Francesca Jaynes trabalhou com grandes nomes do cinema atual como Tim Burton e Alfonso Cuarón. Começou sua carreira como bailarina e no teatro até que um dia, ainda jovem, teve a oportunidade de trabalhar com o diretor inglês Mike Leigh. A partir daí, sua carreira foi crescendo cada vez mais como coreógrafa e diretora de movimento. Trabalhou em filmes como X-Men: Primeira Classe (2012), Vingadores: Era de Ultron (2015), Alice Através do Espelho (2016) e Dumbo (2019).

Foto: Divulgação

No início, Francesca dançou ballet clássico por anos na Bush Davies School of Theatre Arts e sempre pensou que seria dançarina. Tudo mudou no dia em que sofreu um sério acidente que a levou a se tornar coreógrafa.

Após o acontecido, por indicação de uma amiga, ela começou a coreografar. Era ainda muito nova e achava que não tinha vocação para aquilo, mas com o decorrer do tempo foi desenvolvendo sua técnica e ganhando mais espaço. A certeza veio mesmo quando o cineasta Mike Leigh estava procurando alguém que tinha trabalhado no teatro e não tinha tanta experiência no cinema. Assim, Francesca teve sua primeira grande oportunidade.

Depois de trabalhar com Leigh, foi indicada a Spielberg. Segundo ela diz, “se você não tiver um currículo, você não tem chance”. Foi aprendendo a observar, ganhando cada vez mais experiência e conseguiu a oportunidade de ser a coreógrafa em A Fantástica Fábrica de Chocolate, do Tim Burton.

Os três diretores são bem diferentes uns dos outros, conta. “Tim gosta que você vá lá e faça, não é do tipo de diretor que fica falando, ele visualiza, gosta de ver. Durante a produção de Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (2007), notou que havia uma cena de estupro e foi a partir disto que passou a desenvolver movimentos animalescos com os atores, “era preciso observar, estudar qual período histórico era, qual classe social da população que pertencia àqueles personagens”.

Já em Gravidade (2013), de Alfonso Cuarón, foi outro processo artístico: era preciso estudar, imaginar como o corpo humano se movimenta naquele ambiente específico, puro movimento. Algo muito diferente de musicais como Muppets 2: Procurados e Amados (2014), por exemplo, que segundo ela são os mais fáceis do público ver o trabalho dos coreógrafos e diretores de movimento. “O trabalho que fazemos é o trabalho que você não necessariamente vê, por que de qualquer maneira ele precisa ser visto”, diz ela.

Bastidores de “A. I. Inteligência Artificial” Foto: moviestillsdb.com

Em outros trabalhos, para gestos simples, como subir uma escada ou abrir uma porta, a inspiração vem de grandes nomes como Gene Kelly e Fred Astaire. De qualquer forma, é um trabalho marcado pela sensibilidade e instinto de ação e reação. “Se você toca em algo, o modo com que isso se mexe e reage depois tem que ser exatamente aquilo, é instinto, mas ao mesmo tempo um jeito matemático de se coreografar”, afirma.

Em seu processo criativo, a diretora de movimento afirma que cada projeto é único, a primeira coisa que faz é ler o roteiro, procurar danças e informações do período, e se tem música envolvida, então, as primeiras coisas são a narrativa e a música.

Sweeney Tood. Foto: divulgação

Francesca conta que se tornou coreógrafa por acidente, mas que sua carreira foi um misto de sorte e muito trabalho duro, com variados estilos de dança. Quando começou não existiam escolas para coreógrafos como hoje. Era preciso saber, estudar, assistir e criar. Ela lembra que uma vez pediram uma coreografia russa para ela de um dia para o outro, ela prontamente aceitou.

Como conselho para novos coreógrafos, Francesca diz que é pegar o trabalho que oferecerem, seja o que for, e que “cada trabalho é importante como qualquer outro, pois com ele você aprende, treina e nunca se sabe com quem está trabalhando, pode ser que aquele jovem diretor amanhã seja um grande nome da indústria. É preciso amar o que faz. ”

Uma pergunta que frequentemente recebe é o que o diretor de movimento e o coreógrafo fazem. Ela diz que é mostrar como os movimentos podem dar luz e vida a uma narrativa, ajudar atores com seus personagens, abrir um mundo novo para eles. É difícil de explicar detalhadamente, cada trabalho e história são únicos, mas o movimento é a grande força de uma ação.

*Esta postagem faz parte da cobertura do Cinemascope no 14° FEST – New Directors New Films Festival.