Por Wallacy Silva
Uma coisa importante em um filme, para interação com o público, é que o último se identifique com o protagonista, mesmo que inconscientemente. Mas Um Método Perigoso cria um abismo entre a obra e o espectador, que fica com a sensação que pode apenas observar, sem a chance de interagir com o filme ou preencher qualquer lacuna deixada por ele, muito menos se identificar com algum dos personagens. Nem mesmo na esfera amorosa conseguimos nos ver, já que a confusão de Carl Jung (Fassbender) é enorme. O fato é que o longa apresenta um triângulo amoroso (que está mais pra científico) muito diferente dos tradicionais.
O início impressiona com a histeria de Sabina (Knightley), paciente escolhida por Jung para a aplicação do método de psicanálise freudiano. Até então, Jung apenas lia os textos de Freud (Mortensen), mas logo foi a Viena conhecê-lo. A partir de suas conversas, Jung percebe que não se identifica tanto assim com Freud, principalmente pelo fato de suas análises convergirem quase em sua totalidade para a esfera sexual, enquanto Jung passa a apresentar uma forte veia espiritual.
O filme peca por se utilizar em demasia do recurso da narração através das cartas trocadas pelos psicanalistas e por se basear somente nos diálogos, talvez uma herança do texto original, teatral, e se esquecer dos recursos visuais e sonoros. Eventos importantes acabam passando batidos como a transformação de Sabina, que vai de paciente a psicanalista num piscar de olhos, ou como a ida de Jung para a guerra, que parece não ter causado efeito algum no personagem.
Sem foco na psicanálise, nem na questão sexual, nem na história dos famosos personagens, nem em um romance, o filme se perde. A insegurança de Jung realmente incomoda, dividido entre a mulher e a amante, a pulsão sexual e a ética da relação paciente-médico, o desejo e a questão moral, o método freudiano e suas próprias teorias… teria ele deixado de encontrar Sabina pela questão moral ou porque a agora psicanalista tende mais para as teorias de Freud do que por suas próprias? Aparece ainda Otto Gross (Cassel), uma espécie de “diabinho” apitando no ouvido de Jung, com suas ideias anarquistas, de não privação dos desejos e sua concepção de sexo como libertação. Pouco dinâmico e com uma série de pequenas falhas, o filme configura-se uma salada temática que nem Freud seria capaz de explicar.
Um método perigoso (A Dangerous Method)
Ano: 2011
Diretor: David Cronenberg
Roteiro: Christopher Hampton, baseado na peça “The Talking Cure”.
Elenco Principal: Viggo Mortensen, Keira Knightley, Michael Fassbender.
Gênero: Drama.
Nacionalidade: Canadá/Reino Unido/Alemanha.
Veja o trailer:
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