Por Fernanda Talarico
O Dia do Orgasmo é comemorado no dia 31 de julho desde 1999. Algumas sex shops, na Inglaterra, promoveram debates sobre as dificuldades de algumas pessoas – principalmente mulheres – conseguirem chegarem “lá”. Não é simples e depende de diversos de fatores.
Passamos pelo mesmo sentimento no mundo do cinema: assistimos a centenas de filmes, mas são poucos os que realmente nos dão prazer ao assistirmos e chegamos a ter o Orgasmo Cinematográfico. Sabe quando descobrimos um filme tão bom que entramos em estado de êxtase; pensamos nele por dias, o enredo não sai da nossa cabeça, nos apaixonamos pelos personagens e a vida faz mais sentido pela existência daquela obra? Então, é uma experiência que muda sua vida e você não esquece tão cedo.
Infelizmente não serão todas as pessoas que poderão aproveitar o dia do orgasmo literalmente, mas isso não é um problema! Separamos uma lista de filmes que te ajudarão a celebrar esse dia cinematograficamente e, assim como na vida real, existem vários tipos e jeitos de se chegar “ao ponto máximo de aproveitamento”.
Orgasmo Surpresa
A Chegada (2016)
Direção: Denis Villeneuve
Sinopse: Seres interplanetários estão deixando marcas nas Terra e a Dra. Louise Banks (Amy Adams), uma famosa linguista, é chamada para entender e conseguir se comunicar com os visitantes de outro planeta.
Por quê?
Pontos de virada (plot twists) são queridinhos do público e isso não se discute. O público fica em êxtase quando as peças se encaixam e tudo faz sentido. Poderíamos dizer que o grande filme onde sua mente explode e sua alma transcende seria O Sexto Sentido, mas neste caso o “spoiler” já está incorporado à cultura cinematográfica das pessoas e o prazer do desconhecido não existe mais. A Chegada, como é relativamente novo, ainda mantém sua grande revelação em segredo.
Assim como no clássico de Shyamalan, você percebe que tem algo de errado na narrativa, mas não consegue identificar o que é. Você acompanha a história, sem perceber que o filme é muito mais do que humanos tentando se comunicar com extra-terrestres.
Esse Orgasmo Surpresa é daqueles que você não percebe que está chegando e não espera por ele. Quando chega, demora um pouco para cair a ficha, mas faz todo o sentido e te traz um sentimento de euforia e deixa um gostinho de “quero de novo”, porém, dessa vez, com você preparado para o que irá vir, então vai aproveitar cada segundo dele.
Orgasmo em Grupo
Corra! (2017)
Direção: Jordan Peele
Sinopse: Chris (Daniel Kaluuya) é um jovem negro que irá conhecer a família de sua namorada branca, Rose (Alllison Williams). Todos são super afetuosos, até que Chris começa a desconfiar que, por trás de toda a bondade, há alguma coisa muito estranha acontecendo.
Por quê?
Corra! é um daqueles filmes que você começa a assistir e já consegue imaginar o rumo que o roteiro vai ter. Afinal, você já assistiu ao trailer e conhece como normalmente é construída a narrativa de suspense. Até aí, nada de anormal.
O que acontece é que você começa a torcer pelo Chris mais do que normalmente se torce por um personagem. Você começa a sentir uma sede de justiça, não só pelos personagens apresentados, mas por todos os que já sofreram racismo. Lá pelo meio do filme, o desespero começa a bater e estar assistindo em uma sala de cinema pode te proporcionar uma experiência muito mais legal do que estar sozinho
O Orgasmo Coletivo acontece como uma catarse: ao final, ninguém mais está respirando normalmente. Você vê as pessoas nervosas, apertando a cadeira, roendo as unhas ou xingando de aflição. Ao final da trama, todos reagem juntos: são gritos, palavrões e batimentos cardíacos que voltam ao normal (não vou dizer se é para o bem ou para o mal, para não estragar o momento de cada um). Acontece aquele fenômeno o qual todos começam a rir, se abraçar e você sai com a certeza de que nem você e nem nenhuma das pessoas irão esquecer do que acabaram de compartilhar.
Orgasmo Clássico
Casablanca (1942)
Direção: Michael Curtis
Sinopse: Durante a Segunda Grande Guerra, Casablanca (Marrocos) se tornou parte da rota dos que fugiam do Nazismo. Rick Blaine (Humphrey Bogart) é um exilado norte-americano que encontrou refúgio na cidade e comanda um dos bares mais famosos do local. De modo clandestino, ele ajuda refugiados a conseguirem fugir e, para isso, mantém uma relação próxima do Capitão Renautl (Claude Rains). Tudo muda quando uma antiga paixão, Ilsa (Ingrid Bergman) reaparece em sua vida para pedir ajuda.
Por quê?
Casablanca é sinônimo de cinema clássico e isso significa usar todas as “regras” de Hollywood para um bom filme. O roteiro não tem muitas complicações, o diretor usa muito plano e contra-plano, os diálogos são claros e esclarecedores, a apresentação dos personagens é feita de maneira simples, enfim, ele é todo certinho. Mas, neste caso, o fato de ser uma obra redonda em termos de cinema clássico hollywoodiano, não o deixa piegas ou mais do mesmo. O filme é lindo, com um final bonito, uma história cativante e cenários muito bem feitos, e faz você gostar de tudo, mesmo sabendo o que vai acontecer.
O Orgasmo Clássico é isso: não tem novidades, você sabe como ele vai acontecer e todos seus nuances, mas mesmo assim você gosta e não dispensa. O roteiro e o sentimento são os mesmos, mas você ama e sai em estado de êxtase da mesma maneira.
Orgasmo Dramático
Os Miseráveis (2012)
Direção: Tom Hooper
Sinopse: O filme é uma adaptação do musical da Broadway que, por sua vez, é uma adaptação da obra clássica de Victor Hugo. A história se passa durante a Revolução Francesa, no século XIX. Jean Valjean (Hugh Jackman) fica preso por anos por ter roubado apenas um pão. Quando ele finalmente é solto, tenta se redimir e ser uma pessoa boa. Uma de seus atos de bondade é prometer a Fantine (Anne Hathaway) que irá salvar sua filha Cosette (Amanda Seyfried) .
Por quê?
Esse musical é muito dramático. A história é triste e existe a grande possibilidade de você chorar com começo ao final do filme. Não é uma obra que você consegue rever todos os dias e simplesmente ficar feliz e aproveitar a vida. Mas, mesmo assim, as músicas grudam na sua cabeça, você pensa nos personagens e em suas histórias por muito tempo. É um turbilhão de sentimentos pós-filme. Sem esquecer de um ponto importante: ele é inteiro cantado.
Não tem como dizer que é um filme ruim, porque não é. Os cenários, figurinos, músicas e atuações são muito bem feitas e, talvez por isso ele seja tão bonito e dramático. As mortes não são simples, elas são dramáticas com músicas sobre as pessoas que morreram, músicas sobre as pessoas que quase morreram, músicas sobre as pessoas que ficaram vivas mas conheciam as pessoas que morreram…
O Orgasmo Dramático cinematográfico acontece mesmo com você cansado, seja pela cantoria ou pelo sofrimento dos personagens, mas que você não quer largar porque é bom e vai ser um espetáculo. O problema é que chegar lá é complicado e envolve um grande controle interno para não desistir no meio. Você vai se lembrar dele por muito tempo, porque tudo foi difícil, lindo e valeu muito a pena.
Orgasmo Cômico
Harry e Sally – Feitos um para o outro (1989)
Diretor: Rob Reiner
Sinopse: No fim de sua formatura na Universidade de Chicago, Harry Burns (Billy Crystal) dá a Sally Albright (Meg Ryan), formanda amiga de sua namorada, uma carona até Nova York. Os anos passam e eles continuam a se encontrar esporadicamente, mas a grande amizade que desenvolveram é abalada ao perceberem que na verdade estão apaixonados um pelo outro.
Por quê?
Harry e Sally é aquela comédia que não tem como não gostar e, em algum momento, você vai rir e muito. Você pode assisti-lo sozinho ou acompanhado, vai continuar sendo uma ótima experiência.
Não tem nenhum momento tenso, que te faça achar que não vai dar certo e que tudo irá desandar. Ao contrário: você apenas aproveita, ri, gosta dos personagens e, quando chega ao final, você está feliz. Talvez ele não fique muito na sua memória, mas quando você lembrar de Harry e Sally, vai surgir aquele sorrisinho de canto.
A cena em que Sally finge um orgasmo em pleno restaurante é uma das melhores coisas já feitas na história do cinema. Muita gente vai se identificar.
O Orgasmo Cômico cinematográfico te faz feliz, dar risada, com aproveitamento 100% de cada minuto e, quando acaba, está tudo bem. Foi divertido enquanto durou.
Orgasmo Real
Festa de Família (1998)
Diretor: Thomas Vinterberg
Sinopse: O Patriarca de família dinamarquesa (Henning Moritzen) comemora seus 60 anos em grande estilo, reunindo a família em um hotel de luxo. Mas nenhuma família é perfeita e todo o clima de festa vai embora quando as verdade começam a aparecer.
Por quê?
Esse filme faz parte do Dogma 95, uma tentativa de cineastas dinamarqueses para resgatar o cinema feito antes da “exploração industrial” (aka Hollywood). Eles não podem seguir um gênero específico, não fazem deslocamentos temporais, não usam truques fotográficos ou filtros, entre outras várias restrições. E os temas são sempre aqueles complicados, que você joga para debaixo do pano e não quer falar sobre eles.
O que Festa de Família faz é um belo de um orgasmo real cinematográfico. O roteiro é bem feito, a câmera na mão faz com que o filme tenha um ar de documentário, as atuações são ótimas, atores convincentes…. Tudo isso para você perceber o quão real é tudo que você está assistindo, mas feito de uma maneira que te faz esquecer do quão “cru” ele é.
O Orgasmo Real é aquele sem enfeite ou confete. Ele é bom, ele tá lá, você conhece. Às vezes ele não é perfeito, mas até aí, a vida é assim, não é? O filme mostra a realidade de uma família burguesa que pode muito bem ser a de qualquer um de nós, o que nos faz lembrar dele, reconhecer sua grandeza e sua importância no cinema (e na vida) mas esse daqui é, com certeza, sem lubrificante.
Orgasmo Eterno
Franquia 007 (1962 – Para Sempre)
Diretor: Muitos!
Sinopse: James Bond é o famoso agente com licença para matar que sempre tem que salvar o mundo das ameaças do grupo terrorista S.P.E.C.T.R.E e seus derivados.
Por quê?
Sean Connery. Acho que isso explica tudo.
Brincadeiras à parte, a franquia 007 é a maior da história do cinema até hoje, com 24 filmes lançados até agora. O agente já foi interpretado por 6 atores diferentes: Sean Connery, George Lazenby, Roger Moore, Timothy Dalton, Pierce Brosnan e Daniel Craig. Todos eles mudaram um pouco a personalidade do James Bond mas sempre mantiveram as características iniciais de defensor do mundo ocidental, mulherengo, charmoso e sempre pronto para qualquer missão.
007 tem alguns itens que são certeza que vamos encontrar em todos os filmes: a tradicional entrada com o tiro, algum carro incrível (Aston Martin), Dry Martini (batido, não mexido), e mulheres, muitas mulheres.
O Orgasmo Eterno (assim como os diamantes) acontece porque temos a certeza de que ele sempre vai aparecer, não importa o quanto demore: ele volta, com quase todas as características de sempre. Podemos até dizer que estamos cansados e não aguentamos a mesma fórmula de sempre. Mas, no fim, nos rendemos, aproveitamos e queremos mais.
Orgasmo Que Nunca Chega
Twin Peaks ( 1990-1991 e 2017)
Diretor: David Lynch
Sinopse: Twin Peaks é uma série de TV. É a única certeza que eu consigo te dar sobre ela. Inicialmente, o enredo girava em torno do assassinato de Laura Palmer mas, depois…
Por quê?
Twin Peaks é a uma das séries mais influentes da história da televisão mundial. O assassinato de Laura Palmer pautou muitas conversas por muito tempo. Seu modo de filmagem, personagens bem construídos e mistérios são usados até hoje nos seriados.
Mas, infelizmente (ou não), Twin Peaks é aquele orgasmo que nunca chega. A série é incrível e você fica viciado, precisando de respostas. Mas elas nunca vem. O telespectador está sempre a espera de uma explicação, da volta de personagens… E nada. É um desespero fora do comum.
Você ama Twin Peaks, muito. Você quer que ela nunca acabe. MAS ELA NÃO TE DÁ O QUE VOCÊ QUER. Ela faz você ficar maluco, sem saber onde você está ou o que está acontecendo, mas você não larga.
Esse Orgasmo Que Não Chega Nunca não é apenas sobre não se ter respostas na hora, o sofrimento é muito maior. Logo no final da segunda temporada, no ápice do sentimento de “aaaah que negócio bom”, o episódio acaba e, junto com ele, vem um hiato de vinte e cinco anos.
A série acabou em 1991 e voltou só em 2017 (amém!). Continuamos sem respostas, sem entender nada, sem personagens que amamos, mas não abandonamos esse orgasmo que gostamos tanto.
Orgasmo Visual
O Grande Hotel Budapeste (2014)
Diretor: Wes Anderson
Sinopse: Na década de 1930, o gerente de um famoso hotel europeu torna-se muito amigo de um jovem companheiro de trabalho. Os dois acabam se envolvendo no roubo de um famoso quadro de valor inestimável e na batalha por uma fortuna de família.
Por quê?
Assim como todo filme do Wes Anderson, O Grande Hotel Budapeste é visualmente lindo. A paleta de cores, as escolhas de cenário, a simetria, tudo é escolhido para ser perfeito e manter a assinatura do diretor.
O sentimento de encantamento pelo o que assistimos é quase que instantâneo e às vezes até deixamos de lado o resto que compõe a obra. Roteiro e atores, ficam em segundo plano, pois, nosso prazer está em admirar a obra de arte que está na tela.
Ter um Orgasmo Visual é você ter seu prazer, principalmente, em olhar. No caso de O Grande Hotel Budapeste, os outros componentes ajudam a termos uma melhor imersão e sentirmos aquela sensação maravilhosa, mas nada supera a beleza que aquele hotel rosa perfeitamente simétrico nos traz.
EXTRA: ORGASMO CINEMATOGRÁFICO
Quer ter a experiência da sua vida? Daquelas que vai ter marcar e você nunca mais vai esquecer? Quer sentir tudo que é bom e maravilhoso ao mesmo tempo, te levando ao êxtase supremo?
Assista a qualquer filme do Stanley Kubrick.
Tenho um ótimo Dia do Orgasmo e o comemore todos os dias da sua vida! 🙂