Por Fausto Fernandes

Hollywood tem um fraco por transformar personagens reais em heróis supremos, como em Erin Brockovich (2000) e Milk (2008). A receita se repete em Capitão Phillips, filme baseado no livro “Dever de capitão”, que conta a história do sequestro de um navio cargueiro norte-americano por pescadores somalis em abril de 2009.

O herói da vez é o Comandante do Maersk Alabama, Richard Phillips, esposo devotado e pai atencioso, mesmo não tão presente, além de profissional ético e sério. Com o decorrer do perigo, ele não mede esforços para salvar sua tripulação, a carga e a vida. São raros os momentos de fragilidade. Tom Hanks, como há tempos não víamos, interpreta o personagem título e merece todos os elogios que vem recebendo. Sua atuação melhora a cada cena e no final, percebemos porque é um dos melhores atores da atualidade e fonte de inspiração para muitos.

Ironicamente, quem se destaca mesmo na tela é o antagonista da saga, o pescador-sequestrador Muse, interpretado pelo estreante Barkhad Abdi. Seus olhares intimidam e não saem da cabeça mesmo depois que a sessão termina. Visceral e cruel, o coloco no rol dos “vilões” mais interessantes do que os próprios mocinhos.

O filme teve sua estreia no Festival de Nova York e foi muito bem recebido pela crítica, porém, teve uma recepção morna pelo público norte-americano. Um dos grandes méritos do diretor Paul Greengrass (dos dois últimos filmes da trilogia Bourne) foi transformar o espectador em um dos tripulantes, como aconteceu recentemente em Gravidade, no caso do “Capitão” a câmera subjetiva foi substituída pela steadycam.

Esteticamente, também pode-se perceber a diferenciação dos mocinhos e bandidos através das cores. Os Somalis são retratados em cores quentes e os americanos nas frias e até mesmo quando estão juntos, vemos tais diferenças (no figurino), salvo raras exceções.

Com roteiro forte e dinâmico, vemos a tentativa de humanizar os vilões. Em alguns momentos entendemos seus motivos e até nos solidarizamos com eles. Um dos exemplos disso é quando, em uma tentativa frustada do capitão em fazer com que seus mártires se rendam, Phillips argumenta: “Existe uma maneira diferente do que ser pescador ou sequestrar pessoas”. Olhando fixamente ao capitão, Muse responde, “Talvez na América”.

Cinemascope - Capitão PhillipsCapitão Phillips (Captain Phillips)

Ano: 2013

Direção: Paul Greengrass.

Roteiro:  Billy Ray.

Elenco principal: Tom Hanks, Catherine Keener, Barkhad Abdi.

Gênero: Drama, Suspense.

Nacionalidade: EUA


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