Por Dario PR.

O 41° Festival de Cinema de Gramado começou ontem debaixo de muita chuva, vento gelado, e uma sensação térmica de 2°C. Mas quem é apaixonado pelo Festival – como eu – espanta a friaca com as batidas do coração…

O frio foi tanto que a tradicional Cerimônia de Abertura prevista para às 17h na Rua Coberta, com apresentação da Orquestra Sinfônica de Gramado, teve que ser cancelada. A abertura acabou acontecendo mesmo no interior do Palácio dos Festivais, a partir das 19h, e teve uma situação que seria cômica se não tivesse sido tão “inusitada”. O Sr. Jaime Borin (representante da Oi – uma das patrocinadoras do evento) padeceu de uma queda súbita de pressão arterial e desmaiou no púlpito quando proferia a segunda frase de seu discurso. Retirado às pressas do palco, a Cerimônia seguiu com as falas do prefeito, da secretária de turismo e demais autoridades presentes. O músico Carlos Badia e sua banda apresentaram uma composição instrumental inédita que é a nova trilha do Festival.

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O ponto alto da noite foi a homenagem à atriz Glória Pires, que recebeu o Troféu Oscarito (destinado a grandes intérpretes do Cinema Brasileiro). A entrega foi feita por Luiz Carlos Barreto e Lucy Barreto, que foram “os pais de sua carreira no cinema”, lembrou Glória, sem esquecer de agradecer a curadoria do evento pela escolha, e aos cineastas que a dirigiram no cinema, desde o primeiro Fábio Barreto (Índia – A Filha do Sol, O Quatrilho, Lula – O Filho do Brasil), o mais frequente Daniel Filho (A Partilha, Primo Basílio, Se Eu Fosse Você 1 e 2), passando por Nelson Pereira dos Santos (Memória do Cárcere), Francisco Ramalho Jr. (Besame Mucho), Paulo Thiago (Jorge – Um Brasileiro), Sandra Werneck (Pequeno Dicionário Amoroso), Norma Bengell (O Guarani), Anna Muylaert (É Proibido Fumar), até o atual Bruno Barreto, que a dirigiu em Flores Raras e estava presente à cerimônia. Emocionada e muito feliz, Glória terminou sua fala dedicando o prêmio a memória de seu pai, o ator Antonio Carlos Pires, mais conhecido do grande público pelo personagem Joselino Barbacena da Escolinha do Professor Raimundo.

A noite ainda teve a apresentação do filme de abertura Flores Raras, de Bruno Barreto, produzido por sua mãe (Lucy Barreto) e sua irmã (Paula Barreto). Lucy, linda no auge dos seus 80 anos, proferiu o discurso, a meu ver, mais emocionante da noite, ao contar como foi a gestação do projeto do filme. Disse que tudo começou em 1995 quando a autora Carmem Lucia de Oliveira lhe presenteou com seu livro ‘Flores Raras e Banalíssimas’. Assim que acabou a leitura ela decidiu que faria o filme. “Foram 18 anos para chegar até aqui. É um sonho realizado. Por isso, digo a vocês: guardem seus sonhos e avancem. Eles nos enriquecem e nos mudam, sempre para melhor”.

A exibição de Flores Raras aconteceu em sessão especial, fora da mostra competitiva. O filme entra em circuito comercial na próxima semana. Glória pediu ao público presente no Palácio dos Festivais que “postem, curtam e compartilhem”, para que o filme seja um sucesso nas salas do país. Glória, que faz 50 anos no próximo dia 23, ainda aparece este ano no Cinema Brasileiro com a cinebiografia Nise da Silveira: Senhora das Imagens, de Roberto Berliner. E está no projeto de Se Eu Fosse Você 3, em fase de pré-produção.

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Os metres de cerimônia do Festival continuam sendo os competentíssimos Leonardo Machado e Renata Boldrini. Os curadores Rubens Ewald Filho e Marco Santuário receberam com muito carinho imprensa e convidados, marcando bela presença na Abertura. José Wilker ainda não apareceu. Outra ausência sentida foi a da atriz Miranda Otto, que essa semana iluminou as pré-estreias do filme no Rio e São Paulo, mas não veio a Gramado.

O Festival de Gramado continua sendo um luxo. Tradição é tradição, não tem jeito. O encontro com os colegas é tudo de bom, e o abraço caloroso dos amigos aquece qualquer friaca. O Festival segue pelos próximos oito dias. A previsão é de muito frio. Mas como toda moeda tem dois lados, se o turismo local fica prejudicado pelas baixas temperaturas, o frio garante uma grande adesão do público às sessões aquecidas no Palácio dos Festivais. Corre um zum-zum que essa semana vai nevar na Serra Gaúcha. Tomara !!

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