Por Luciana Ramos
Vez ou outra, aparece um filme sobre os bastidores da indústria do entretenimento. Transitam em exaltarem o apelo da fama e exporem um jogo sujo de interesses, com atores narcisistas e produtores desonestos como participantes. Esta lista reúne alguns dos longas que ajudaram a tecer essas concepções sobre Hollywood.
Assim estava escrito (1952)
Jonathan Shields (Kirk Douglas) é um produtor hollywoodiano que tem um projeto para um novo longa, mas só o levará adiante caso três pessoas concordem em fazê-lo: o diretor Fred Amiel (Barry Sullivan), a estrela de cinema Georgia Lorrison (Lana Turner) e o escritor e roteirista James Lee Bartlow (Dick Powell). Só existe um porém: eles o odeiam com todas as forças. Em conversa com o seu ex-chefe e atual assistente, Harry Pebbel (Walter Pidgeon), cada um deles reconta a história que viveu com o produtor e, entre momentos alegres e mágoas profundas, revelam os bastidores de grandes filmes da produtora.
O filme de Vincent Minelli discute a figura do produtor mau caráter, aquele que faz de tudo para entregar ao público um bom filme. No caminho, manipula pessoas, destrói amizades e demite diretores ao seu bel-prazer. É interessante por questionar a validade de tal personagem na construção de grandes obras do cinema.
Nasce uma estrela (1954)
Pode-se dizer que esta é uma das histórias favoritas de Hollywood, já ganhou três adaptações para o cinema: a de 1937, dirigida por William A. Wellman e produzida por David O. Selznick; a de 1954, de George Cukor, com Judy Garland no elenco; e a de 1976, que virou um veículo para Barbra Streisand nas mãos de Frank Pierson. Muito se falou sobre uma versão mais atual do musical, feita por Clint Eastwood e com Beyoncé no papel principal, mas vários problemas de produção, incluindo a desistência da cantora/atriz, atrasaram a produção. Escolhi para esta lista a versão de 1954, que considero a melhor.
Nasce uma Estrela debate sobre a crueldade do show business, a ascensão à fama e o seu declínio. Esther Blodgett (Judy Garland) sonha em ser reconhecida, mas passa a vida cantando em bares, onde ninguém a nota. Um dia, porém, conhece o astro de Hollywood Norman Maine (James Mason), por quem se apaixona. Ele a faz adotar o nome Vicky Lester e a transforma em uma grande atriz, mas vê a sua carreira decaindo sensivelmente. Para se livrar da dor do ostracismo, apela mais uma vez ao álcool, o que abala a carreira da sua esposa.
O longa foi inovador na sua época, pela escolha do seu diretor em conduzir a trama por mais de dez minutos apenas pela sucessão de fotos still combinadas à narração em off. Trouxe Judy Garland de volta às telonas depois de um momento difícil em sua carreira, e explorou o seu multifacetado talento de atriz, cantora e dançarina. Um ótimo divertimento.
O Jogador (1992)
Um arrogante executivo de Hollywood tem sua carreira abalada após uma série de fracassos. Enquanto tenta de modos escusos recuperar o seu prestígio, começa a receber ameaças anônimas no seu escritório. Tenta então desvendar qual dos milhares de roteiristas que rejeitou ao longo dos anos é o seu chantageador.
No começo dos anos 1990, o consagrado diretor Robert Altman não conseguia emplacar nenhum sucesso. Desapontado como todo o esquema de bajulação de Hollywood, decidiu expor toda a idiotice que ronda os bastidores em uma obra que combina drama, suspense e ironia cômica. As conversas sobre filmes, por exemplo, são estúpidas e incluem uma sequência de A primeira noite de um homem, onde Mrs. Robinson é uma idosa que acaba de ter um derrame. Fora a genialidade da trama, possui uma das melhores de abertura do cinema: um plano-sequência de 8 minutos que apresenta e contextualiza os personagens principais.
Cantando na Chuva (1952)
Don Lockwood (Gene Kelly) é convocado pelo estúdio para um projeto inovador: a realização de um filme completamente sonoro. Ele deve atuar com sua parceira de cena, a insuportável Lina Lamont (Jean Hagen). Porém, um grande problema põe em risco o sucesso do longa: a voz estridente de Lina. Lockwood então concebe um esquema e contrata a adorável Kathy Selden (Debbie Reynolds) , que passa os dias fazendo bicos como cantora. Eles se apaixonam e o ator se compromete então a salvá-la do contrato para lançá-la como estrela.
Com muito humor e boas músicas, retrata um momento importante da história do cinema: o advento do som. Sequências muito divertidas exploram os problemas enfrentados em captação de som, como a passagem em que a equipe decide esconder um gigantesco microfone em um vaso de plantas. Contém também uma das cenas mais lembradas do cinema, com Gene Kelly cantando e dançando de felicidade debaixo de chuva, com um guarda-chuva pretos nas mãos.
O Artista (2011)
Michel Hazanavicious bebeu um pouco da fonte dos filmes descritos anteriormente para conceber o seu longa. É passado entre 1927 e 1932, decisivos anos de transição em Hollywood e retrata o declínio do astro de George Valentin (Jean Dujardin). Quando a fala invade as telas e ele entra em ostracismo, como muitos da sua época. Ao mesmo tempo, o seu par romântico, Peppy Miller (Bérénice Bejo) ascende como a nova face do estúdio, ganhando reconhecimento, dinheiro e fama.
Uma ode ao cinema, que trocou os diálogos pela intepretação corporal dos atores e encantou audiências pela sua delicadeza. A fotografia belíssima e excelentes atuações contribuíram para fazer deste o grande vencedor do Oscar de 2012.
Leia a crítica AQUI.
Filme além dos clichês…
Crepúsculo dos Deuses (1950)
Considerado pela crítica o “melhor filme sobre Hollywood”, mostra todo o narcisismo, egocentrismo e sordidez que assola os bastidores de uma cidade que vive em função do negócio multimilionário do cinema.
O fracassado roteirista Joe Gillis (William Holden) conhece por acaso a decadente atriz Norma Desmond (Gloria Swanson). Para fugir das suas dívidas, decide viver em sua casa e promete revisar o seu roteiro de “Salomé” em troca. Ele a odeia, mas flerta com ela por interesses. Durante esse período, conhece Betty Schaefer (Nancy Olson) e começa a vislumbrar um futuro diferente para si, mas Norma não o deixa sair da sua vida facilmente.
Wilder acertou em cheio ao usar pessoas do sistema para criticá-lo. Gloria Swanson era de fato uma grande atriz do cinema mudo que perdeu seu posto com o advento dos filmes sonoros por não gostarem da sua voz. Algo semelhante aconteceu com Erich von Stroheim, diretor conhecido por sua arrogância que entrou em declínio e foi resgatado por Wilder para atuar como o mordomo que um dia também já foi diretor. Outros nomes como Buster Keaton e Cecil B. De Mille fazem participações no longa.
Uma sucessão de cenas excelentes, recheadas com alguns dos melhores e mais afiados diálogos do cinema culminam em um final excepcional, onde conclui toda a sua tese sobre o funcionamento da indústria do entretenimento.