Por Livia Fioretti

 

Viagem à Lua (Le Voyage Dans La Lune; 1902) é o trabalho mais famoso do pioneiro cinematográfico George Méliès.

Inspirado em sua posição como grande mágico, no final do século XIX, Méliès provou sua veia inovadora ao observar uma grande oportunidade na principal obra dos irmãos Lumieré, que não foi disponibilizada pelos inventores ao futuro diretor. O francês conseguiu ver no cinematógrafo a possibilidade de transformar realidade em ficção, fantasia e criatividade, recebendo atualmente o título de “pai dos efeitos especiais” (com muita razão!). Além de diretor, trabalhou também como produtor, roteirista, cenógrafo, diretor de fotografia e muitas vezes ator principal em mais de 500 obras criadas por ele entre os anos 1896 (um ano após a criação do cinema!) e 1913. Infelizmente, grande parte da filmografia de Méliès foi destruída ou se perdeu no tempo.

Cinemascope - Viagem a Lua 3

O roteiro de Viagem à Lua contou com a participação do irmão do diretor, Gaston Méliès. A obra foi inspirada nos livros “Da Terra à Lua” de Julio Verne e “Os Primeiros Homens na Lua”, de H. G. Wells e conta a trajetória de cinco astrônomos que viajam à Lua em uma capsúla, onde são atacados por extra terrestres. Após uma divertida batalha, os viajantes conseguem capturar um selenita e voltam como heróis para a Terra.  O interesse pelas obras de Méliès, principalmente Viagem à Lua, foi  incrivelmente retomado após a história do mágico ser retratada por Martin Scorsese no filme A invenção de Hugo Cabret (2011).

Além de possuir a clássica imagem do foguete aterrissando no olho da Lua, em uma explosão melequenta, o filme foi tanto o primeiro do gênero ficção científica quanto a retratar alienígenas. É interessante ressaltar que o filme foi lançado (APENAS!) sete anos após a invenção do cinematógrafo (e 67 anos antes do homem realmente pousar na Lua!) e já apresentava conceitos de montagem (principalmente sobreposição, fusão e exposição múltipla de imagens) e efeitos especiais consideravelmente avançados para a época. Não precisa de mais argumentos para provar o quão revolucionária e importante a obra foi para a sétima arte, certo?

Cinemascope - Viagem a Lua 2

Além de tudo, as partes coloridas foram feitas manualmente! Como é o caso da cena final, que acreditava-se estar perdida antes de ser encontrada junto de alguns restos da filmografia do diretor, em 2002 na França.

Méliès não só tinha a intenção de lançar sua obra prima nos EUA quanto pretendia lucrar com tal. Entretanto, técnicos de Thomas Edison secretamente distribuíram cópias não autorizadas no país, ganhando muito dinheiro e levando o autor à falência. Atitude que pode ser considerada precursora da pirataria como conhecemos hoje.

Mais de 100 anos se passaram desde o lançamento da obra e tais produções continuam encantando platéias de uma sociedade que mesmo possuindo uma linguagem cinematográfica consolidada, ainda fica boquiaberta com a revolução que um homem de grande visão pôde promover, transformando elementos documentados no que conhecemos hoje por sétima arte.

Você não sabia que…

– A obra é composta por mais ou menos 30 cenas, que não possuem nenhum diálogo ou closes. Além disso, George Méliès listou-as como capítulos em seu catálogo, quase como são os menus dos DVDs atualmente.

– A banda americana Smashing Pumpkins se baseou no filme na criação do videoclipe do hit “Tonight Tonight”, que recebera diversas premiações. O navio que aparece no finzinho leva o nome de Méliès em homenagem ao diretor.

Veja o trailer: