Por Diêgo Araújo
Premiado na Semana da Crítica do Festival de Cannes 2014, A Gangue (Plemya, 2014) conta a história de Sergey (Grigoriy Fesenko), um jovem que ingressa em uma escola especializada no tratamento de portadores de deficiência auditiva. Logo o rapaz, tímido e reservado, é influenciado a entrar em uma gangue que comete os mais variados delitos, desde o furto de pequenos objetos até o incentivo à prática de prostituição infantil e assaltos violentos.
A trama possui um início incomum, um desenrolar inovador e um final capaz de impressionar até os cinéfilos mais resistentes. Os segundos iniciais já são marcados por uma grande surpresa: o filme, durante os seus 132 minutos, foi totalmente gravado em língua de sinais e não existe tradução, narração ou legendas disponíveis.
Um aspecto a ser destacado é a construção extremamente sólida do longa. Ainda que os personagens em muitos momentos dialoguem utilizando a língua de sinais, é possível compreender com exatidão e clareza a suas intenções. Passada a surpresa inicial, a sensação é de que toda a produção foi desenvolvida por meio de falas diretas, tamanha é a sua capacidade de transmitir aos espectadores os sentimentos e emoções dos personagens.
A direção segura do ucraniano Myroslav Slaboshpytskiy torna a trama mais ambiciosa a cada instante e o enredo, que tinha tudo para permanecer no lugar comum, apresenta uma crescente evolução aliada às cenas inquietantes e envolventes. Esse é o tipo de filme que nos deixa constantemente alertas e esperando o próximo ato, que por sinal, é sempre imprevisível.
Mais do que uma produção como tantas outras que abordam problemas ligados à adolescência, A Gangue destaca-se por nos entregar uma narrativa única e eficaz, apresentando a fragilidade dos jovens frente à pressão psicológica e emocional e evidenciando o descontrole gradativo dos seus atos, que conduzem o longa a um desfecho perturbador que será lembrado por muito tempo por quem assiste. Decididamente indispensável para os fãs da sétima arte que desejam vivenciar uma experiência inovadora e inesperada. Sim, o cinema ainda pode nos surpreender e reinventar até mesmo os clichês!
*Crítica publicada originalmente como parte da cobertura da 7° edição do Festival Janela Internacional de Cinema de Recife.
Ano: 2014
Diretor: Myroslav Slaboshpytskiy
Roteiro: Myroslav Slaboshpytskiy
Elenco Principal: Grigoriy Fesenko, Yana Novikova, Rosa Babiy, Alexander Dsiadevich.
Gênero: crime, drama
Nacionalidade: Ucrânia, Holanda
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