Por Wallacy Silva

Muito se fala sobre a violência nos relacionamentos. Quando alguém que, vítima de uma situação como essa, não denuncia o parceiro, logo justificamos o não ato pelo medo que a vítima sente. Porém, esquecemos que antes dessa categorização agressor-agredido, temos a namorado-namorada, marido-mulher. Antes do medo, há o amor. O que é preciso para colocarmos o amor em dúvida? Não, não estamos diante de um filme sobre violência doméstica. Estamos diante de um filme sobre as diversas formas que o amor pode assumir.

O filme nada mais é do que a dramatização de relatos reais, recolhidos, selecionados e roteirizados pelo diretor João Jardim. Nos relatos, agressores e agredidos, física e psicologicamente, dão seus depoimentos de como foi passar pela experiência de um relacionamento desse tipo, quais as suas sensações antes, durante e depois de concretizados os atos de violência. Mas, claro, não só de ouvir é feito o filme e o diretor explora bastante o campo visual. Em determinada cena, por exemplo, ao mesmo tempo em que ouvimos o depoimento de Fernando (Eduardo Moscovis) também o vemos no banheiro, fazendo a barba. Aí se caracteriza uma fusão dos campos visual e auditivo, pois sentimos que, através de ambos, estamos penetrando no extremo íntimo do personagem.

Algumas tomadas estão entre um depoimento e outro. Em nenhum momento vemos cenas que fazem alusão à violência, muito pelo contrário, as cenas sempre remetem a sensações boas, como casais em momentos de extremo carinho. Através dessas representações o diretor chama atenção para um aspecto importante: se por vezes nós “suportamos” momentos desagradáveis dentro de uma relação, é justamente porque já foram muitos momentos agradáveis, porque já vivemos situações inesquecíveis com o parceiro, mais do que suficientes para cultivar o amor. Outro elemento muito presente durante o filme é a água. Ela representa tanto o alívio, o lugar seguro e a leveza, se contrapondo à dureza dos depoimentos, quanto a volubilidade, a instabilidade e a inconsistência, que são inerentes a qualquer relacionamento.

Amor? é um filme denso. O elenco de primeiríssima linha também é importante para nos deixar mais confortáveis diante do apanhado de histórias e revelações que, a primeira vista, tinha tudo para nos deixar chocados. Mas a impressão com que ficamos, após o filme, é que não imaginávamos quão tênue é a linha que separa o amor do desamor. Ainda assim continuaremos incapazes de defini-la. Não é à toa que somos convocados à reflexão através de uma sutil, mas definitiva, interrogação.

 

Cinemascope---Amor-PosterAmor?

Ano: 2010.

Diretor: João Jardim.

Roteiro: João Jardim.

Elenco Principal: Lilia Cabral, Eduardo Moskovis, Letícia Collin,Eduardo Moscovis.

Gênero: Drama.

Nacionalidade: Brasil

 

 

Veja o trailer:

https://www.youtube.com/watch?v=ZyYeYZQHj0o

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