o Brasil, está torcendo pra quem?

Ruben Alves: Ah, meu primeiro time é sempre Portugal, em segundo a França e só depois o Brasil! Mas como não gosto muito desta atual equipe francesa, torço para o Brasil se Portugal perder. Mas é sempre bom lembrar que temos Cristiano Ronaldo, que pode decidir qualquer jogo a qualquer hora e acho que ele pode levar Portugal até a final. E imagina uma final entre Brasil e Portugal? Seria um espetáculo! Mas se tudo der errado pra todo mundo, aprendi que aqui basta tomar uma caipirinha pra relaxar. Imagina na Copa!