Por Breno Bringel

Filmes sobre guerras são constantes em Hollywood. Desde Asas, filme mudo ganhador do primeiro Oscar de Melhor Filme, essa temática é explorada das mais variadas formas, muitas vezes de maneira repetitiva e limitada. Assim, quando um diretor como Stanley Kubrick adentra por essa rica temática, temos como resultado uma das mais interessantes visões desse gênero, o ótimo Nascido para Matar, penúltimo filme deste realizador.

Dividindo o longa em duas partes, o roteiro de Kubrick indicado ao Oscar, adaptando o livro “The Short Timers”, conta a história de um grupo de jovens destinados a ir lutar pelos EUA na Guerra do Vietnã, desde o  treinamento até o findo destino.

Cinemascope - Nascido para matar1

Focando seu longa não nos combates ou na política da guerra, mas sim em seus protagonistas, os vários jovens enviados para o outro lado do mundo para matar e morrer, Kubrick expõe a sua ideia do que de fato uma guerra representa, a perda da inocência e o nascimento de verdadeiros assassinos programados.

Logo de início, Kubrick já nos apresenta, por meio de uma bela metáfora, o que esses jovens irão passar a partir daquele momento. Assim, o cortar dos cabelos dos personagens nada mais é do que a perda dos sonhos e esperanças futuras daquelas pobres almas.

Revolucionando também o gênero, Kubrick aborda inicialmente todo o cruel, desumano e enlouquecedor treinamento daqueles soldados, que resulta, inclusive, em um trágico acontecimento com um dos recrutas. Assim, nos mostrando tudo o que antecedeu a guerra em si, o longa aprofunda a relação entre os próprios personagens e entre estes e o espectador, fazendo com que nos identifiquemos mais.

Cinemascope - Nascido para matar2Em um elenco homogêneo, composto por vários jovens atores da época, se destacam Matthew Modine, Adam Baldwin, Vincent D’Onofrio. Entre os atores veteranos, o destaque vai para R. Lee Ermey, que interpreta o Sargento Hartman, responsável pelo treinamento dos novos soldados. A experiência de Ermey como Sargento do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos o ajudou, inclusive, a conseguir o papel no longa, já que ele havia sido contratado inicialmente como Consultor Militar, mas ao demonstrar como deveria agir o ator escalado para o papel, acabou por impressionar o diretor e protagonizar uma das cenas mais memoráveis e históricas do filme, quase completamente no improviso.

Apresentando, ainda, vários planos memoráveis com uma belíssima fotografia evocando os cenários da guerra, Kubrick encerra o longa com a cena da batalha final que, ao mesmo tempo, seria também o renascimento daqueles jovens soldados, agora experientes máquinas de matar.

Veja o vídeo: