Por Magno Martins

 

Ouro Preto mais uma vez é palco de uma das maiores mostras de cinema do Brasil: 8ª Mostra de Cinema de Ouro Preto. Com uma extensa programação gratuita para o público em geral, de 12 a 17 de junho de 2013, o evento conta com diversos seminários, debates, oficinas e, claro, muitos filmes brasileiros que integram a temática da 8ª CineOP – o cinema brasileiro entre o golpe militar e o AI-5.

 

O primeiro filme da mostra foi Terra em Transe (1967), do renomado diretor Glauber Rocha, uma dos maiores expoentes do Cinema Novo e retrata um momento histórico de extrema importância para o Brasil: o Golpe de 1964. O filme gira em torno do jornalista e poeta Paulo Martins que vive entre a poesia e política no país nomeado “Eldorado”, acompanhando e influenciando um grande momento desse fictício país, através da política, meios de comunicação, religião e etc. Uma curiosidade é que devido à ditadura, os negativos originais do filme foram queimados aqui no Brasil. A cópia exibida no CineOP é uma restauração encontrada em uma TV alemã há pouco tempo.Confira um trecho do filme Terra em Transe:

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A abertura oficial da Mostra aconteceu no Cine Vila Rica. Uma orquestra, na porta do local e performance audiovisual assinada por Chico de Paula e André Amparo deu boas vindas aos participantes do evento. A performance contou ainda com a participação especial de Rodolfo Vaz – ator que já acumulou diversos prêmios e desde 1989 integra o Grupo Galpão – e do DJ Rafael Soares.

Os momentos mais emocionantes da noite de abertura, sem sombra de dúvidas, foram as homenagens. A cada edição, o CineOP tem como objetivo também de reconhecer grandes cineastas que fizeram ou ainda fazem a diferença no cenário audiovisual brasileiro. Este ano dois grandes nomes foram reconhecidos e homenageados: Jurandyr Noronha e Walter Lima Jr.

É incrível ver como que era o cinema no Brasil na década de 1960, mesmo com tanta repressão por conta da Ditadura, das perseguições, do medo e da sede de liberdade, Jurandyr e Walter, assim como demais cineastas da época, demonstraram em seus registros audiovisuais muita riqueza cultural, criatividade, visão e talento.

A linguagem documentarista e pesquisador de Jurandyr Noronha, que é um ícone da preservação audiovisual brasileira e aos 97 anos foi eleito presidente honorário daABPA – Associação Brasileira de Preservação Audiovisual, deu vida ao curta “Uma Alegria Selvagem”, que conta a trajetória de ninguém menos que Alberto Santos Dumont, o pai da aviação. O mais interessante é ouvir, durante o filme, a própria voz de Santos Dumont, além de descobrir curiosidades sobre o mesmo, como sua altura (muito abaixo da média) e sua sagacidade em aprender e aplicar conhecimentos para a aviação. Um grande e precioso registro de um dos maiores ícones da história do Brasil.

Já o filme Brasil Ano 2000 (1968), do homenageado Walter Lima Jr – autor de clássicos do cinema brasileiro como Menino de Engenho A Lira do Delírio – , se volta para a realidade de uma família que resolve migrar para o norte do Brasil, em busca de uma vida melhor. As dificuldades, conflitos de gerações, valores religiosos e poder, são alguns dos ingredientes que dão vida a essa história. O cineasta subiu ao palco acompanhado por Nelson Pereira dos Santos, Francisco Ramalho Jr e Maurice Capovilla, três dos mais significativos diretores daquele período, expandindo a homenagem para um contexto mais amplo, daqueles realizadores que enfrentaram a ditadura com seus filmes e convicções. “Tenho muito orgulho dessa geração aqui representada, que dedicou não apenas seu cinema ao Brasil, mas também sua vida”, declarou, emocionado.

Confira um trecho do filme Brasil Ano 2000:

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