No meu último texto falei um pouco sobre feminismo em Bollywood e continuarei no assunto, mas o filme de hoje é uma grande vitória para a causa.

O filme Queen estreou em 2014, e foi só sucesso: de crítica, de público e de bilheteria, custando apenas três milhões de dólares, e arrecadando 20 milhões. Conta a história de Rani (que significa rainha, assim como o título), interpretada por Kangana Ranaut, que foi abandonada pelo noivo Vijay (Rajkummar Rao) dois dias antes do casamento.

Por vir de uma família tradicional do Punjab, Rani ficou arrasada por não casar e “não cumprir seu papel como esposa”, como a mãe. Porém, após alguns dias, ela resolve que vai fazer a viagem de lua de mel, sozinha mesmo, para conhecer outros lugares e pessoas, e parte para Paris e Amsterdam.

Em Paris, Rani, que é muito tímida (podemos defini-la como bela, recatada e do lar), conhece Vijay (Lisa Haydon), uma moça independente, mãe solteira, que é o oposto dela. Além do nome em comum com o ex-noivo, Vijayalakshmi não tem mais nada a ver com ele, e traz para Rani uma nova visão de vida, de que as mulheres podem ser o que elas quiserem.

Em Amsterdam, ela fica hospedada em um hostel, no mesmo quarto que outros três homens. O conflito é grande no começo, porém ela fica amiga dos rapazes e conhece a cidade inteira com eles, mostrando à ela que homens e mulheres podem ser apenas amigos.

Do ponto de vista técnico, o filme não inova em nenhum aspecto, mas também não deixa a desejar por isso. Vikas Bahl dirige o filme com perfeição, planos abertos e médios nas cenas em que Rani está tendo novas experiências, e meio primeiro plano e plano americano quando as cenas são focadas nos sentimentos dela. E aqui entra um grande mérito de Kangana! Somente pelas suas expressões faciais conseguimos saber direitinho o que ela está pensando.

Queen até nos lembra uma época do cinema hindi, lá pelos anos 80/90, em que a maioria dos masala movies* tinham cenas gravadas no exterior. Porém nesses filmes as cenas eram patrocinadas pelos países, para promover o turismo, e muitas vezes nem tinham a ver com a história, diferente do que acontece nesse.

O filme foi feito quase que de maneira independente pelo diretor e o produtor, Anurag Kashyap. Por conta do baixo orçamento, várias cenas foram gravadas em locais comuns e não sets de filmagens em estúdios. Alie a isso a independência que foi dada a Ranaut de criar vários de seus próprios diálogos e improvisar algumas cenas, e temos um filme que parece natural, parece que você sentou num banco de praça e está acompanhado a vida de uma passante.

Queen foi indicado a vários prêmios, e levou os de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz no Filmfare Awards.

Pink foi uma grande decepção (embora ele ainda fale do tema), mas Queen é aquela faisquinha que acende na brasa da churrasqueira (talvez churrasco não seja a melhor comparação quando a gente fala de Índia haha). Os dois filmes estão disponíveis no Netflix, e se for assistir aos dois, assista nessa ordem, deixe Queen para o final, para terminar o dia com muita alegria por ver essa mulher se descobrindo!