Na data que comemoramos o Dia Internacional da Mulher trago para você o filme indiano Dangal, de 2016. Ele conta a história de Mahavir Singh Phogat e suas duas filhas mais velhas, que ganharam medalhas na luta livre olímpica.

Mahavir é um ex-lutador que teve que desistir de seu sonho de ganhar uma medalha de ouro pelo seu país, pois ser atleta não dava dinheiro o suficiente para se manter. Alguns anos depois, ele e sua mulher tiveram a primeira gravidez. Singh prometeu que seu filho ganharia a medalha que ele não pode ganhar. Mas nasceu uma menina. Na segunda gravidez, outra menina. Na terceira e na quarta, outras duas meninas.

Morando em uma pequena vila, e na Índia, já era de se esperar que Singh era visto pelos vizinhos como um homem, vamos dizer, frouxo, pois não conseguiu ter o seu filho homem. E ele também desistiu de treinar alguém para concretizar o seu sonho.

Passaram-se dez anos, um dia ele chegou em casa e descobriu que suas filhas haviam entrado em uma briga na escola, e haviam batido em 2 garotos! Mahavir viu aí sua chance de treinar um filho e passar seu legado à ele. Como ele diz no momento em que percebeu que poderia treinar suas filhas: “Um ouro é um ouro”.

Lutando contra o preconceito da vila inteira, e da própria família, ele treinou as meninas e mais tarde as duas conquistaram medalhas pelo país e serviram de inspiração para muitas outras meninas indianas, que antes só acreditavam que casariam e cuidariam da casa.

CALMA! Não me crucifiquem por ter contado o fim do filme, ele foi baseado em fatos reais! Mahavir existe, assim como suas filhas campeãs, Geeta e Babita. O filme, apesar de ter como inspiração a vida deles, tem suas licenças poéticas (e em alguns momentos essa licença fica bem fácil de perceber).

Dangal estreou em 2016 (você pode assisti-lo na Netflix), e ainda é um dos filmes de língua estrangeira que mais faturaram ao redor do mundo. Dirigido por Nitesh Tiwari, o filme foi muito elogiado pela crítica por se manter fiel ao que é a vida real. O diretor não tem muitos anos de experiência, mas soube entregar uma direção ótima, principalmente em relação aos atores.

O filme tem produção da Walt Disney India, e também de Aamir Khan, que estrela no papel de Mahavir Singh. Sensacional como sempre, Aamir nos leva do amor por seu personagem, ao ódio por ele estar fazendo as meninas sofrerem tanto no processo para se tornarem campeãs, e ao amor de novo, nos fazendo ver como ele as adora, e está fazendo tudo para essas meninas terem algo mais na vida, diferente do que ele teve.

A música entra para pontuar momentos da narrativa, e não apenas como um número musical que transforma todo cenário das cenas. As cenas de luta foram muito bem ensaiadas e as atrizes que fizeram Geeta e Babita (Fatima Sana Shaikh e Sanya Malhotra, respectivamente) treinaram mesmo luta olímpica e não tiveram dublês na maioria das cenas.

Mas onde entra esse empoderamento por acaso do título do texto? Entra a hora que assistimos o filme, sabemos que essa história é real, e que em uma vila, num dos estados mais conservadores da Índia (Haryana), no meio dos anos 90, teve um pai que em busca do seu sonho tirou suas filhas de dentro de casa e falou que elas não seriam donas de casa. Ele foi contra a família, contra a sociedade machista (que ainda é muito forte no país), e fez delas campeãs de medalhas e de exemplos.

Depois que elas começaram a lutar, e ganhar (muitas vezes de meninos), várias outras meninas que estavam fadadas a um casamento cedo, lá pelos 14 anos de idade, que tinham com futuro apenas cuidar do marido e dos filhos, viram que o mundo era muito mais que aquilo, que elas podiam decidir o que fazer, com quem casar e quando.

Se você não achar que esse pai começou todo um movimento de empoderamento (em uma época que nem essa palavra existia) por acaso, você está fazendo alguma coisa errada…