Por Magno Martins

Após toda uma filmografia de sucesso, Charles Chaplin, aos 77 anos, ainda tinha mais um filme para produzir. Com um projeto já pensado 30 anos antes de sua execução, Chaplin encerrou sua carreira como diretor, roteirista, produtor, criador da trilha sonora e ator no filme A Condessa de Hong Kong.

Inicialmente, o filme tinha o nome Stowaway, porém, Chaplin resolveu alterar o título de acordo com a história do longa e até então seria estrelado por Paulette Goddard, que já tinha atuado em O Grande Ditador e Tempos Modernos e foi esposa de Chaplin entre os anos de 1932 a 1940. A Condessa de Hong Kong foi o primeiro filme de Chaplin que foi financiado por um grande estúdio, a Universal Pictures, onde, pela primeira vez, ele não precisou investir em uma produção sua, com investimento de 3,5 milhões de dólares, o longa foi filmado totalmente nos Estúdios Pinewood, em Londres. No período de contratação dos atores para o filme, Chaplin ofereceu o papel para o ator Rex Harrisson (um ator inglês que fez muito sucesso em filmes como Cleópatra e My Fair Lady, ao lado de Audrey Hepburn), porém o ator recusou o papel, que acabou ficando com o ator Marlon Brando.

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O filme conta a história da belíssima Natascha (Sophia Lauren), vítima da Revolução Russa que fez com que diversos nobres russos fugissem de seu país natal para China e Hong Kong. Natascha e suas outras duas irmãs, mesmo consideradas de outro nível social em Hong Kong, tiveram que se prostituir. Nesse meio tempo, o empresário Ogden Mears (Marlon Brandon) aporta em Hong Kong juntamente com seu assessor Harvey (Sydney Chaplin) e resolvem sair para se divertirem. Ao serem apresentadas para o empresário, Natascha e suas irmãs decidem sair para dançar e jantar com os cavalheiros, mas Natascha percebe que essa seria sua grande chance de mudar de vida. Então, a moça resolve se esconder na cabine de Ogden, com o intuito de buscar uma vida melhor nos EUA.

E é a partir disso que uma série de contratempos acontecem: Natascha é descoberta por Ogden em sua cabine, mais precisamente escondida em sua cabine. Após implorar e muito pela ajuda de Ogden, Natascha consegue com que o empresário a ajude ir para a América. E é nesse meio tempo que o amor nasce entre os dois, mesmo que  Ogden já fosse casado com uma mulher apenas para manter laços empresariais e reputação na mídia. Com isso, Natascha e Ogden protagonizam momentos muito engraçados, alguns até embaraçosos no filme, transformando a história numa típica comédia romântica.

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Na época, Brando declarou que era um sonho prestes a ser realizado ao atuar em um filme de Chaplin. Mas durante as filmagens, Charles Chaplin enfrentou alguns problemas com Marlon Brando: o ator não aceitava a forma e o perfeccionismo de Chaplin ao filmar as cenas. Sophia Loren chegou a declarar que reparou que Marlon iniciou no filme magro e terminou meio gordo, já que o ator só se alimentava de sorvetes nos sets de filmagem para diminuir sua ansiedade e brigas diretas com Chaplin. Além de Sophie e Marlon, Chaplin ainda contou com a atuação de seus filhos Sidney (Harvey) e Geraldine Chaplin. Assim como no filme Casamento ou Luxo, Chaplin faz uma breve participação no filme, onde seu personagem não tem nome. Além dos problemas com Brando, Chaplin sofreu um acidente, onde seu pé se prendeu em uma grade, e, consequentemente, quebrou seu tornozelo.

Cinemascope - A Condessa de Hong Kong - 4A Condessa de Hong Kong foi o primeiro filme de Chaplin gravado totalmente a cores. Sim, levou muitos anos para que o diretor se adaptasse às transformações do Cinema, já que demorou anos para se adaptar ao cinema falado. Lançado em 1967, o filme tinha 120 minutos na sessão première, mas a versão exibida nos cinemas americanos foi de apenas 108 minutos. A Condessa de Hong Kong se tornou a maior bilheteria de toda a carreira de Charles Chaplin, arrecadando 2 milhões de dólares. Porém, essa arrecadação para época, foi considerada um fracasso diante dos demais filmes lançados no mesmo período.

Mesmo diante de tantas controvérsias, é inquestionável o trabalho brilhante de Chaplin em A Condessa de Hong Kong. Mesmo aos 77 anos e tirando do fundo do baú um projeto cinematográfico, Chaplin escreveu, dirigiu e produziu o filme com a mesma maestria dos demais filmes já produzido. Sua visão sempre voltada para os personagens vitimados de uma sociedade tão cruel faz com que seus filmes sejam muito mais humanos e compreensíveis do que de qualquer outro diretor da época. E sim, Chaplin encerrou sua carreira com este filme como um grande gênio do Cinema, com muito talento e mostrando, mais uma vez, o dom que só ele tinha ao levar uma história para o público que o acompanhou até os últimos dias tanto no mundo do cinema quanto de sua própria vida.

Confira o trailer: