Por Mario Neto

Ao buscar uma espécie de resgate às suas raízes cinematográficas, o diretor espanhol Pedro Almodóvar abdica de seu recente legado de obras tocantes e dramáticas, para reencontrar seu estilo mais cômico e absurdo, visto que as comédias rasgadas marcaram o início de sua carreira. Contudo, esse resgate é executado de maneira desleixada e a sensação que fica é a de displicência.

O longa-metragem se inicia com uma sequência de diálogo entre Antonio Banderas e Penélope Cruz, que interpretam papéis extremamente pequenos, dando vida a um casal de simples funcionários de um aeroporto. Ao receber uma notícia impactante de Jessica (Cruz), Léon (Banderas) esquece de firmar uma peça no trem de pouso de um dos aviões, algo que o danifica, fazendo com que o boing seja obrigado a sobrevoar os arredores até que obtenha a permissão de fazer um pouso forçado e extremamente arriscado. Dentro do avião diversos personagens agem de maneira surreal em resposta a terrível situação que se encontram, regados a muito álcool, drogas, homossexualidade e libertação sexual.

O filme, por completo, soa como um grande show de esquetes, piadas banais, personagens afetados e demasiadamente caricatos, performances estapafúrdias, e pseudo-crítica social, preenchem uma fraca (des)construção narrativa, sem qualquer preocupação com arco dramático ou cadência rítmica. A tônica se desenvolve na proposta de registrar as excentricidades cômicas do universo gay, representado pelas figuras dos três comissários de bordo homossexuais, Joserra (Javier Cámara), Ulloa (Raul Arévalo) e Fajas (Carlos Aceres), e tudo que se desdobra a partir desse viés é apenas alavanca de timming, todos os problemas dos demais personagens servem somente para estimular alguma interferência sarcástica de comicidade exacerbada dos comissários.

O grande problema da condição estabelecida por Almodóvar é que, ao tentar ser despretensioso e leve, a produção acaba se tornando vazia e limitada, ao passo que uma única temática, no caso a do universo gay, não sustenta por tanto tempo a “graça” de um filme de comédia, com isso, os sorrisos nos rostos dos expectadores ficam cada vez mais escassos a medida que o filme vai caminhando. Ou seja, ele falha ao não se levar a sério.

capaOs amantes passageiros (Los amantes pasajeros)

 Ano: 2013

Diretor: Pedro Almodóvar.

Roterista: Pedro Almodóvar.

Elenco principal: Antonio Banderas, Penélope Cruz, Cecília Roth, Lola Dueñas, Javier Cámara, Raul Arévalo, Carlos Aceres, Hugo Silva, Antonio de La Torre.

Gênero: Comédia

Nacionalidade:  Espanha

 

 

 

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