Por Breno Bringel
Um projeto que tinha tudo para ser um fracasso. Um épico sobre Fórmula 1. Um filme inovador. O grande filme da carreira de John Frankenheimer. Esse é Grand Prix, filme de 1966, que abalou as estruturas de Hollywood.
Com uma trama simples, de cunho ficcional, e, em certos pontos, exageradamente melodramática, seguindo os altos e baixos de quatro pilotos da Fórmula 1, seus casos amorosos e suas rivalidades e de seus construtores, tudo isso durante a temporada ocorrida no ano de 1966, esse marco do cinema tem como grande trunfo a genialidade de seu diretor em imprimir na tela toda o êxtase em acompanhar de perto um dos mais empolgantes esportes já existentes.
Frankenheimer que, até aquele momento só havia realizado filmes em preto e branco, ao se deparar com tal história, sentiu a necessidade de passar o maior realismo possível para a tela. Para isso, filmou em diversos e nunca utilizados ângulos, com telas divididas, cortes precisos e sempre recusando a ideia de filmar os carros andando devagar e posteriormente aumentar a velocidade das cenas rodadas, pois afirmava que o público perceberia o truque.
Soma-se a isso as várias tomadas com câmeras subjetivas, onde nos sentimos dentro dos carros, a utilização, como figurantes, de pilotos reais, e a exigência do diretor de que os próprios atores pilotassem seus carros, com excessão de Brian Bedford, que interpreta o piloto inglês Scott Stoddard, pois o ator não sabia dirigir, e temos verdadeiras corridas na tela, sobretudo a que inicia e a que encerra o filme.
Para conseguir tal proeza, inclusive, Frankenheimer teve que utilizar todas as câmeras Panavision 65mm que existiam no mercado, várias, inclusive, acopladas nos carros utilizados nas cenas, que, na realidade, eram veículos da Fórmula 3 que, por serem menos potentes, eram mais fáceis de se trabalhar.
Por conta disso, o filme, já em sua sequência de créditos iniciais, criada pelo lendário Saul Bass, nos apresenta imagens inovadoras para a época. Inovador, também, em sua fotografia, foi um dos últimos filmes idealizados e exibidos no formato Cinerama Super Panavision 70, onde três projetores, simultaneamente, projetavam três imagens em uma tela grande e curva em um ângulo de 146º.
Ademais, toda a parte técnica do filme merece aplausos, desde o design de som, com os roncos ensurdecedores dos carros, passando pela montagem rápida e precisa, que adiciona, sobretudo nas cenas de corridas, um ritmo ágil ao longa, até a inspirada trilha sonora do veterano Maurice Jarre.
O elenco, composto por estrelas internacionais da época, é outro trunfo da produção. Integram o filme, dentre outros atores, o excelente James Garner (em papel inicialmente oferecido a Steve McQueen); a oscarizada Eva Marie Saint; o japonês Toshirô Mifune, famoso ator dos filmes de Akira Kurosawa, que, posteriormente às filmagens, teve todas as suas falas em inglês dubladas por Paul Frees; o francês Yves Montand (O Pecado Mora ao Lado); e uma jovem e bela, porém pouco expressiva, Jessica Walter.
Com um orçamento de US$ 17 milhões e vários prêmios, inclusive três Oscar (Melhor Som, melhores Efeitos Sonoros e Melhor Montagem), além da indicação de Frankenheimer ao Directors Guild of America, Grand Prix entrou pra história do cinema como o filme definitivo sobre a Fórmula 1, posto até hoje ocupado.
VOCÊ NÃO SABIA QUE…
– O desenho do capacete usado por James Garner em Grand Prix é o mesmo usado, na época, pelo piloto Chris Amon. Já o desenho do capacete de Brian Bedford é o mesmo do piloto Jackie Stewart.
– A Ferrari inicialmente recusou o uso da marca no filme. Porém, quando Frankenheimer apresentou à empresa cerca de 30 minutos editados das filmagens da primeira corrida do longa, a montadora italiana mundou de ideia, dando seu aval ao filme, inclusive permitindo a realização de filmagens em suas fábricas, algo nunca acontecido.
– Os circuitos de corrida mostrados no filme são: Circuit de Monaco (Mônaco), Clermont-Ferrand (França), Circuit de Spa-Francorchamps (Bélgica), Circuit Park Zandvoort (Holanda), Brands Hatch (Reino Unido), e o Autodromo Nazionale Monza (Itália). O Nürburgring (Alemanha), Watkins Glen International (EUA), e o Autódromo Hermanos Rodríguez (México) são mencionados durante o filme, mas não foram usados nas filmagens.
Veja o trailer: